Só cai com o substituto

Vera Magalhães

24/05/2017

 

 

O suporte que o PSDB, em consórcio com DEM e PSD, dá à permanência de Michel Temer na Presidência é precário. O partido e seus aliados fazem, nos bastidores, uma triagem para encontrar um nome de consenso capaz de assumir a Presidência caso o peemedebista se inviabilize. E, paralelamente a isso, costuram acordo para que o escolhido se comprometa com a manutenção das reformas e a permanência dos nomes-chave da equipe econômica. Essas premissas afastam, numa primeira análise, Henrique Meirelles como opção para o lugar de Temer.

Ele teria um papel importante para manter a confiança – interna e externamente – na capacidade de tocar adiante a pauta econômica mesmo em caso de queda do segundo presidente em um ano. Não é, portanto, um voto de confiança em Temer o que os principais partidos da base oferecem. Eles apenas observam as nuvens para saber se o peemedebista cai de maduro. Se isso acontecer, querem ter a saída pronta – e não começar a discutir a partir da queda consumada. No governo, a percepção de que o equilíbrio de Temer é mais frágil do que dão a entender os discursos faz com que toda a aposta recaia na resiliência do Congresso. Se Câmara e Senado avançarem com a pauta, ainda que a conta-gotas, aliados do presidente acreditam que ele pode lograr êxito em virar o jogo insistindo na tese de que foi vítima de “armação”.

A prisão de Tadeu Filippelli – mais um assessor presidencial metido em corrupção, ainda que não ligada a Temer – e a apreensão da mala de dinheiro de Rodrigo Rocha Loures são alguns fatores de incerteza na temerária estratégia temerista.

FORA, TEMER?

Jobim e FHC lideram a bolsa de apostas

Com Meirelles apontado como fiador das reformas e, portanto, peçachave na Fazenda, as apostas dos principais caciques que comandam as conversas em busca do possível sucessor de Temer se concentram em Fernando Henrique Cardoso e Nelson Jobim. Como FHC resiste a aceitar a empreitada, os tucanos tentam viabilizar Tasso Jereissati como opção, sem respaldo nos demais partidos.

FICA, TEMER?

Defesa de peemedebista estuda novos recursos contra delação

Além da integridade da gravação da conversa entre Temer e Joesley Batista, a defesa do presidente deve recorrer contra outros aspectos da delação do grupo JBS. A “escolha” de Edson Fachin como relator por parte de Rodrigo Janot, sem que haja ligação clara com a Lava Jato, de acordo com os advogados, deve ser um dos focos de recurso. O outro é de o advogado do grupo ser também delator, o que tiraria sua legitimidade para se contrapor ao Ministério Público.

PODE MUDAR

Equipe de Janot já admite que STF pode rever acordo da JBS

Na defensiva pelas críticas nos meios jurídicos, políticos e mesmo entre apoiadores da Lava Jato à benevolência da delação da JBS, procuradores do grupo de trabalho de Rodrigo Janot já dizem não ver problema caso o STF reveja cláusulas do acordo.

TAMO JUNTO

Doria e Alckmin se reaproximam e fazem dobradinha na crise

A crise nacional reaproximou João Doria e Geraldo Alckmin, que vinham se estranhando em razão da corrida para 2018. Prefeito e governador combinam cada declaração e voltaram a apostar na parceria administrativa, como na ação na Cracolândia.

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Rocha Loures entrega mala à PF com R$ 35 mil a menos 

Julia Affonso, Fausto Macedo e Fabio Serapião

24/05/2017

 

 

Dinheiro foi levado à sede da Superintendência de São Paulo da corporação; delator disse que valor de propina era maior

Quatro dias após voltar ao Brasil, o deputado federal afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) entregou ontem à Polícia Federal, em São Paulo, a mala com dinheiro que recebeu do diretor da JBS Ricardo Saud, um dos delatores da empresa. Porém, segundo documento da PF que registrou a entrega, havia R$ 465 mil dentro. Em sua delação, Saud disse que deu R$ 500 mil a Loures na maleta, R$ 35 mil a mais do que o registrado pela PF. A Superintendência de São Paulo da corporação não explicou o motivo de o valor registrado ser menor.

O parlamentar foi flagrado na noite de 24 de abril, em São Paulo, saindo apressado do estacionamento de uma pizzaria nos Jardins, carregando uma mala preta onde estariam os R$ 500 mil em dinheiro vivo. Agentes da Polícia Federal o seguiam e o filmaram. As imagens mostram Rocha Loures desconfiado, olhando para os lados, em direção a um táxi que o aguardava na Rua Pamplona. O veículo estava com o porta-malas aberto.

O dinheiro foi devolvido por advogados de Rocha Loures na noite de anteontem. A defesa do deputado também informou que entregou o passaporte do parlamentar às autoridades.

O deputado foi alvo da Operação Patmos, da PF, na quintafeira passada. Na ocasião, ele estava em Nova York, onde participou de evento ao lado de políticos e empresários brasileiros, mas voltou ao Brasil no dia seguinte.

Rocha Loures, ex-assessor do presidente Michel Temer, teve a prisão pedida pela Procuradoria- Geral da República. O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, negou, mas decretou seu afastamento do mandato. Segundo a investigação, os R$ 500 mil seriam referentes a uma propina da JBS em troca do empenho do parlamentar em um projeto de interesse do grupo na Câmara.

Conversa. O parlamentar é citado na conversa gravada pelo empresário Joesley Batista, da JBS, e o presidente Michel Temer. No diálogo, o presidente indica o ex-assessor como alguém de confiança para tratar de questões de interesse da JBS.

A conversa ocorreu no dia 7 de março, dias antes de Rocha Loures ser flagrado recebendo a mala com dinheiro de Saud. Rocha Loures é investigado no mesmo inquérito no STF em que Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) também são alvo. Eles negam qualquer irregularidade.

Prisão. Anteontem, o procurador- geral da República, Rodrigo Janot, voltou a pedir a prisão de Rocha Loures. De acordo com a PGR, a prisão só não foi decretada no momento do flagrante do pagamento de propina para que os investigadores pudessem coletar provas ainda mais robustas contra os congressistas. A defesa de Loures, em nota, afirmou que “não há qualquer motivo para a prisão do deputado Rodrigo Rocha Loures”.

“A defesa aguarda pelo STF a manutenção da decisão que negou o pedido do Ministério Público.

O deputado, no momento oportuno, irá prestar todos os esclarecimentos devidos”, disse José Luis Oliveira Lima, que representa o parlamentar afastado. / JULIA AFFONSO, FAUSTO MACEDO e FABIO SERAPIÃO

Dinheiro

R$ 500 mil é quanto o delator Ricardo Saud, da JBS, disse ter entregado a Rocha Loures em uma pizzaria de São Paulo. Na mala levada para a PF anteontem, porém, havia apenas R$ 465 mil

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Assessor de Temer é preso por desvios em estádio 

Fabio Serapião, Luiz Vassalo e Julia Affonso

24/05/2017

 

 

Filippelli, ex-vice-governador do DF, foi exonerado pelo Planalto; a PF prendeu dois ex-governadores: José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT)

A Polícia Federal prendeu na manhã de ontem o assessor do presidente Michel Temer, Tadeu Filippelli (PMDB-DF), e os ex-governadores do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT). Os três foram alvo da operação Panatenaico, cujo foco é uma suposta organização criminosa que teria fraudado e desviado cerca de R$ 900 milhões da construção do estádio Mané Garrincha.

A arena foi construída para os jogos da Copa de 2014.

Com a investida contra Filippelli, que já ocupou o cargo de vice-governador no Distrito Federal durante a gestão de Agnelo Queiroz e ontem foi exonerado da assessoria da Presidência, as investigações relacionadas à Lava Jato alcançam o terceiro assessor especial de Temer. Antes de Filippelli, em dezembro do ano passado, José Yunes, advogado e amigo do presidente, deixou o cargo no Palácio do Planalto após ser citado na colaboração premiada de executivos da Odebrecht. Já na semana passada, por causa da delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, o ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil e afastado do cargo de deputado federal por ordem do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

O juiz Vallisney de Souza, da 10.ª Vara Federal de Brasília, também bloqueou R$ 6 milhões de Filippelli e R$ 10 milhões de Arruda e Queiroz.

A também PF cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão contra agentes públicos, construtoras e operadores de propina que teriam atuado nas últimas três gestões do governo do Distrito Federal. A hipótese investigada pela Polícia Federal é que agentes públicos, com a intermediação de operadores, tenham realizado um conluio para simular a realização da licitação do estádio.

A apuração teve como ponto de partida as delações de executivos e prepostos da construtora Andrade Gutierrez que revelaram a formação de um cartel para fraudar o processo licitatório.

A investigação que desaguou na operação de ontem começou em setembro de 2016, quando o STF encaminhou os depoimentos de três executivos da empresa para a 1.ª instância da Justiça Federal.

Segundo o Ministério Público Federal, as informações prestadas pelos delatores foram confirmadas ao longo da investigação e novos indícios surgiram.

Os investigadores descobriram, entre outras coisas, que, contrariando a legislação, a construtora participou desde o início da elaboração do edital para o processo licitatório. O conluio citado pela Andrade Gutierrez foi confirmado por diretores da Odebrecht – também em colaboração premiada. Como resultado da combinação prévia, a empreiteira teria apresentado um valor maior que o da Andrade na arena de Brasília enquanto na de Pernambuco a Andrade “retribuiu o favor” e apresentou um valor acima do mercado.

Sobrepreço. A renovação do Estádio Mané Garrincha, ao contrário dos demais estádios da Copa do Mundo financiados com dinheiro público, não recebeu empréstimos do BNDES, mas da Terracap, estatal do Distrito Federal que não possuía esse tipo de operação financeira prevista no rol de suas atividades.

O inquérito da Panatenaico revelou um sobrepreço de ao menos R$ 900 milhões nas obras. A arena foi orçada inicialmente em R$ 690 milhões, mas a reforma acabou custando R$ 1,5 bilhão, o que fez com que o estádio se tornasse o mais caro entre os 12 que receberam os jogos da Copa do Mundo de 2014.

Nas petições enviadas à Justiça, MPF e PF relatam que o acordo para o pagamento de propina – estipulado inicialmente em 1% do valor total da obra – foi articulado em 2008, ainda durante a gestão do governador José Roberto Arruda.

Para recolher elementos que detalhem como operou o esquema criminoso que superfaturou a obra e lesou os cofres do GDF e da União, os cerca de 80 policiais envolvidos na operação foram divididos em 16 equipes.

O nome da operação é uma referência ao Stadium Panatenaico, sede de competições realizadas na Grécia Antiga, anteriores aos Jogos Olímpicos.

O Estado questionou o PMDB-DF, presidido por Filippelli, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

As defesas de Arruda e Queiroz não foram encontradas para comentar a prisão. A Via Engenharia disse que irá se manifestar. A Andrade Gutierrez afirmou por meio de nota que “segue colaborando com as investigações em curso dentro do acordo de leniência firmado pela empresa com o Ministério Público Federal e reforça seu compromisso público de esclarecer e corrigir todos os fatos irregulares ocorridos”.

Superfaturado

R$ 900 mi é o total desviado da construção do estádio Mané Garrincha. O custo final da obra foi de R$ 1,5 bilhão, tornando-se o estádio mais caro da Copa de 2014

PARA LEMBRAR

‘Elefante branco’ de quase R$ 2 bi

O Mané Garrincha é um dos “elefantes brancos’’ que o Brasil herdou da Copa. É subutilizado, pois o Distrito Federal não tem um time nem sequer nas três primeiras divisões do futebol do País. Sua reforma, iniciada em 2010, durou 1.027 dias – a capacidade passou de 45 mil para 72.788 pessoas. Nesse período, os custos explodiram: R$ 1,4 bilhão, de acordo com a versão final da Matriz de Responsabilidades, a prestação oficial de contas da Copa, mas há estimativas que beiram os R$ 2 bilhões. A manutenção consome R$ 800 mil/mês, segundo o governo do Distrito Federal, que o ocupa com 3 secretarias.

NO MESMO ANDAR

● Preso ontem, Tadeu Filippelli despachava do 3º andar do Planalto, onde também fica o gabinete de Temer; Filippelli foi exonerado

ATÉ DEZEMBRO OS DOIS DIVIDIAM O MESMO GABINETE

José Yunes

PEDIU DEMISSÃO EM DEZEMBRO APÓS SER CITADO EM DELAÇÃO DA ODEBRECHT

Tadeu Filippelli

FOI PRESO ONTEM EM OPERAÇÃO DA PF QUE MIRA EM FRAUDES NO MANÉ GARRINCHA

Rocha Loures

CITADO NA DELAÇÃO DA JBS, FOI AFASTADO DO MANDATO DE DEPUTADO PELO SUPREMO

Michel Temer

PRESIDENTE

 

O Estado de São Paulo, n. 45144, 24/05/2017. Política, p. A6