Correio braziliense, n. 19855, 02/10/2017. Política, p. 4.

 

Pelo "novo", políticos trocam de partidos

Alessandra Azevedo

02/10/2017

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Diante do desejo da população por renovação no pleito do ano que vem - expressado em pesquisas de intenção de votos - parlamentares mudam de legenda

 

 

Com as eleições batendo à porta e sem definição sobre a reforma política, deputados ainda tentam decidir a melhor estratégia para conseguir angariar votos no ano que vem. Até agora, a troca de partidos tem sido uma das mais corriqueiras opções para os candidatos que pretendem se desvincular da alcunha da “política tradicional”, cada vez mais rechaçada pela opinião pública. Ao se tornar Podemos, o ex-PTN, por exemplo, conseguiu atrair 16 novos deputados para a bancada. Até agora, a sigla foi o maior destino dos deputados insatisfeitos, seguida por PP e DEM, que ganharam oito novos membros, cada, desde 2015, e o PTdoB, que trocou o nome para Avante e conseguiu mais cinco para a lista.

Em contrapartida, os que mais sofreram perdas nas bancadas desde as últimas eleições foram justamente partidos grandes, que disputaram o segundo turno para a presidência da República. Os maiores baques foram no PT, cuja bancada minguou de 69 para 58 representantes na Câmara, e o PSDB, que perdeu oito integrantes — de 54 para 46. O PMDB, partido do presidente Michel Temer, está desfalcado em três integrantes desde a posse.

Da mesma forma que o Avante e o Podemos, tirar o “partido” do nome também é a estratégia de grandes siglas, como o PMDB, que voltará a ser MDB, e o DEM, que estuda um novo nome, talvez para Mude. “As siglas que estão tirando partido e vendendo a ideia de nova política têm atraído mais interessados, porque entendem que a sociedade quer mudanças. Estamos em uma fase de enfraquecimento da política tradicional. Perdem força candidatos com muitos mandatos, figuras marcadas, enquanto caras novas tendem a atrair votos”, explica Neuriberg Dias, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Para ele, é só o nome que muda, “os programas de governo não têm nada de novo até agora”.

O problema é que as migrações costumam ser por causa da crise política e partidária, e sem inovações ideológicas, aponta André Mattos, especialista eleitoral do escritório Nelson Willians Advogados. “Uma das formas mais fáceis de trocar de partido é criando um novo”, pontua. Por isso, correm atualmente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 68 pedidos de reconhecimento de novas siglas. Entre 2012 e 2016, foram criadas seis. O lado positivo, para quem resolve ter uma legenda, é que, além de ser a melhor justificativa para trocar a qualquer tempo, eles não serão afetados pela reforma política. “A reforma não atrapalha a criação, mas pode alterar a sobrevivência deles”, alerta Mattos.

 

Risco

Com base nas eleições de 2014, o Diap concluiu que, dos 28 partidos que hoje ocupam a Câmara, apenas 18 conseguiriam representantes se as regras fossem como as que são propostas atualmente, com a cláusula de desempenho. “Alguns pequenos e até médios não conseguiriam. E esses novos, que estão sendo criados agora, não têm base forte. Eles teriam uma desvantagem muito grande em relação a quem já está consolidado”, alertou Dias. Por isso, ao mesmo tempo, em que a “velha política” perde força, migrar para os novos partidos pode se tornar uma estratégia arriscada.

“Em relação ao eleitorado, os políticos sabem que há uma percepção de mudança, o que leva à tendência de migrar, mas a regra eleitoral traz uma desvantagem, porque esses partidos, comparados aos grandes, têm baixa representatividade e podem ser asfixiados mais para a frente”, avalia o analista do Diap. Diante do cenário, muitos políticos, segundo ele, estão esperando a conclusão da reforma antes de qualquer passo, e ainda há tempo. O último dia para o candidato se filiar a um partido político ou trocar de legenda será 7 de abril de 2018, seis meses antes da eleição.

 

Frase

“Em relação ao eleitorado, os políticos sabem que há uma percepção de mudança, o que leva à tendência de migrar, mas a regra eleitoral traz uma desvantagem, porque esses partidos, comparados aos grandes, têm baixa representatividade e podem ser asfixiados mais para a frente”

Neuriberg Dias, analista político