Oposição aposta em investigação da PGR

Marcos de Moura e Souza

16/06/2017

 

 

O pedido de investigação contra o presidente Michel Temer (PMDB) passou a ser a principal aposta de líderes da oposição para antecipar o fim do governo.

Temer deve ser alvo nos próximos dias de um pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) de apuração de supostos crimes de corrupção. Se a investigação for aprovada na Câmara, Temer é afastado e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assume. Pelas regras atuais, Maia teria de convocar eleições indiretas.

A oposição não tem votos para aprovar o pedido, mas ontem ganhou o reforço inesperado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que defendeu a realização de eleições gerais antecipadas.

"Não tenho dúvida nenhuma que a declaração dele vai influenciar deputados da base a votarem favoravelmente ao pedido da PGR", disse ontem ao Valor, o líder do PT na Câmara, o deputado paulista Carlos Zarattini.

Weverton Rocha (MA), líder do PDT na Câmara, reforça: "Com certeza deixará os deputados da base mais constrangidos [em rejeitar uma investigação]".

O PT tem, até então, liderado o discurso de antecipação de eleições para Câmara, Senado e Presidência; sem incluir os governadores, que terminariam seus mandatos. Mas para isso seria preciso aprovação de uma emenda constitucional. E isso demandaria votos que a oposição, sozinha, não tem.

"O que virá mais rápido é a denúncia da Procuradoria Geral da República", disse a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). "Essa é a batalha mais imediata e muito factível", completou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). Segundo ele, o pedido de investigação virá provavelmente até o fim da semana. Alencar, Jandira, Rocha e Zarattini participaram ontem do 55º. Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), que acontece até domingo em Belo Horizonte. O discurso de todos é pelas eleições diretas, após um eventual afastamento de Temer. A palavra de ordem da UNE no encontro deste ano é "Diretas Já".

Para enterrar um pedido de investigação, o presidente precisa de apenas 171 votos na Câmara. Sua base tem sido bem maior que isso, mas a oposição vem apostando no pragmatismo eleitoral de muitos deputados governistas.

A pergunta é: quem estará disposto, numa votação aberta e transmitida ao vivo, a dizer não a uma investigação sobre suspeita de corrupção do presidente? "Os deputados já estão pensando na renovação de seus mandatos no ano que vem", disse Alencar, afirmando que a essa altura, proteger Temer poderá ser um tiro no pé eleitoral.

A fórmula para eventuais eleições diretas é ainda tema em aberto. Fernando Henrique não deu pistas o que tem em mente e o PT também não definiu uma proposta. "Pode-se ter uma eleição de um mandato de cinco anos e meio, pode-se ter um mandato tampão de um ano e meio. Tudo é discutível, menos tirar o povo do processo de legitimação de um governo", disse o ex-deputado do PT José Eduardo Cardozo e advogado da ex-presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4277, 16/06/2017. Política, p. A6.