O globo, n.30735 , 30/09/2017. PAÍS, p.5

Gravações mostram Funaro com políticos em SP

JAILTON DE CARVALHO

30/09/2017

 

 

Imagens do circuito interno do escritório do operador estão com PF; e envolvem acusados de receber propina

O disco rígido entregue pelo operador Lúcio Bolonha Funaro aos investigadores da Operação Lava-Jato, como parte dos documentos da delação premiada, contém cenas de encontros com políticos e empresários durante os 18 meses que antecederam a prisão dele. Funaro está preso desde 1º de julho do ano passado. O material já foi encaminhado à perícia da Polícia Federal. As imagens, gravadas pelo circuito interno de TV do escritório de Funaro em São Paulo, podem comprometer ainda mais políticos suspeitos de receber propina do operador.

Durante os depoimentos da delação premiada, Funaro se comprometeu a entregar o disco rígido e apontar os motivos das conversas que teve com políticos e empresários que o visitavam, segundo disse ao GLOBO uma fonte vinculada ao caso. A delação de Funaro é um dos pilares da segunda denúncia que o exprocurador-geral da República Rodrigo Janot apresentou contra o presidente Michel Temer. O peemedebista foi denunciado por integrar uma organização criminosa e por tentar obstruir as investigações da Lava-Jato.

A delação de Funaro também atinge dois dos principais ministros de Temer, Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil), e pelo menos mais 20 políticos ligados ao exdeputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ainda reforça as acusações contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima, um dos principais ex-auxiliares de Temer. Geddel voltou a ser preso em regime fechado no dia 8 deste mês, depois que a polícia descobriu caixas e malas cheias com R$ 51 milhões em espécie num apartamento que estava sob a responsabilidade dele em Salvador.

Na delação, Funaro confirma que recebeu dinheiro do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, para permanecer em silêncio. Também aponta o suposto envolvimento de Temer e de outros políticos do PMDB, especialmente daqueles mais próximos do ex-deputado Eduardo Cunha, de receberem dinheiro de origem ilegal. Em nota, o advogado Daniel Gerber, encarregado da defesa de Padilha, afirma que a delação de Funaro não imputa ao ministro “nenhum ato ilícito”.