Correio braziliense, n. 19742, 15/06/2017. Economia, p. 7

 

No radar da Lava-Jato, bancos cogitam acordo

Antonio Temóteo 

15/06/2017

 

 

JUSTIÇA » Instituições financeiras procuram se antecipar à delação premiada do ex-ministro Palocci e buscam informações sobre contratos de leniência. Investigadores suspeitam que houve pagamento de propinas a agentes públicos em troca de benefícios legais

Investigadores da Lava-Jato estão animados com a possibilidade de que alguns bancos se antecipem à assinatura de uma eventual delação premiada do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci e celebrem acordos de leniência para revelar as promíscuas relações que mantêm com políticos. Tanto a Polícia Federal (PF) quanto o Ministério Público Federal (MPF) suspeitam que o pagamento de propina para agentes públicos em troca da aprovação de projetos de lei e de medidas provisórias que beneficiaram  instituições financeiras tenha ocorrido durante os governos petistas.

A pressa das instituições se justificaria para evitar corridas bancárias que poderiam afetar a liquidez do sistema financeiro. Além disso, os bancos temem desvalorizações significativas de suas ações. Com a atitude proativa, destacou um executivo próximo a diversos banqueiros, as empresas do setor financeiro teriam condições de negociar as penas e condições para o pagamento de eventuais multas.

Como revelou o Correio, a proposta de delação de Palocci já possui 12 anexos e inclui bancos, empresas dos setores automotivo e sucroalcooleiro e relações suspeitas de empresários com a Receita Federal. Da proposta constam documentos, comprovações de reuniões e nomes de pessoas com as quais ele se relacionou no período em que foi ministro. O documento traz, ainda, relatos de conversas destinadas a arrecadar recursos para as eleições de Lula, em 2006, e de Dilma, em 2010, quando Palocci foi o coordenador-geral da campanha, auxiliado pelo então presidente do PT, José Eduardo Dutra, e pelo então futuro ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. O trio, à época, foi apelidado de “os três porquinhos”.

Os investigadores suspeitam que o mesmo expediente usado por diversas construtoras, que fizeram pagamentos para campanhas via caixa dois e distribuíram propina quando era solicitada, foi empregado pelas instituições financeiras. Emissários de alguns bancos têm sondado procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Brasília e em Curitiba.

Diante da polêmica sobre a edição de medida provisória que autoriza o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários a celebrar acordos de leniência no âmbito administrativo, alguns banqueiros avaliam que procurar o MP seria o melhor caminho para evitar surpresas no processo de negociação.

Entre os procuradores, também há a suspeita de que o doleiro Lúcio Funaro, apontado como principal operador financeiro do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teria informações que poderiam comprometer instituições financeiras. Conforme relatos dos procuradores, Funaro negocia uma colaboração com a Lava-Jato e, para isso, contratou o advogado Antônio Figueiredo Basto, especialista em delações premiadas. As eventuais revelações do operador também ajudariam outras investigações realizadas pela PF e pelo MPF. Ele é alvo das operações Sépsis, Cui Bono e Greenfield.

Funaro entrou no radar dos investigadores após apreensões realizadas durante a Operação Catilinária. Mensagens identificadas do celular de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, indicado por Cunha, mostram que ele e Funaro operavam em conjunto com o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima para liberar financiamentos da Caixa para diversas empresas, entre ela a JBS, do grupo J&F.

Geddel, Cunha, Fábio Cleto e Marcos Roberto Vasconcelos, ex-vice-presidente de Gestão de Ativos de Terceiros da Caixa, são suspeitos de oferecer vantagens a diversas empresas para liberação de financiamentos do banco público em troca de propina. Os investigadores identificaram o pagamento de mais de R$ 1 milhão da Eldorado, empresa do grupo J&F, para Funaro.