O globo, n.30719 , 14/09/2017. ARTIGO, p.10

Temer perde outra. Lula confronta Palocci

 RICARDO NOBLAT

14/09/2017

 

 

Ufa! Mais um dia exemplar, o de ontem, do período de maior turbulência política vivido pelo país desde que a Lava-Jato, ainda sem ser chamada por tal nome, deu o ar de sua graça no início do primeiro semestre de 2014, a poucos dias da reeleição da presidente Dilma.

O presidente Michel Temer tomou o café da manhã no Palácio da Alvorada com quase 20 ministros e líderes de partido para pedir pelo amor de Deus que defendam o governo sempre que ele for criticado. “Não me abandonem”, deve ter pensado, mas não disse. Deu no mesmo.

O empresário Wesley Batista, irmão de Joesley, um dos donos do Grupo J&F, foi preso em São Paulo, acusado de ter-se beneficiado de informação privilegiada. Os irmãos faturaram sua própria delação, lucrando US$ 100 milhões com a venda de dólares no mercado futuro.

No Rio, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) sequer pôde terminar seu comentário ao vivo na Rádio Tupi — foi preso por agentes federais, suspeito de trocar votos pela inclusão de famílias no programa social Cheque Cidadão, em Campos dos Goytacazes.

Lula foi de táxi a Curitiba para depor pela segunda vez ao juiz Sergio Moro. De táxi, não, de carro. Faltou jatinho. Ou sobrou modéstia. Cinco mil simpatizantes o recepcionaram — uma mixaria. Estava sob o efeito perverso das confissões recentes do ex-ministro Antonio Palocci.

A tão aguardada sessão do Supremo Tribunal Federal, destinada a examinar pedidos da defesa de Temer em guerra aberta contra Rodrigo Janot, procurador-geral da República, infringiu no fim da tarde mais uma derrota acachapante ao governo. A Temer, para ser preciso.

O pedido de suspeição de Janot “por lhe faltar isenção, imparcialidade” foi recusado por unanimidade. A apreciação do pedido de suspensão de uma eventual segunda denúncia de Janot contra Temer não foi concluída. O que significa na prática que o procurador poderá fazê-la. E o fará.

O ministro Gilmar Mendes, favorável ao segundo pedido e à anulação das provas que ampararam a primeira denúncia de Janot contra Temer por corrupção passiva, não protagonizou o show que se esperava dele. Comportou-se com discrição. Cada um sabe onde os calos lhe apertam.

A defesa de Temer plantou barulho. Colheu reveses. Lula, em Curitiba, colheu parte do que plantou ao longo de sua trajetória de político que sempre viveu de obséquios. Tentou explicar alguns deles. Embaraçado, chamou Moro de “querido” e foi para cima do ex-ministro Palocci.

Chamou-o de “frio, calculista e dissimulado”. O advogado de Palocci deu-lhe o troco: “Enquanto meu cliente mantinha o silêncio, Lula dizia que ele era um homem inteligente. Agora que ele começou a falar verdade, diz que é tudo mentira, que ele é dissimulado. Dissimulado é Lula”.