Ação em fazenda no Pará deixa 10 mortos
Carlos Mendes
25/05/2017
 
 
Policiais dizem ter sido recebidos a tiros quando tentavam cumprir 16 mandados de prisão; CPT vai investigar circunstâncias das mortes

Uma ação policial em uma fazenda no Pará deixou nove homens e uma mulher mortos na manhã de ontem. Segundo a Secretaria de Segurança Pública paraense, na operação, policiais militares e civis tentavam cumprir 16 mandados de prisão contra posseiros que invadiram a fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’Arco, a 860 quilômetros da capital, Belém.

A fazenda já foi alvo de outras duas invasões desde 2015. O comando da polícia afirmou que seus homens foram “recebidos a tiros” pelos posseiros, revidaram e houve uma “intensa troca de tiros”. Nenhum dos policiais sofreu qualquer ferimento. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado do Pará afirma que a ação foi uma chacina.

O grupo de posseiros, de acordo com as informações oficiais, vinha “aterrorizando” empregados da fazenda e, quinze dias atrás, matou um segurança da propriedade, além de ter ateado fogo à sede e a um curral. Os alvos dos mandados de prisão são suspeitos do crime.

Ainda segundo relato feito pelos próprios policiais envolvidos, os posseiros correram para a mata, onde se entrincheiraram, mas continuaram a disparar.

Os agentes da polícia teriam avançado até o esconderijo dos invasores e, ali, encontrado os dez mortos.

Os corpos foram transportados em caminhonetes da polícia ao necrotério do Hospital Municipal, em Redenção, cidade vizinha a Pau D’Arco. A polícia afirmou que o grupo de invasores da fazenda é liderado por Ronaldo Pereira, o “Lico”, e Antônio, o “Tonho”. A PM não soube informar se os dois citados estão entre os mortos.

Segundo informações da Polícia Civil, os corpos serão levados para exames no Instituto Medico Legal de Marabá. Uma equipe da Delegacia de Homicídios está a caminho para investigar o caso. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) também enviou representantes a Pau D’Arco para averiguar as circunstâncias das mortes.

Em seu site, a CPT fala em “reintegração de posse” e diz que o juiz não seguiu as diretrizes do Tribunal de Justiça do Estado. A polícia, por outro lado, fala apenas em mandados de prisão.

PARA LEMBRAR

Chacina e confronto

No dia 20 de abril, pelo menos cinco pessoas foram assassinadas em um conflito por terras em um assentamento no município de Colniza, a 1.065 km de Cuiabá. Na ocasião, um grupo encapuzado invadiu o local e teria assassinado adultos, idosos e crianças. A área fica em uma região de conflito agrário e abriga cerca de 100 famílias. A suspeita é de que os criminosos sejam capangas de fazendeiros da região. Dez dias depois (30 de abril), pelo menos 10 pessoas ficaram feridas num confronto entre índios Gamela e fazendeiros, no povoado Bahias, na cidade de Viana (MA), localizada a 220 km de São Luís. A região também é palco de conflito agrário

 

O Estado de São Paulo, n. 45145, 25/05/2017. Política, p. A13