PF investiga se JBS usou informação privilegiada para lucrar com o câmbio

Alexa Salomão, Fausto Macedo, Fábio Serapião e Julia Affonso 

10/06/2017

 

 

Foco. Operação Tendão de Aquiles, realizada ontem em conjunto com a CVM, parte de informações de que empresa vendeu ações e comprou dólares já sabendo dos efeitos que teriam no mercado a divulgação da delação premiada de seus controladores

A Polícia Federal realizou ontem nova busca e apreensão na sede da JBS, a maior empresa de carnes do mundo. Batizado de Operação Tendão de Aquiles, o procedimento faz parte das investigações que apuram se os acionistas da companhia fizeram uso de informação privilegiada na negociação de ações e de dólar no mercado futuro. A Justiça Federal também autorizou a condução coercitiva de quatro executivos do grupo.

Os policiais estavam acompanhados de técnicos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia federal que atua como reguladora das companhias de capital aberto.

Segundo a PF, a operação teve como ponto de partida investigações iniciadas pela CVM. O órgão abriu 13 procedimentos envolvendo a JBS. A Tendão de Aquiles buscou na empresa informações complementares para o procedimento que avalia se os acionistas, quando já estavam fazendo a colaboração premiada, orientaram os operadores da área de câmbio e de mercado de ações a adotar posições que levariam a ganhos para o grupo e seus controladores.

As suspeitas sobre a JBS levam em consideração que os executivos do grupo sabiam do conteúdo explosivo de suas denúncias e os efeitos que teriam sobre as ações da empresa e sobre a cotação do dólar quanto fossem divulgadas. O empresário Joesley Batista gravou o presidente da república, Michel Temer.

O executivo Ricardo Saud, por sua vez, participou de uma operação monitorada pela PF em que ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, apontado pelo próprio Temer na gravação como “homem de sua confiança”, foi gravado correndo na rua com uma mala recheada com R$ 500 mil.

Punição. Se as investigações concluírem que houve mesmo procedimentos atípicos e ganhos elevados, os envolvidos podem ser punidos com multas e perda de habilitação para operação. Na quinta-feira, o governo, atendendo a um antigo pleito da CVM, reforçou as penalidades. A multa aplicada agora é de R$ 500 milhões por infração.

No entanto, como as operações são anteriores a essa data, fica valendo a penalidade anterior: multa de R$ 500 mil ou três vezes o valor do ganho, se for comprovado.

A JBS tem uma das maiores estruturas para operar câmbio numa empresa não financeira, e essa não é a primeira vez que ela se envolve em polêmicas no mercado financeiro. Já causa incômodo entre os operadores acertos recorrentes da JBS às alterações nas taxas de juros e de câmbio anunciadas pelo Banco Central – que lhes renderam ganhos superiores ao de instituições financeiras. Em 2015, a companhia registrou ganhos no mercado cambial superiores até aos conseguidos vendendo seus produtos. 

 

O Estado de São Paulo, n. 45161, 10/06/2017. Economia, p. B1