Temer pede e Fachin aumenta prazo para interrogatório da PF

Murillo Camarotto e Luísa Martins

07/06/2017

 

 

A atuação do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures e a reunião secreta com o empresário Joesley Batista ocupam mais da metade do interrogatório encaminhado pela Polícia Federal ao presidente Michel Temer. Os investigadores, no entanto, também perguntaram sobre as relações do presidente com o ex-deputado Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro, além da possível interferência do Palácio do Planalto em decisões de estatais e autarquias.

Temer foi indagado ainda sobre as ligação dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Henrique Meirelles (Fazenda) com a JBS. Ontem, dia em que as 82 perguntas deveriam ser respondidas e entregues à PF, o advogado do presidente, Antonio Cláudio Mariz, pediu - e conseguiu - mais prazo ao Supremo Tribunal Federal. Após aval do ministro Edson Fachin, o interrogatório poderá ser devolvido até às 17h de sexta-feira.

Mariz disse ao Valor que não estava definida a forma como as respostas serão apresentadas. Ele adiantou, no entanto, que as questões não seriam respondidas individualmente. As hipóteses eram de um texto corrido ou de divisão em blocos temáticos.

A primeira pergunta trata, de forma abrangente, da relação de Temer com Rocha Loures - preso desde o último sábado em Brasília. Os investigadores querem saber há quanto tempo os dois se conhecem, por que Temer doou R$ 200 mil para a campanha do ex-deputado e, principalmente,

por que Rocha Loures falava em nome do presidente aos mais diversos interlocutores.

Especificamente sobre a JBS, objeto do inquérito, a PF pergunta a Temer se ele se encontrou com Rocha Loures após a reunião com Joesley, ocorrida na noite de 7 de março. O próprio interrogatório, entretanto, indica que sim. O presidente e o ex-deputado teriam participado de um evento em São Paulo no dia 30 de março deste ano, apenas dois dias depois de Rocha Loures ter sido flagrado carregando uma mala com R$ 500 mil em propina.

Outras várias questões miraram a reunião com Joesley. Diante das justificativas de Temer de que foi vítima de sua cultura de informalidade, os investigadores solicitaram os nomes de outros empresários que teriam sido recebidos pelo presidente em condições semelhantes, ou seja, tarde da noite e sem identificação na agenda presidencial e na segurança do Palácio do Jaburu.

Mais adiante, o interrogatório entra no ponto mais sensível da conversa, que é a suposta compra do silêncio de Cunha. Após reproduzir toda a narrativa do empresário, de que havia "zerado as pendências" com o ex-deputado e que estaria "de bem" com ele, os investigadores pedem a Temer para explicar a expressão "tem que manter isso aí, viu", dita pelo presidente ao dono da JBS.

Temer também é questionado sobre seu conhecimento acerca de eventuais ilícitos cometidos por Eduardo Cunha. Os investigadores citam ainda a passagem do diálogo em que o presidente afirma que o ex-deputado - preso desde o ano passado em Curitiba - queria lhe "fustigar".

A conversa com Joesley leva ao entendimento de que Rocha Loures teria assumido a função que era de Geddel, que caiu em novembro do ano passado sob a acusação de tráfico de influência. A PF perguntou a Temer se o ex-ministro tinha relação com a JBS e se o presidente sabia dos encontros entre Geddel e representantes da empresa. O mesmo foi perguntado sobre Padilha.

No caso de Meirelles, os investigadores querem saber a que Joesley se referiu quando mencionou a importância de um maior "alinhamento" com o atual ministro da Fazenda. A PF também perguntou a Temer se ele teria autorizado o presidente do grupo J&F a expor seus "pontos de interesse" a Meirelles.

Em outro momento da conversa, Temer recomendou a Joesley que procurasse alguém para tratar da troca de comando na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O interrogatório quer que Temer responda quem seria essa pessoa e qual a legitimidade da JBS para interceder no processo de sucessão da autarquia.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4271, 07/06/2017. Política, p. A6.