Garantias elevadas dificultam o acesso de empresas a crédito do BNDES, aponta Fiesp

Fabio Graner

17/06/2017

 

 

 

Excesso de exigências de documentação, cobrança de garantias muito elevadas e até juros considerados altos foram os principais obstáculos que dificultaram a vida das empresas no acesso ao crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A conclusão é de estudo feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) entre os meses de abril e maio obtido com exclusividade pelo Valor.

Apesar das dificuldades apontadas, grande parte das empresas de todos os portes pretende utilizar o crédito do BNDES nos próximos dois anos, diz o estudo. "Como a taxa básica de juros real brasileira é a mais elevada do mundo, o crédito do BNDES desempenha um papel fundamental para promoção do investimento e crescimento econômico", diz o texto.

O trabalho foi feito com base em entrevistas junto a 1.063 empresas industriais. Desse total, menos da metade (39%) tentou nos últimos dois anos obter financiamento junto ao banco estatal de fomento. Essa amostragem de 403 empresas foi a considerada para avaliar o acesso ao crédito na instituição. Os dados mostram que, nesse universo, 45% das empresas que tentaram não conseguiram aprovar seus projetos, mas 55% obtiveram.

"As justificativas mais comuns para a não aprovação do crédito do BNDES foram o excesso de exigências quanto a documentação e a falta de garantias ou exigências de garantias muito elevadas", diz o trabalho. As empresas que não obtiveram recursos apontaram que o banco alegou também que algumas linhas estariam fechadas e que bancos repassadores também justificavam falta de relacionamento do cliente com o banco.

No lado das empresas que conseguiram obter o financiamento, também houve queixas quanto ao nível de exigência de documentos e garantias. "Em segundo lugar, a dificuldade mais apontada pelas empresas que conseguiram aprovação do crédito do BNDES foi a taxa de juros (TJLP + spread) muito elevada. Somada às outras maiores dificuldades: redução no limite disponível para financiamento e prazos/carências inadequados, há evidências de que passados os obstáculos com documentações e garantias, os bancos tentam restringir o acesso ao crédito do BNDES sendo inflexíveis na negociação dos spreads, nos prazos do financiamento e mesmo reduzindo os limites disponíveis", diz a pesquisa.

De acordo com o levantamento, as pequenas empresas são as que têm maiores dificuldades de aprovação do crédito do BNDES e as grandes, menos. "Assim, o percentual de aprovação de crédito do BNDES em relação ao total de empresas que tentaram acesso ao crédito por porte nos últimos 2 anos foi de 46% de aprovação entre as pequenas empresas, 55% entre as médias e 77% entre as grandes", diz o texto.

Ainda na questão da segmentação por porte, a maior dificuldade enfrentada pelas pequenas empresas que conseguiram obter crédito foi o excesso de exigências quanto a documentação. Já para as grandes empresas que conseguiram aprovação do crédito do BNDES, a principal dificuldade foi a taxa de juros oferecida muito elevada.

"Como as grandes empresas costumam ter mais facilidade para superar as dificuldades burocráticas e de exigências de garantias, a negociação das taxas de financiamento representam a maior dificuldade para elas, já que taxas elevadas tendem a ter alto impacto sobre os custos de financiamento, uma vez que os volumes de financiamento tendem a ser maiores nas grandes do que em outros portes", relata o documento.

Para a Fiesp, a pesquisa mostra que é preciso atuar para minimizar as dificuldades de acesso ao crédito do BNDES. A visão é que em um momento como o atual, no qual há um desafio de recuperar o crescimento do país, é preciso trabalhar nessa direção. "Muitas dificuldades apontadas como grandes empecilhos às empresas para aprovação do crédito do BNDES podem ser trabalhadas pelo BNDES e pelos bancos repassadores", diz o texto.

O diretor do departamento de competitividade da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, afirmou que, apesar de 55% das empresas -entre as que tentaram - tenham obtido o crédito do BNDES nos últimos anos, é preciso levar em conta que boa parte (43%) ocorreu em operações no Cartão BNDES, de menor valor. Além disso, destacou, uma grande parte das empresas sequer tentou pegar empréstimo na instituição, sabendo das dificuldades que se colocariam no processo.

Roriz explicou que a questão dos juros serem considerados altos, mesmo o banco operando com taxas abaixo do mercado, ocorre porque a TJLP é a terceira maior taxa do mundo. "As empresas competem internacionalmente", lembrou. Para Roriz, o BNDES tem papel crucial no crescimento e no investimento e por isso esses entraves precisam ser superados.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4278, 17/06/2017. Brasil, p. A3.