DENÚNCIA CONTRA TEMER: VOTAÇÃO EM DÚVIDA

JÚNIA GAMA

LETICIA FERNANDES

30/07/2017

 

 

Nem governo nem oposição garantem que Câmara decida questão na quarta-feira: ambos querem demonstrar força

Governo e oposição ainda traçam estratégias para a votação da denúncia contra o presidente Temer na Câmara. O Planalto teme se fragilizar para as reformas. Com isso, a sessão pode não ocorrer no próximo dia 2, como previsto. Apesar da proximidade da data decisiva sobre a denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer, nesses últimos dias de recesso ficou claro que nem governo nem oposição têm total segurança se a votação será concluída. De um lado, a oposição não quer dar quórum para o que se anuncia como uma derrota certa. Do outro, o governo teme que o número de parlamentares o apoiando deixe claro sua fragilidade para prosseguir com a agenda de reformas. Por isso, ambos os lados ainda analisam as melhores estratégias para o dia e só devem bater o martelo sobre as ações a serem tomadas na própria quarta-feira; o início da sessão está marcado para as 9h.

A oposição pretende definir apenas no dia da votação se comparecerá ou não. O governo também observa se será capaz de se livrar da denúncia contra Temer ou se será preciso mais tempo para alinhar a base e dar uma demonstração de força que lhe permita sobreviver sem grandes sequelas. Não está descartada a possibilidade de governistas somente darem quórum após verificarem que haverá uma margem segura para a votação. Apesar da indefinição, integrantes do governo garantem que, resolvida a questão do quórum, Temer vencerá a batalha com facilidade, por mais de 250 votos.

— Cabe agora à oposição querer votar. A bancada do governo está pronta desde antes do recesso — afirmou o ministro da Educação, Mendonça Filho, um dos que devem voltar à Câmara para votar a denúncia.

Mesmo confiante de que a oposição não reunirá os 342 votos para levar adiante a denúncia, o governo teme que o quórum fique abaixo do previsto para concluir a votação ou que a margem de votos favoráveis ao governo seja baixa. Ambas as hipóteses poderiam ser vistas como derrotas para o Planalto, ainda que Temer consiga enterrar esta primeira denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Por enquanto, o Palácio do Planalto continua com a mobilização em torno dos deputados indecisos, com liberação de emendas e promessas de cargos, além da exoneração dos 12 ministros com mandatos de deputados para que reforcem o quórum. O governo articula também uma manobra para deixar os deputados mais à vontade no dia da votação. Integrantes do PMDB discutem a apresentação de uma questão de ordem para que os deputados sejam dispensados de votar no microfone, registrando suas escolhas apenas no painel eletrônico. Assim, sem “mostrar a cara”, o governo pretende angariar votos de parlamentares mais suscetíveis à opinião pública, especialmente num cenário em que Temer aparece com apenas 5% de aprovação popular.

— A sessão será televisionada e isto pode constranger muitos que desejam ser fiéis ao governo, mas têm medo da reação de suas bases — explica um ministro do PMDB.

O globo, n.30673 , 30/07/2017. PAÍS, p. 5