O presidente Michel Temer recebeu a sucessora de Rodrigo Janot na Procuradoria-Geral da República, Raquel Dodge, no Palácio do Jaburu, anteontem, por volta das 22 horas. O encontro, que não constava na agenda oficial, ocorreu no mesmo dia em que a defesa de Temer protocolou no Supremo Tribunal Federal pedido de suspeição de Janot, sob alegação de que o procurador “extrapola” limites constitucionais e legais do cargo.

O mandato de Janot, que denunciou Temer por corrupção passiva e o investiga por obstrução da Justiça e organização criminosa, se encerra em 17 de setembro. A chegada de Raquel ao Palácio do Jaburu foi flagrada por câmera da TV Globo.

Questionada, Raquel respondeu ao Estado que a audiência foi usada para tratar de assuntos ligados à sua posse. “O presidente indagava sobre a data e horário possível para a minha posse, pois precisa viajar para os EUA no dia 18 de setembro, segunda, para fazer a abertura da Assembleia-Geral da ONU no dia 19. O mandato do PGR termina no dia 17, domingo.”

Ontem Raquel enviou a Janot um ofício com a comunicação sobre o encontro com o presidente da República e o acerto sobre a data da posse.

Segundo a assessoria de imprensa da Presidência, Temer já tinha saído do Planalto e finalizado sua agenda “quando recebeu o telefonema da procuradora-geral solicitando uma conversa”. “O presidente se prontificou a atendê-la e a recebeu no Palácio do Jaburu.”

De acordo com interlocutores de Temer, uma das possibilidades tratadas no encontro foi de a posse de Raquel ser no Planalto. Ainda não foram acertados os detalhes da solenidade, mas o cerimonial do palácio já deve começar as conversas com a PGR. Quando o procurador assume pela primeira vez o cargo, a tradição é que a posse ocorra na sede da Procuradoria.

Embate. A cerimônia no Planalto seria um sinal de reaproximação de Temer com a PGR, já que a relação dele com Janot tem sido de embate desde a denúncia. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Temer disse que as mudanças na PGR “darão o rumo correto à Lava Jato”.

Dias antes da reunião com Raquel, Temer já havia recebido no Jaburu o ministro do STF Gilmar Mendes, também fora da agenda. Gilmar tem feito críticas abertas a Janot, a quem chamou de “desqualificado”.

O recebimento por Temer de visita fora da agenda, no Jaburu, foi um dos motivos da maior crise política enfrentada pelo presidente. Em encontro noturno, Temer recebeu o empresário Joesley Batista, do Grupo J&F, que gravou a conversa com o presidente. Na denúncia contra Temer por corrupção passiva, Janot citou a visita de Joesley. “As circunstâncias desse encontro – em horário noturno e sem qualquer registro na agenda oficial do presidente – revelam o propósito de não deixar vestígios dos atos criminosos lá praticados”, disse o procurador. Temer nega irregularidades.