Correio braziliense, n. 19802, 10/08/2017. Política, p. 3

 

Raquel diz que tratou da posse com Temer

Renato Souza

10/08/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » A futura procuradora-geral da República afirma que a reunião com o presidente no Palácio do Jaburu tratou da cerimônia de transmissão do cargo

A próxima procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que o encontro com o presidente Michel Temer, no fim da noite de terça-feira, no Palácio do Jaburu, em Brasília, teve como objetivo tratar dos detalhes da posse dela, que ocorrerá após o término do mandato do atual chefe do Ministério Público Federal, Rodrigo Janot. Ele deixa o cargo em 17 de setembro, após quatro anos à frente do órgão. Em um ofício, enviado ao colega de MPF, Raquel informa que a cerimônia para conduzi-la ao cargo está marcada para o dia 18 do mês que vem.

Apesar de contar que o pedido para o encontro com Temer tenha sido feito há mais tempo, Raquel Dodge confirma que a reunião só foi marcada após o pedido de suspeição de Janot ter sido protocolado pela defesa do presidente no Supremo Tribunal Federal (STF). “A solicitação para esse encontro foi feita há vários dias. Mas só foi marcado na terça-feira mesmo, após o pedido de suspeição que foi realizado pela defesa do presidente. O objetivo foi acertar detalhes da posse, como informado no ofício que encaminhei ao procurador Rodrigo Janot”, afirmou ao Correio.

A procuradora disse ainda que a cerimônia de posse será no dia 18 por causa da viagem de Michel Temer para participar da Assembleia Geral das Nações Unidas  em Nova York, onde ele participa da abertura do evento e deve passar, no mínimo, dois dias. O evento na ONU começa no dia 19, logo pela manhã.

Denúncia

A reunião com Temer, que levantou polêmica, ocorreu às 22h de terça-feira, apenas algumas horas depois de a defesa do presidente pedir o afastamento de Janot nos processos envolvendo o presidente. Mesmo alegando que o encontro discutiu apenas os detalhes da posse, Raquel ficou cerca de uma hora dentro do Palácio do Jaburu. A procuradora foi indicada pelo peemedebista em 28 de junho, após ficar em segundo lugar na lista tríplice formada pelos votos dos procuradores e subprocuradores do Ministério Público. De acordo com a assessoria de Temer, a posse vai ocorrer nas dependências do Palácio do Planalto.

Caso o procurador Janot seja declarado suspeito pelo STF nos processos envolvendo Temer, como quer a defesa, ela assumiria a responsabilidade de decidir por enviar ou não novas denúncias contra o presidente à Corte. Se ficar no caso, Janot tem até o dia 17 do próximo mês para apresentar novas acusações. A denúncia por corrupção passiva foi arquivada na semana passada pela Câmara dos Deputados. O processo fica parado até o dia 1º de janeiro de 2019 se não houver reeleição.

Uma das denúncias que está nas mãos de Janot é a investigação sobre associação criminosa, que pode ser concluída a qualquer momento. O procurador-geral não tem prazo para realizar o pedido de abertura de inquérito ao Supremo. De acordo com declarações do próprio Janot, ele reúne provas e não descarta a hipótese de novos acordos de delação premiada serem usados para embasar a denúncia. Novas acusações no exercício do mandato de Temer precisam obter autorização da Câmara para avançar.