Correio braziliense, n. 19755, 28/06/2017. Política, p. 2

 

Temer reage e vai para cima de Janot 

Rodolfo Costa e Paulo de Tarso Lyra 

28/06/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » Depois de ser denunciado por corrupção passiva, o presidente sobe o tom, cobra as provas da acusação e insinua que o procurador-geral recebeu dinheiro. Defesa quer acelerar a tramitação do processo no Supremo para que a Câmara analise logo o pedido da PGR

Um dia após ser denunciado por corrupção passiva pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente Michel Temer fez um pronunciamento duro, agressivo, atacando diretamente o chefe do Ministério Público Federal.  Redigido com o auxílio dos advogados de defesa e do marqueteiro do PMDB Elsinho Mouco, o pronunciamento qualifica a denúncia de “ficção”. “Criaram uma trama de novela”, declarou. O peemedebista afirmou, ainda, não ter recebido qualquer valor de propina, como alega Joesley. “Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores? Inexistem”, afirmou.

Em tom irônico, Temer manteve as críticas à denúncia, a qual chamou de ilação, dizendo que o malabarismo surpreenderia estudantes de direito. Garantiu que não existem provas de que ele tenha recebido os R$ 500 mil pagos pela JBS a Rodrigo Rocha Loures. O presidente considerou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) “reinventou” o Código Penal, incluindo uma “nova categoria”, o que ele chamou de “denúncia por ilação”. Os ataques foram feitos no mesmo dia em que a PGR elegeu a lista tríplice com os cotados para substituir Janot a partir de setembro. “Abriu-se, portanto, meus amigos deputados, deputadas, senadores e senadoras, minhas senhoras e meus senhores, um precedente perigosíssimo em nosso direito. Esse tipo de trabalho trôpego permite as mais variadas conclusões sobre pessoas de bem e honestas”, declarou.

Antes de sua fala, Temer fez questão de encaminhar mensagem aos parlamentares da base de sustentação no Congresso para fazer número atrás do púlpito, montado no Salão Leste do Palácio do Planalto. Além de Janot, o presidente também atacou o ex-procurador e advogado Marcello Miller, que trabalha no escritório Trench, Rossi & Watanabe Advogados, responsável por ter fechado a delação premiada de Joesley.

O presidente da República chamou o advogado de “homem da mais estrita confiança do senhor procurador-geral”.  Pelos critérios do que Temer considerou como “denúncia por ilação”, o peemedebista insinuou que o procurador-geral teria facilitado a saída de Miller da PGR, que, na opinião do presidente, é um emprego dos sonhos para “milhares de jovens acadêmicos”.

Temer acrescentou que, mesmo assim, Miller abandonou o MP para trabalhar em uma “empresa que faz delação premiada. “E vocês sabem que quem deixa a Procuradoria tem uma quarentena, se não me engano, de dois ou três meses. Não houve quarentena nenhuma. O cidadão saiu e já foi trabalhar, depois de procurar a empresa para oferecer serviços. Foi trabalhar para essa empresa e ganhou, na verdade, milhões em poucos meses”, disse.

O presidente insinuou, também, que Janot poderia ter recebido parte desses “milhões”. “Poderíamos, talvez, concluir que os milhões não fossem unicamente para o assessor de confiança que deixou o cargo de procurador da República. E eu volto a dizer que eu não quero fazer ilações. Não denuncio sem provas.”

“Batalhas e guerra”

O peemedebista assegurou, no entanto, que a “disposição” em permanecer à frente do Planalto não diminuirá com os ataques irresponsáveis. “Não fugirei das batalhas, e nem da guerra que teremos pela frente. Não quero ataques à instituição da Presidência da República e muito menos ao homem Michel Temer. Não me faltará coragem para seguir na reconstrução do país e na defesa da minha dignidade pessoal”, concluiu.

Em nota, Miller comunicou que não cometeu nenhum ato irregular e que não responderá às “afirmações a seu respeito pela imprensa”. “Apenas me manifestarei perante as autoridades com competência para examinar os fatos e com interesse na aferição da verdade”, declarou.

Janot, por sua vez, declarou, em nota, que a denúncia é baseada em “fartos elementos de prova”, como laudos da Polícia Federal, relatórios circunstanciados, registros de voos, contratos, depoimentos, gravações ambientais, imagens, vídeos, certidões, entre outros documentos. “Não deixam dúvida quanto à materialidade e a autoria do crime de corrupção passiva. A peça foi submetida à análise do Supremo Tribunal Federal (STF) e seguirá o trâmite previsto na Constituição Federal”, afirmou.

O procurador-geral reafirmou que tem o “compromisso do trabalho realizado como chefe do Ministério Público da União (MPU)” com o “propósito de garantir a probidade, a transparência e responsabilidade no trato da coisa pública”.

Pedido a Fachin

Enquanto agia no campo político, a defesa de Temer atuava na área jurídica. O advogado Gustavo Guedes pediu ontem ao ministro Edson Fachin, relator do processo da JBS no Supremo Tribunal Federal (STF), que encaminhe diretamente à Câmara a denúncia, sob a argumentação de que, dessa forma, a tramitação seria mais rápida.

O pedido foi feito em uma audiência no gabinete de Fachin. O recurso faz parte da estratégia do Planalto de acelerar a tramitação das denúncias na Câmara. Segundo Gustavo Guedes, se for aberta para a apresentação de uma defesa prévia ainda no STF, isso atrasaria, porque a Corte entra em recesso em julho e ainda haveria uma outra fase em que a defesa poderia se manifestar na Câmara. Segundo ele, se for direto para o parlamento, haveria apenas uma manifestação.