Título: Punição a militares rebeldes
Autor: Gama, Júnia
Fonte: Correio Braziliense, 01/03/2012, Política, p. 7

Oficiais da reserva publicaram novo manifesto com críticas à presidente Dilma

O governo decidiu ontem que serão punidos os cerca de 100 militares que assinaram novo manifesto reafirmando a validade do texto que criticava a presidente Dilma Rousseff por não reagir às declarações de duas ministras sobre a ditadura. A nota ataca ainda o ministro da Defesa, Celso Amorim, a quem os subordinados afirmam não reconhecer "qualquer tipo de autoridade ou legitimidade".

A irritação da presidente Dilma Rousseff atingiu o ápice com a publicação do manifesto. Ela acionou Amorim que, na manhã de ontem, convocou os comandantes das Forças Armadas para tratar o tema. Por telefone, o ministro da Defesa conversou com os chefes da Aeronáutica e da Marinha, e teve um encontro com o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri. Ficou acertado que cada corporação irá punir os militares de acordo com os regimentos internos de cada uma. A reprimenda pode ir de uma simples advertência até uma expulsão.

No texto publicado ontem, intitulado Eles que venham. Por aqui não passarão!, os militares da reserva afirmam que o Clube Militar "não se intimidará e continuará atento e vigilante". A nota reforça críticas à Comissão da Verdade, alegando que sua criação é um "ato inconsequente de revanchismo explícito e de afronta à Lei da Anistia".

A nota é assinada por 98 oficiais da reserva, mas os nomes dos dirigentes dos clubes militares não constam no documento. Isso porque a possibilidade de punição aos militares da reserva já havia sido cogitada quando o clube publicou o primeiro texto, dirigindo críticas à presidente e às ministras. Como foi retirada do ar, após intervenção do Planalto, as discussões sobre punição ficaram congeladas.

Entrevista Apesar de não assinar o novo manifesto, autoridades do Clube Militar concordam com o seu teor, porque expressam "apoio ao que já havia sido dito". Os signatários do manifesto são em grande parte integrantes do clube, que se reuniram na tarde de segunda-feira, como adiantou o Correio, para definir o que o grupo faria em resposta ao cerco do governo às manifestações dos militares da reserva.

Os atritos tiveram início após entrevista da ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, ao Correio. Ela afirmou que as informações reunidas pela Comissão da Verdade poderiam dar início a um processo de condenações a torturadores semelhante ao que ocorreu em países vizinhos, como a Argentina.