BC reduz juros em um ponto e indica desaceleração no ritmo de cortes

Fabrício de Castro e Fernando Nakagawa

01/06/2017

 

 

Queda. Comitê de Política Monetária cortou a taxa básica de 11,25% para 10,25% ao ano, e deixou claro, em comunicado, que, em função dos riscos para a economia com o atual cenário político, redução da Selic na próxima reunião deve ficar em 0,75 ponto

Em meio às dúvidas sobre o futuro do governo Michel Temer, o Banco Central reduziu ontem a Selic (os juros básicos da economia) em um ponto porcentual, de 11,25% para 10,25% ao ano. É a menor taxa desde o fim de 2013. A decisão era largamente esperada pelo mercado financeiro, que via pouco espaço para uma redução maior dos juros em função da crise política. Só que, além de se mostrar cauteloso agora, no novo cenário político, o BC já indicou que pretende promover um corte ainda menor de juros em julho.

Foi exatamente a crise política, que afeta as reformas previdenciária e trabalhista, em tramitação no Congresso, o principal argumento usado pelo BC para justificar o corte de apenas 1 ponto porcentual da Selic ontem – antes de a crise ser deflagrada, o consenso do mercado era de queda de 1,25 ponto nos juros. No comunicado que acompanhou a decisão, os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) afirmaram que o “fator de risco principal” é a elevação da incerteza “sobre a velocidade do processo de reformas e ajustes na economia”.

Por trás disso está a avaliação de que, caso a crise política inviabilize a aprovação das reformas, o espaço para uma Selic mais baixa diminui. A preocupação do BC com os efeitos negativos da crise política sobre o andamento das reformas fez o Copom até já sinalizar um corte de apenas 0,75 ponto porcentual da Selic em julho – e não mais de 1 ponto porcentual.

“Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião”, disse o BC.

No comunicado da decisão, a palavra mais repetida foi “incerteza”, mencionada por cinco vezes.

O termo “incertas” foi citado uma vez, em referência às estimativas para os juros.

Essa incerteza trazida pelas delações de executivos da JBS, que colocam em risco a continuidade de Michel Temer na presidência, pesou mais na decisão do comitê que o cenário para a inflação e para a atividade no Brasil. No comunicado, o Banco Central indicou que as dúvidas ligadas ao futuro das reformas podem ter impacto negativo sobre a atividade econômica

Ao mesmo tempo, registrou que o comportamento da inflação permanece favorável, embora seja importante acompanhar os impactos da crise política.

Nas projeções para a inflação no chamado cenário de mercado, que utiliza estimativas variáveis para câmbio e juros, o BC informou que a taxa projetada para 2017 está em 4% e, para 2018, em 4,6%. A meta para ambos os anos é de 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual (inflação entre 3% e 6%).

“O ponto chave do comunicado é que, para o BC, as reformas não vão conseguir avançar de forma substancial”, disse o economista Thiago Curado, da 4E Consultores. “Com ou sem Temer, cai muito a probabilidade de o governo conseguir emplacar as reformas como havia sido antecipado”, acrescentou.

Para ele, o corte de juros será de apenas 0,75 ponto porcentual em julho.

Juro real. Mesmo com o corte de 1 ponto porcentual da Selic ontem, o Brasil segue em posição desfavorável no ranking de maiores taxas reais (descontada a inflação) do mundo. Mas deixou a liderança desse ranking. Levantamento do site MoneYou e da Infinity Asset Management mostra que, numa lista com os 40 países mais relevantes no mercado global de renda fixa, o Brasil tem o segundo juro real mais elevado, de 4,30% ao ano. Apenas a Rússia, com 4,57%, tem situação pior que a do Brasil. / COLABOROU ANDRÉ ÍTALO ROCHA

Inflação

4% é a projeção da inflação para este ano no cenário básico do Banco Central

4,6% é a projeção para 2018

 

O Estado de São Paulo, n. 45152, 01/06/2017. Economia, p. B1