O Estado de São Paulo, n. 45231, 19/08/2017. Política, p.A9

 

Ex-líder de Lula e Dilma é preso na Lava Jato

Ex-deputado Cândido Vaccarezza é suspeito de receber US$ 500 mil do esquema na Petrobrás

Por: RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO, JULIA AFFONSO e LUIZ VASSALLO

 

O ex-deputado Cândido Vaccarezza (ex-PT-SP) foi preso ontem pela Polícia Federal em nova etapa da Lava Jato. O ex-líder dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff na Câmara é investigado pelo recebimento de US$ 500 mil do esquema na Petrobrás. Vaccarezza foi preso em São Paulo por ordem do juiz Sérgio Moro.

Ontem, foram cumpridas ordens judiciais das fases 43 (Sem Fronteiras) e 44 (Abate) da Lava Jato. As duas etapas da investigação foram deflagradas simultaneamente. Vaccarezza foi alvo da Operação Abate. Segundo o Ministério Público Federal no Paraná, o ex-deputado, líder do PT na Câmara de janeiro de 2010 a março de 2012, usou a “influência decorrente do cargo” em favor da contratação de uma empresa americana pela Petrobrás, o que resultou na celebração de 12 contratos, entre 2010 e 2013, no valor de US$ 180 milhões.

A empresa fornecia asfalto para a estatal brasileira e foi citada na delação do ex-diretor da companhia Paulo Roberto Costa. “Na divisão das propinas, há documentos indicando seu direcionamento tanto para a ‘casa’ (funcionários da Petrobrás) como para o ‘PT’. Os valores devidos ao partido, totalizando cerca de US$ 500 mil, foram destinados em grande parte a Vaccarezza”, disse a força-tarefa.

Moro ordenou o bloqueio de R$ 6 milhões de Vaccarezza e de mais seis investigados. O delegado da PF Filipe Hille Pace afirmou ainda que “chamou a atenção a quantidade de dinheiro” que o ex-deputado mantinha em casa – R$ 122 mil – sem justificativa. “Não identificamos o porquê do dinheiro (em casa)”, disse o delegado.

Cônsul. Já a Operação Sem Fronteiras apura repasses de estaleiros gregos a executivos da Petrobrás em troca de informações privilegiadas e contratos. A investigação teve início após relato do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que fez delação, e envolve o cônsul honorário da Grécia no Brasil, Konstantinos Kotronakis.

Moro proibiu o cônsul de deixar o País. O Ministério Público Federal havia pedido a prisão preventiva de Kotronakis. O juiz, porém, substituiu “as medidas mais drásticas por cautelares alternativas”.

O advogado de Vaccarezza, Marcellus Ferreira Pinto, afirmou, em nota, que o ex-deputado “nunca intermediou qualquer tipo de negociação entre empresas privadas e a Petrobrás”. Segundo o advogado, a prisão foi decretada com base em delações “contraditórias”. O PT disse desconhecer a investigação relativa ao ex-filiado.

A defesa de Kotronakis afirmou que o cônsul “está sob cuidados médicos em sua cidade nata e, assim que se recuperar, estará à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos”./ RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO, JULIA AFFONSO e LUIZ VASSALLO

 

- Investigação

“As evidências indicam que sua atuação (Cândido Vaccarezza) ocorreu no contexto do esquema político-partidário que drenou a Petrobrás, agindo em nome do Partido dos Trabalhadores.”

FORÇA-TAREFA DA OPERAÇÃO LAVA JATO

 

 

 

 

 

Crítico de ladrão deve entrar na política, diz Lula

Por: Ricardo Galhardo

 

Ricardo Galhardo

ENVIADO ESPECIAL CRUZ DAS ALMAS (BA)

Condenado a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Lava Jato no caso do triplex do Guarujá, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, no segundo dia da caravana pelo Nordeste, que, se o cidadão não quiser ser governado por “ladrão”, deve ele mesmo entrar na política.

“Quando você disser que o Lula é ladrão, que o deputado tal é ladrão, que o prefeito tal é ladrão, quando todo mundo for ladrão e ninguém prestar, ainda assim você vai ter que tomar uma decisão que é a de entrar na política. Porque o político honesto que vocês querem está dentro de vocês”, disse o ex-presidente em palestra com ares de comício na 4.ª Jornada da Juventude em Cruz das Almas.

Proibido pela Justiça de receber o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Lula participou de dois atos públicos na cidade. O primeiro, na entrada da instituição, foi organizado às pressas para preencher a lacuna na agenda da caravana. Antes, o petista visitou a universidade fundada em 2006, no fim de seu primeiro governo, e foi recebido pela direção, professores e funcionários.

O segundo foi a palestra na jornada. Para evitar problemas com a Justiça Eleitoral, o prefeito de Cruz das Almas, Orlandinho (PT), tratou de dizer que aquilo não se era campanha antecipada nem configurava uso eleitoral da máquina municipal.

Em entrevista a uma rádio em Salvador, Lula afirmou que o ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT) e o atual, Rui Costa (PT), são potenciais candidatos à Presidência em 2018, caso ele não possa concorrer.

Futebol. Na mesma entrevista, Lula usou uma metáfora futebolística para provocar o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), potencial adversário do petista nas eleições de 2018. “O papel dele (Doria) é o seguinte: eu vou atacar o Messi ou Mascherano no Barcelona? Vai no Messi”, disse.

Em evento para empresários em Fortaleza, o tucano respondeu: “Lula, você disse que é o Messi, eu prefiro ser o Neymar, brasileiro e negro. Venha disputar a eleição, que você vai perder”.