Presidente pede à equipe para ir ao ‘enfrentamento’

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Carla Araújo

29/05/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Durante reuniões no Palácio do Planalto, Temer orientou aliados a adotar ‘resistência’; peemedebista ajusta seu discurso para enfatizar indignação

O presidente Michel Temer orientou a equipe a “partir para o enfrentamento”, na tentativa de mostrar que não está acuado com as delações feitas pela JBS nem com o inquérito autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para investigá-lo.

Nas conversas de ontem em seu gabinete, no Palácio do Planalto, ele pediu “resistência” aos partidos da base, do PSDB ao PP, e cobrou apoio à agenda das reformas.

Temer chegou a ser aconselhado a renunciar por pelo menos dois assessores de sua extrema confiança e reagiu com nervosismo.

“Não sou homem de cair de joelhos. Caio de pé”, afirmou.

“Michel, você está passando pelo que eu passei. A diferença é que eu era senador e podia responder e você é presidente e não pode falar tudo o que pensa”, disse- lhe mais tarde o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Presidente do PMDB, Jucá deixou o Ministério do Planejamento em maio do ano passado, após 12 dias no cargo, quando vieram à tona gravações em que ele dizia ser preciso impedir a “sangria” da Lava Jato.

A portas fechadas, Temer usou termos como “conspiração” e “ação orquestrada” para se referir ao vazamento das delações de Joesley Batista e de ex-executivos da JBS. O governo responsabilizou a Procuradoria-Geral da República pela divulgação dos depoimentos. Irritado, Temer disse que toda vez que a economia dá sinais de recuperação aparece delação.

Temer telefonou cedo para a presidente do STF, Cármen Lúcia, avisando-lhe de que pediria acesso aos áudios – a conversa foi protocolar. Ao longo do dia, o presidente recebeu 14 dos 28 ministros e lamentou o destino do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). “Sem o PSDB o governo acaba”, disse um ministro ao Estado.

Discurso. Foi a equipe de comunicação que estipulou 16 horas como horário-limite do pronunciamento, diante das notícias de renúncia e do mercado agitado. “Não poderíamos deixar essa onda crescer”, disse Jucá.

O discurso passou pelo ministro- chefe da Secretaria-Geral, Moreira Franco, mas na última hora Temer fez retoques, reforçando o tom de indignação.

Questionado se haveria clima para aprovar mudanças na Previdência e na lei trabalhista, Jucá disse que o governo votará as “reformas possíveis”. Hoje, Temer terá encontro com o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e com os comandantes das Forças Armadas, que lhe prestarão apoio.

CRONOLOGIA

Hora a hora da crise política

17 de maio

19h30

Reunião de Michel Temer com ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é interrompida após divulgação pelo jornal O Globo do conteúdo da gravação com Joesley Batista, dono da JBS.

21h30

Depois de uma reunião com ministros mais próximos em seu gabinete, Temer divulga uma nota na qual confirma que esteve reunido Joesley Batista, mas nega que tenha atuado para comprar o silêncio de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

22 horas

Manifestantes em São Paulo e em Brasília vão às ruas para pedir a saída de Temer e a convocação de diretas.

23 horas

Temer deixa o Planalto por uma porta lateral.

Ontem

6h29

Polícia Federal cumpre mandados contra citados na delação de Joesley Batista, entre eles o senador Aécio Neves (PSDB-MG), sua irmã Andrea Neves, o senador Zezé Perrella (PMDB-MG) e o seu filho Gustavo Perrella.

8h15

Ministro Edson Fachin afasta Aécio do mandato, mas nega pedido de prisão.

8h50

A irmã do senador Aécio Neves, Andrea Neves, é presa pela PF na região metropolitana de Belo Horizonte.

9h57

O presidente Michel Temer desiste dos compromissos da agenda oficial e se reúne desde a manhã com alguns aliados para preparar pronunciamento.

10h10

A Bovespa e os mercados de câmbio e juros futuros travam após abrirem nos limites de oscilações permitidos após as notícias envolvendo Michel Temer.

12h35

Em conversa com integrantes da bancada do PSDB do Senado, Aécio Neves não nega ter procurado o dono da marca JBS para tentar levantar recursos.

14h05

Fachin autoriza abertura de inquérito contra Michel Temer a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

16h15

O presidente Michel Temer faz pronunciamento e diz que não vai renunciar ao cargo: “Não renunciarei, repito, não renunciarei”, diz, no Palácio do Planalto.

17h10

Edson Fachin, ministro relator da Operação Lava Jato no Supremo, decreta o fim do sigilo do conteúdo da delação dos executivos do grupo JBS.

18h30

As gravações que envolvem o presidente Michel Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) são divulgadas pelo STF, após autorização do ministro Edson Fachin.

 

O Estado de São Paulo, n. 45139, 19/05/2017. Política, p. A5