Acordo com Mercosul deve ser fechado este ano

10/07/2017

 

 

Para embaixador da UE, protecionismo é ‘receita para o desastre’ “O empresário europeu que investe no Brasil não está olhando para 2017, ele olha para um prazo mais amplo, de 5, 10 anos” João Cravinho Embaixador da UE no Brasil

 

O embaixador da União Europeia no Brasil, João Cravinho, afirmou ainda, em entrevista ao GLOBO, que o acordo de livre comércio entre Mercosul e UE deve ser fechado até o fim deste ano. Ele enfatizou que as negociações, que transcorrem há 18 anos, finalmente começam a avançar.

— Nos últimos seis a oito meses, avançamos muito. Já estamos trabalhando com textos únicos em cada capítulo — afirmou, completando que o protecionismo é uma “receita para o desastre”.

O embaixador lembrou que a UE não está parada e deve assinar nesta semana um acordo com o Japão. Os europeus também estão em vias de concluir a confecção de tratados de livre comércio com Austrália, Nova Zelândia e Cingapura.

— Ao contrário do que se passa nos Estados Unidos, a nossa perspectiva é de consolidação e intensificação do nosso posicionamento comercial com outras partes do mundo — comentou o embaixador.

De acordo com Cravinho, se de um lado, o Mercosul quer abrir o mercado europeu para itens do agronegócio; de outro, o bloco sul-americano precisa liberar setores como os de produtos industrializados, serviços e compras governamentais, além de fazer ajustes em sua legislação de propriedade intelectual.

— O povo brasileiro acaba sendo mal servido e por preços caros. Qualquer fornecedor, em qualquer parte do mundo, serve mal e a preços caros quando não há competição — disse Cravinho.

O acordo em negociação vai prever a liberação dos mercados dos dois blocos, com destaque para a queda das tarifas de importação. Mas haverá um cronograma, para que os setores mais sensíveis das economias possam se adequar à nova realidade.

 

CRISE POLÍTICA

Sobre a crise política interna, o embaixador observou que 60% a 65% dos investimentos estrangeiros no Brasil são da UE, ou seja, praticamente dois terços do total. Segundo Cravinho, isso significa, em primeiro lugar, que o investidor europeu confia no país.

— A situação política que o Brasil vive neste momento é delicada e complicada. E é instável. Não há maneira de escamotear essa realidade. Agora, o empresário europeu que investe no Brasil não está olhando para o resto de 2017, ele olha para um prazo mais amplo, de cinco, dez anos. E, nesse sentido, não sentimos grande preocupação em relação ao atual momento da vida política do país — afirmou.

Cravinho afirmou, ainda, que a UE vê com bons olhos a candidatura do Brasil a membro pleno da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Lembrou que, recentemente, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, conversou com todos os embaixadores europeus sobre o assunto.

— Mas não compete a nós, aqui, tomarmos qualquer tipo de atitude em relação à candidatura. O Brasil, neste momento, é candidato a candidato — disse.

O globo, n.30653 , 10/07/2017. ECONOMIA, p. 17