O globo, n.30735 , 30/09/2017. PAÍS, p.4

Pressionado, Bonifácio diz que só sairá da relatoria se for obrigado

MARIA LIMA

CATARINA ALENCASTRO

CRISTIANE JUNGBLUT 

30/09/2017

 

 

Tucanos oposicionistas dizem que indicação foi articulação do governo

 

“Se o líder do meu partido se articular com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça e me afastar, eu aceito” Bonifácio de Andrada Deputado Federal do PSDB (MG)

Mais um capítulo na disputa do Senado com o STF. A nomeação do tucano Bonifácio de Andrada (MG) para relatoria da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) reacendeu a guerra interna entre governistas e não governistas na bancada do PSDB na Câmara.

Bonifácio diz que foi indicado, aceitou, e só sairá se o líder do seu partido, Ricardo Tripoli (PSDB-SP), em acerto com o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), o tirar da comissão.

O presidente interino do PSDB, Tasso Jeiressati (PSDBCE), tenta acalmar a bancada e, depois de conversar com Bonifácio, espera uma resposta definitiva dele até segunda-feira se vai aceitar mesmo a indicação.

— Eu conversei com o deputado Bonifácio e ele me disse que estava analisando o processo da denúncia para tomar uma decisão até segunda-feira — contou Tasso Jereissati.

Bonifácio de Andrada nega que a conversa com Tripoli tenha sido ríspida, mas confirma a pressão para deixar o cargo, o que só fará se for afastado da comissão em um acerto do líder do PSDB com o presidente da CCJ.

— O deputado Tripoli é um homem educado. Conversou comigo. O presidente da CCJ tem o poder de nomear o relator, me convidou e eu aceitei. Me acho apto. Sou professor de Direito Constitucional. Votei contra a primeira denúncia levando em conta aspectos técnicos. Agora, quanto às questões políticas, estou fora. Fui indicado, sou membro da comissão. Mas, se o líder do meu partido se articular com o presidente da CCJ e me afastar, eu aceito — disse Bonifácio.

Na avaliação dos chamados “cabeças pretas”, integrantes mais jovens do PSDB e críticos ao governo, a escolha foi uma articulação do Palácio do Planalto com o senador afastado Aécio Neves (MG). “A burrice dos mineiros”, dizem, pode piorar ainda mais a situação do presidente licenciado da sigla. Já a ala governista, da qual faz parte o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, diz que obrigar Bonifácio de Andrada a renunciar à indicação para a relatoria é , na prática, a cassação de seu mandato.

— O deputado Bonifácio é um homem respeitabilíssimo, uma das figuras de maior prestígio dentro do PSDB. Tentar tirá-lo da relatoria é uma coisa absurda. Foi nomeado e, por uma ordem do partido, tem que não aceitar? Querem cassar o mandato dele? Isso só pode ser fofoca, futrica de uma parte da bancada. Eu não acredito que a direção ou a liderança do PSDB encampem esse tipo de mesquinharia — declarou o chanceler.

 

ACORDO ROMPIDO

Os tucanos não governistas da Câmara dizem que Pacheco rompeu um acordo firmado com Tripoli de não indicar para a relatoria integrantes do PSDB e, assim, não expor o partido ainda mais e constranger os deputados que vão votar a favor da autorização para que Temer seja investigado. Se Bonifácio insistir em continuar na relatoria, dizem, “a coisa vai desandar”.

— A decisão do governo foi para provocar o PSDB e o racha interno, uma decisão que está acirrando ânimos. E o Rodrigo Pacheco, como presidente da CCJ, de forma alguma poderia ter feito esse jogo combinado com o governo — diz o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE).