O globo, n.30760 , 25/10/2017. PAÍS, p. 5

Ato de artistas no Rio contra Temer termina com bombas

MARCO GRILLO

 

 

Ação de polícia com gás e spray de pimenta provoca correria na Cinelândia

A manifestação organizada por artistas contra o presidente Michel Temer, na Cinelândia, Centro do Rio, terminou com a Polícia Militar disparando bombas de efeito moral e spray de pimenta nos participantes.

Enquanto os artistas seguravam faixas na escadaria da Câmara de Vereadores, um grupo com camisas pretas se posicionou atrás. Depois, quando a maior parte dos artistas já havia ido embora, black blocs colocaram máscaras e picharam “Fora Temer” na parte externa da Câmara. Os policiais expulsaram os manifestantes com bombas de efeito moral e spray de pimenta, e houve correria na praça.

O ato começou na Candelária com palavras de ordem contra Temer, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e mensagens contra a reforma trabalhista e a portaria que alterou as regras do trabalho escravo — suspensa ontem pelo STF. O grupo percorreu a Avenida Rio Branco até a Cinelândia. Outros gritos entoados foram “Fora, Crivella”, em referência ao prefeito do Rio, e “sem censura”.

O ato foi capitaneado pelo #342 agora, liderado pela produtora Paula Lavigne, e teve a participação de outros grupos. Hoje, a Câmara dos Deputados vota se aceita ou barra o prosseguimento da segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer, esta por organização criminosa e obstrução à Justiça. O nome do movimento é uma referência à quantidade de votos necessária para que a denúncia prossiga.

A manifestação foi convocada pelas redes sociais com o título “Inaceitável”. Além da classe artística, havia representantes de outros setores da sociedade civil no ato.

— Voltamos de uma turnê de dois anos na época da votação da primeira denúncia e vimos que a situação do país era inaceitável. Existe uma onda reacionária que chegou com força — afirmou Paula Lavigne.

Para o ator Michel Melamed, que citou as emendas parlamentares liberadas pelo governo às vésperas da votação e a gravação de Aécio com o empresário Joesley Batista, a situação “ultrapassou qualquer limite de razoabilidade e decência”:

— Todo mundo ouviu o Aécio dizendo “tem que ser um que a gente mata antes de fazer delação” e viu o (Rodrigo) Rocha Loures (então assessor de Temer) correndo com a mala de propina. Não tem que manter isso aí. É todo mundo contra o Temer — afirmou.

As atrizes Júlia Lemmertz e Alinne Moraes também participaram do ato.