Correio braziliense, n. 19815, 23/08/2017. Política, p. 4.

 

 

Funaro fecha delação com a força-tarefa

Renato Souza

23/08/2017

 

 

O Ministério Público Federal (MPF) não quer perder tempo e marcou para esta semana o primeiro depoimento do doleiro Lúcio Funaro. Ele assinou ontem um acordo de delação premiada. Após meses de negociação, o mais novo delator da Operação Lava-Jato decidiu contar o que sabe. O documento que define as regras do acordo foi formalizado na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília. A expectativa é de que Funaro dê detalhes sobre negociatas de caciques do PMDB, o partido do presidente Michel Temer.

Um impasse entre os procuradores e o doleiro por causa dos benefícios provenientes da colaboração impedia que o acordo fosse fechado. Outra dificuldade nas negociações foi o fato de que Funaro violou um acordo anterior e voltou a cometer crimes, mesmo após assumir o compromisso perante a Justiça de que não se envolveria mais com corrupção. No entanto, os procuradores entenderam que as informações que estão em posse do delator são fundamentais para o avanço das investigações contra os envolvidos no esquema, incluindo autoridades com foro por prerrogativa de função.

 

Troca de cadeia

Na semana passada, Lúcio Funaro contou que tem novas revelações para fazer sobre a arrecadação de dinheiro para políticos do PMDB na Câmara dos Deputados. Os termos do acordo de delação foram decididos em uma reunião que ocorreu na segunda-feira à noite. O doleiro, que estava no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, foi transferido para uma cela na carceragem da Polícia Federal.

Na PF, o doleiro passou a tarde conversando com a equipe do advogado Antônio Figueiredo Basto, responsável pela negociação. No começo da noite, recebeu a visita do delegado Marlon Cajado, responsável pela investigação da Operação Patmos, desdobramento da delação da JBS. Após uma conversa, os dois saíram em uma patrulha da PF com destino à Procuradoria-Geral da República, onde definiram o conteúdo do acordo.

A mudança no local de prisão ocorre para facilitar o deslocamento do delator para os locais onde vai prestar depoimento. Funaro afirma ter se encontrado pessoalmente com o presidente Michel Temer. Alguns políticos que podem ser citados pelo doleiro são os ex-ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, além do ex-deputado Eduardo Cunha, que já está preso em Curitiba.