DESEMBOLSOS DO BNDES RECUAM 17% NO PRIMEIRO SEMESTRE

DANIELLE NOGUEIRA

19/07/2017

 

 

Banco estima liberar R$ 78 bilhões em 2017, abaixo do ano passado
 

Os desembolsos do BNDES voltaram a cair no primeiro semestre deste ano. Eles somaram R$ 33,5 bilhões, queda de 17% em relação aos seis primeiros meses do ano passado. O ritmo de queda, porém, vem reduzindo. Nos primeiros seis meses de 2016, o recuo fora de 42%, e, no segundo semestre do ano passado, o declínio havia sido de 28% na comparação com igual período.

O BNDES atribui a queda “ao quadro econômico de baixa demanda por crédito para investimentos nos últimos dois anos” e prevê desembolso de R$ 78 bilhões para 2017. Se alcançado, o valor ainda será inferior aos R$ 88,3 bilhões de 2016, que fora o mais baixo patamar desde 2007.

— Até o fim do ano ou início do ano que vem, o indicador de desembolso em 12 meses deve voltar a uma trajetória ascendente — disse Fabio Giambiagi, superintendente da área de Planejamento e Pesquisa. — Estamos confiantes na possibilidade de ter uma Selic (taxa básica de juros) entre 8% a 8,5% ao fim do ano e não descartamos (que a taxa fique) inferior a 8% ano que vem, se a dinâmica da inflação continuar como está. Há elementos de um otimismo cauteloso.

O superintendente afirmou, porém, que as delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que foram reveladas pelo GLOBO em 17 de maio, não tiveram impacto nos desembolsos, pois não houve tempo de afetar os números. Ele evitou comentar se as delações poderiam pesar no desempenho no futuro.

O setor de agropecuária foi o único com expansão de liberações de recursos. Foram R$ 6,9 bilhões entre janeiro e junho, alta de 3% sobre igual período de 2016. As liberações para infraestrutura caíram 6%, embora segmentos específicos tenham apresentado grande alta: telecomunicações (+ 475%) e energia elétrica (+42%). Comércio e serviços teve recuo de 13%, e indústria registrou queda de 42%. Com grande capacidade ociosa, a indústria lidera a baixa nos desembolsos há meses. Segundo Giambiagi, as liberações para o setor somaram R$ 25 bilhões em 12 meses, um retorno ao patamar de meados dos anos 90.

As consultas, primeira etapa do pedido de financiamento e que é um termômetro da disposição do empresariado para investir, recuaram 15%, considerando todos os setores. As aprovações, que antecedem os desembolsos, somaram R$ 32,2 bilhões, queda de 26% no semestre.

 

CARTÃO BNDES: MAIOR RECUO

A maior queda de desembolsos entre as operações automáticas — aquelas que são aprovadas sem passar pelo crivo direto do bancos — foi a do cartão BNDES, espécie de cartão de crédito voltado para os microempreendedores. O recuo foi de 58% no primeiro semestre, para R$ 7,8 bilhões.

Nessa modalidade, como nas demais operações indiretas, o risco de crédito fica com os bancos repassadores, embora os recursos sejam do BNDES. Outra característica é que ele não está vinculado a garantias, e o limite de crédito é estabelecido pelo banco repassador.

Como a inadimplência cresceu com a crise, explicou o superintendente de Operações Indiretas do BNDES, Marcelo Porteiro, os bancos reduziram a emissão de cartões, afetando os desembolsos do produto.

Segundo ele, para destravar o produto, o BNDES vai permitir que os bancos cobrem um spread (diferença entre o custo de captação do banco e o juro pelo qual empresta) maior, desde que cumpram metas de concessão de crédito a pequenas e médias empresas e de emissão de cartões. As metas serão diferentes por agente financeiro.

— O que o BNDES pode fazer é regular melhor a remuneração dos bancos, de modo que os bancos possam acomodar melhor o risco — disse Porteiro.

Ele comentou, ainda, que o BNDES está negociando com outras quatro plataformas de ecommerce “para trazer mais agilidade” ao uso do cartão. Hoje, o banco tem parceria com a B2W. Porteiro também informou que o Canal do Desenvolvedor MPME, lançado há três semanas para aproximar o banco de fomento às micro e pequenas empresas, teve seis mil solicitações de crédito.

O globo, n.30662 , 19/07/2017. ECONOMIA, p. 18