Correio braziliense, n. 19879, 26/10/2017. Política, p. 02.

 

Temer se livra de denúncia pela 2ª vez

Natália Lambert, Guilherme Mendes e Bernardo Bittar

26/10/2017

 

 

PODER EM CRISE » Com placar menos expressivo se comparado à primeira denúncia, peemedebista garante a permanência no governo até dezembro de 2018. Em entrevista no final da votação, presidente da Câmara diz que é hora de “reparação de danos”

 

 

Em um dia mais difícil para o Palácio do Planalto do que o enfrentado na primeira denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente Michel Temer se livrou mais uma vez de um processo de investigação. Com o apoio de menos da metade dos deputados — 251 votos favoráveis ao arquivamento, 233 contrários, 25 ausências e 2 abstenções —, o peemedebista se mantém no governo.

A rebeldia de parte dos aliados dificultou a vida do presidente, que chegou a se sentir mal ontem com uma obstrução urinária e passou a maior parte do dia internado no hospital (leia mais na página 4). Diferentemente da última denúncia, quando o quórum para a votação foi atingido no início da tarde, parte da base se uniu à estratégia da oposição de não marcar presença. A intenção era pressionar o presidente até o último minuto para ter demandas atendidas. Alguns foram flagrados ao telefone em plenário esperando a confirmação de pedidos para registrar presença. “Essa será a sessão mais cara da história”, comentou um governista que ligava aos ausentes dizendo: “Cadê você? Estou com saudades!”.

O número necessário para iniciar a votação foi atingido depois das 16h, após ameaça do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de encerrar a sessão. A partir daí, foram mais cinco horas de debates e votos nominais sobre relatório do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). Apesar da derrota, a oposição comemorou o placar com menos apoio a Temer e mais ausências. O número de votos da base não chegou à maioria absoluta da Câmara (257) — quantidade necessária até para abrir votações, aprovar leis complementares e decretos legislativos. Em agosto, quando o governo conseguiu enterrar a acusação por corrupção passiva, o placar foi de 263 votos e 19 ausências.

Mesmo com a derrota, a oposição enxergou o placar como um reflexo de fraqueza. “Essa fragilidade deixa o governo refém de sua base fisiológica, que se alimenta deste vício”, analisa o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ).

Já na visão de Darcísio Perondi (PMDB-RS), um dos líderes da base aliada na Casa, a sessão confirma a vitória de uma base aliada consciente. “Agora, Michel Temer vai continuar com tranquilidade a reconstrução do país”, disse.

A visão, contudo, não parecia estar no discurso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em entrevista ao fim da sessão, Maia afirmou que o momento é de reparação de danos. “O poder Executivo sempre tem força. Agora é impossível pensar que, depois de duas denúncias, o governo não tenha que avaliar os resultados, os últimos meses e repensar de que forma consegue restabelecer sua maioria. Claro que há um desgaste, mas a melhor resposta é a gente continuar trabalhando.” Maia falou muito sobre a intenção de tocar a agenda econômica do país a partir da próxima semana.

 

Placar da segunda denúncia

Votos pró-governo        251

Votos contra o governo               233

Ausências           25

Abstenções       2

Total      511*

 

*Rodrigo Maia não vota e a deputada Tia Eron (PRB-BA) está licenciada do cargo, e o suplente ainda não tomou posse.

 

Placar da primeira denúncia

Votos pró-governo        263

Votos contra o governo               227

Ausências           19

Abstenções       2

 

Mudança de opinião

Onze deputados mudaram de posição em relação à votação anterior: 8 deixaram o governo e 3 passaram a apoiá-lo.

A maioria dos desertores são do PSD: 4. Os outros quatro foram do PMDB, Podemos, PRB e DEM. Os três que o apoiaram são do PRB.

Dos 25 ausentes, 15 votaram a favor de Temer na denúncia anterior.

 

Confira como votou cada partido

Partido  Sim  Não  Abstenção  Ausentes

PMDB 51 6 1 3

PP 37 6 0 1

AVANTE 1 3 0 1

PR 26 10 0 3

DEM 20 7 1 1

PTB 14 3 0 1

PRB 16 4 0 1

PSL 3 0 0 0

PEN 2 0 0 1

PSC 6 4 0 0

SOLIDARIEDADE 8 5 0 1

PODEMOS 8 7 0 2

PSD 20 18 0 1

PROS 3 3 0 0

PV 3 4 0 0

PT 0 57 0 0

PSOL 0 5 0 1

PCdoB 0 11 0 0

PDT 0 17 0 3

PSB 11 22 0 2

PPS 1 8 0 0

PHS 1 6 0 0

REDE 0 4 0 0

PSDB 20 23 0 3