S&P pode rebaixar nota do Brasil

Álvaro Campos / Gabriel Bueno /Caio Rinaldi / Idiana Tomazelli

23/05/2017

 

 

Agência colocou rating do País em revisão para ‘possível rebaixamento’, por conta da piora na situação após denúncias contra Temer

 

 

A agência de classificação de risco Standard & Poor’s anunciou ontem ter colocado a nota do Brasil, atualmente em BB (considerado grau especulativo) em revisão para possível rebaixamento. Em comunicado, a agência afirma que a dinâmica política no Brasil piorou após recentes denúncias de corrupção contra o presidente Michel Temer.

“A perspectiva negativa do rating, reafirmada em fevereiro deste ano, refletia os riscos de que a estratégia do governo para estabilizar a economia e sua posição fiscal poderia ser prejudicada por potenciais desdobramentos das investigações de corrupção. Entretanto, se essas recentes alegações contra Temer forem corroboradas, a capacidade do presidente de permanecer no cargo e governar de maneira eficaz provavelmente se tornaria insustentável.

Isso poderia colocar em andamento um processo de transição que nunca foi testado”, diz.

A revisão reflete o risco de que o rating soberano possa ser rebaixado nos próximos três meses, “em meio a dinâmicas políticas mais estressadas”. Segundo a S&P, um presidente enfraquecido, um processo de transição longo ou turbulento ou um presidente temporário com capacidade e vontade reduzidas de prosseguir com as reformas estruturais provavelmente atrasariam ainda mais a recuperação econômica e a aprovação de medidas fiscais.

Para o Ministério da Fazenda, a decisão da agência de colocar a nota do Brasil em observação para possível rebaixamento reflete o “aumento da incerteza relacionada aos eventos políticos recentes”. A pasta destaca, porém, que segue comprometida com a recuperação da economia brasileira por meio de reformas estruturais.

Em nota, a Fazenda ressalta que a agência indicou que pode afastar a possibilidade de rebaixamento caso a incerteza política “seja de curta duração” e se a administração e a equipe econômica tiverem apoio suficiente no Congresso Nacional para aprovar medidas necessárias à recuperação. A nota não menciona diretamente as acusações contra o presidente Temer.

 

Crise. Para o economista Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria, porém, a decisão da S&P, a priori, não é tão impactante na economia brasileira quanto os desdobramentos das gravações da delação da JBS. “O mercado deve reagir um pouco a esta revisão da S&P, mas o que está sendo observado mesmo é o desenrolar da crise”, avaliou.

Diante do contexto de incerteza gerado pela delação da JBS, a posição da S&P foi considerada pelo profissional “mais um recado em relação à situação do que uma mudança sobre o diagnóstico”. Isso porque, afirmou o economista, a perda de governabilidade da gestão Temer, no momento em que havia expectativa pela votação da reforma da Previdência, prejudica a trajetória fiscal no médio prazo. “Sem a reforma da Previdência, a dinâmica fiscal ficará comprometida com pelo menos 2 anos de atraso em relação à expectativa da semana passada”, disse.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45143, 23/05/2017. Economia, p. B4.