Temer derrete

Vera Magalhães

31/05/2017

 

 

A delação da JBS acabou por derreter o pouco que restava de popularidade a Michel Temer. Na primeira pesquisa nacional realizada depois de vir à tona a gravação da conversa entre o presidente e o empresário Joesley Batista, apenas 6,4% classificam o governo como ótimo ou bom, contra 74,8% que o consideram ruim ou péssimo. Quando questionados genericamente, 84% dos entrevistados dizem que desaprovam o governo.

O levantamento, divulgado com exclusividade para a coluna, foi realizado pelo Paraná Pesquisas com 2.022 entrevistados em todo o País, de 25 a 29 de maio. A economia é o último fio a dar alguma sustentação a Temer, mas não é capaz de fazer com que os eleitores defendam sua permanência no cargo.

Questionados se dariam um “voto de confiança” ao peemedebista diante da perspectiva de a economia voltar a crescer e o desemprego cair, 73,5% disseram que não, contra 23,5% que responderam que sim. Diante da possibilidade de queda do presidente, 90,6% defendem a realização de eleições diretas, contra apenas 7,2% que propugnam escolha pelo Congresso – caminho expresso pela Constituição. No caso de eleição indireta, despontam como favoritos o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa (24,4%) e a atual ocupante do posto, Cármen Lúcia (13,2%).

A delação da JBS afetou ainda 2018: Jair Bolsonaro sai vitaminado em todos os cenários. Lula segue estável na liderança de intenção de votos e de rejeição. E, no PSDB, o prefeito João Doria Jr. tem o dobro das menções de Geraldo Alckmin: 13,4% no cenário em que aparece, contra 6,4% do governador contra os mesmos oponentes.

O EFEITO JBS

● Popularidade de Temer despenca após delação

Caso ocorra uma nova eleição para presidente do Brasil, o sr.(a) acha que ela deveria ser:

DIRETA

90,6%

INDIRETA

7%

NÃO SABE/ NÃO OPINOU

2,3%

Caso ocorra uma nova eleição no Brasil e ela seja indireta, quem o sr(a). gostaria que fosse escolhido?

JOAQUIM BARBOSA - 24,4%

CÁRMEN LÚCIA - 13,2%

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO - 11,9%

FERNANDO HADDAD - 4,8%

RODRIGO MAIA -4,3%

HENRIQUE MEIRELLES - 2,9%

NELSON JOBIM - 1,5%

PEDRO PARENTE - 0,7%

NÃO SABE - 9,9%

NENHUM -  26,5%

FONTE: INSTITUTO PARANÁ PESQUISAS RESPOSTAS ESTIMULADAS E ÚNICAS

Avaliação da administração de Michel Temer

0,9% - ótima

5,5% - Boa

7,1% - Regular

20,1% - Ruim

54,7% -  Péssima

O sr(a). daria um voto de confiança para o presidente Michel Temer se isso fosse a garantia de que a economia vai melhorar e que o desemprego vai cair?

NÃO - 73,5%

SIM - 23,5%

NÃO SABE/ NÃO OPINOU - 3%

PRIVADO-PÚBLICO

Doria nomeia vice-diretor de construtora como assessor

Defensor de parcerias com a iniciativa privada para obras e serviços da administração municipal, algumas delas seladas sem licitações ou convênios, o prefeito João Doria nomeou como assessor especial, para cuidar justamente da área, o vice-presidente da construtora Cyrella, Claudio Carvalho. A Cyrella é uma das “empresas cidadãs”, como apelidou o tucano: é a responsável pela troca dos banheiros do Parque do Ibirapuera.

PÚBLICO-PRIVADO

Escritório que ‘levou’ procurador havia contratado sub da Receita

O ex-procurador da República Marcelo Miller, que até o fim do ano foi um dos braços direitos de Rodrigo Janot na Lava Jato, não foi o primeiro funcionário público a ter o passe adquirido pelo escritório Trench, Rossi & Watanabe, que ontem deixou de atuar na negociação de leniência da JBS. A banca “abduziu” há alguns anos o então subchefe de Fiscalização da Receita, Marcos Neder – que passou a representar os contribuintes contra o Fisco.

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Serraglio recusa pasta e Loures perde foro

Tânia Monteiro e Carla Araújo

31/05/2017

 

 

Ex-ministro rejeita convite para assumir Transparência e anuncia volta à Câmara

Depois de ter dado os primeiros sinais ao presidente Michel Temer de que aceitaria o cargo de ministro da Transparência e ser esperado no Palácio do Planalto, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) recusou ontem o convite. A decisão do peemedebista deixa sem prerrogativa de foro o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), flagrado, em ação controlada da Polícia Federal, recebendo uma mala com R$ 500 mil do diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud.

Suplente na Câmara dos Deputados, Loures ocupava a vaga deixada por Serraglio na Casa. Antes, foi assessor especial de Temer no governo.

Serraglio deixou claro ao Planalto o desagrado de ter sido avisado pela imprensa e depois comunicado pelo líder do seu partido na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), que perderia o cargo de titular da Justiça para Torquato Jardim. Porém, o principal motivo da desistência, na avaliação do governo, foram as manifestações contra seu nome pelos servidores do Ministério da Transparência, que seriam seguidas de pressões e reações ao seu comando na pasta.

Manifestação. O Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de Finanças e Controle (Unacon Sindical) preparava para hoje à tarde um protesto na frente do ministério, mas cancelou após a divulgação de que Wagner de Campos Rosário, atual secretário executivo da pasta, ocuparia o cargo de forma interina.

Temer preferia que Serraglio assumisse o cargo, porque resolveria dois problemas: atenderia ao PMDB, já que Rossi defendia a ida do paranaense para a pasta, e ainda manteria o foro privilegiado de Loures. No entanto, o presidente reunia uma série de insatisfações com a atuação do ex-ministro.

O presidente se queixou, em várias ocasiões, da ausência do ex-ministro da Justiça para tratar da manifestação que terminou em confronto entre policiais e manifestantes em Brasília, na quarta-feira passada, e também pela sua notificação para depor por decisão de uma funcionária da Polícia Federal, sem seu conhecimento.

Além disso, de acordo com o Planalto, Serraglio jamais saiu em defesa do presidente e do governo durante a grave crise política enfrentada por Temer. Segundo interlocutores, a deputados do PMDB com os quais conversou, Temer afirmou que, diante do imbróglio, considera em optar por uma “solução técnica”, uma vez que a bancada do PMDB não reivindicou o comando da pasta da Justiça.

Com isso, Rosário responderá interinamente pela Transparência – ele é um funcionário de carreira da antiga Controladoria- Geral da União (CGU). Mais adiante, a bancada do PMDB na Câmara poderá buscar uma outra pasta na Esplanada do Ministérios. O Ministério da Cultura, por exemplo, está vago desde a saída de Roberto Freire (PPS-PE). A posse do novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, será hoje, às 15 horas.

Saída. Em nota, Serraglio disse que procurou “dignificar a confiança” que o presidente Temer depositou em seu trabalho, ao avisar que recusou a transferência para a Transparência. “Volto para a Câmara dos Deputados, onde prosseguirei meu trabalho em prol do Brasil que queremos”, afirmou. O Palácio do Planalto, no entanto, pretende manter o deputado paranaense ao seu lado porque considera seu apoio fundamental para as próximas votações no Congresso, principalmente a da reforma da Previdência.

O Planalto avalia que, no caso de Loures, mesmo ele perdendo o foro privilegiado, o inquérito em que ele é investigado seguirá no Supremo Tribunal Federal (STF), porque a investigação atinge outras autoridades com foro na Corte, como Temer.

O deputado afastado é alvo de inquérito baseado na delação do JBS.

Retorno. ‘Volto para a Câmara, onde prosseguirei meu trabalho’, disse Osmar Serraglio

Moreira Franco

Michel Temer vai editar nova Medida Provisória para recriar a Secretaria- Geral da Presidência. A MP 768 venceria no dia 2 e, com a nova medida, Moreira Franco mantém o foro privilegiado.

PERGUNTAS & RESPOSTAS

‘Sem-foro’ no Supremo

1. Quando um réu sem foro privilegiado é julgado no Supremo?

Em duas hipóteses: quando um réu já tenha sido investigado e processado e, ao término do processo, renuncia ou perde o cargo e quando um réu for investigado por crimes que tenham sido praticados com cidadãos com foro privilegiado.

2. O que é conexão?

O artigo 76 do Código de Processo Penal trata da competência por conexão, quando a ligação entre distintos crimes exige que um mesmo juiz julgue todas as ações.

3. Uma eventual nomeação de um deputado do Paraná, para que Rodrigo Rocha Loures reassuma o mandato, pode configurar crime de obstrução?

Não, porque o STF se mantém como a jurisdição do caso. Pode caracterizar tentativa de fraude processual e, com base nisso, o STF pode desmembrar o caso.

4. O que é desmembramento de um processo?

É a separação de um inquérito, ação ou processo em outras partes. Na Lava Jato, desmembramento significa, sobretudo, a separação de inquéritos por investigados.

5. Qual é jurisprudência?

Na Lava Jato, a regra geral é a de que os casos serão desmembrados, para manter no STF aqueles em que existam autoridades com foro.

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Gilmar associa preventiva à ‘tortura’

Isadora Peron e Breno Pires

31/05/2017

 

 

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), voltou a criticar os casos de prisão provisória da Operação Lava Jato e questionou se o instrumento não está sendo usado como “tortura” para que os presos façam delação.

“Não se justifica prisão provisória de dois anos sem que haja outros fundamentos. É bem verdade que assim se produz a delação.

Mas será que nós não estamos pervertendo o sentido da prisão provisória? Será que nós não a estamos usando como tortura?”, questionou Gilmar.

O comentário do ministro foi feito durante sessão da Segunda Turma do STF, que nas últimas semanas reverteu a tendência da Corte e concedeu pedidos de liberdade a presos da Lava Jato, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

No julgamento de ontem, porém, os ministros negaram o pedido de extensão de habeas corpus de Dirceu feito pelo ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque e dos empresários Flavio Henrique de Oliveira Macedo e Eduardo Aparecido de Meira, que também foram presos preventivamente.

Apesar de negar os pedidos, Gilmar afirmou que o tema terá de ser enfrentado pela Corte.

“A prisão provisória não se faz como um instrumento de sanção antecipada, há pressupostos muito claros no texto constitucional.

Ela não se faz também para satisfazer uma sanha da opinião pública ou uma sanha da opinião publicada.” O ministro Ricardo Lewandowski concordou.

“Essa preocupação de Vossa Excelência é minha.”

 

O Estado de São Paulo, n. 45151, 31/05/2017. Político, p. A6