Correio braziliense, n. 19912, 28/11/2017. Política, p. 3

 

No PSDB, Alckmin consegue o consenso

Paulo de Tarso Lyra e Rosana Hessel 

28/11/2017

 

 

O PSDB teve um raro dia de consenso e paz nas últimas semanas e definiu que o futuro presidente do partido será o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A aclamação por consenso ocorrerá na convenção nacional do partido, marcada para 9 de dezembro, e foi possível após a desistência, quase que simultânea, dos pré-candidatos anteriores: o senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE) e o governador de Goiás, Marconi Perillo. A consolidação de Alckmin também torna praticamente irreversível a indicação dele como pré-candidato ao Planalto na disputa eleitoral de 2018.

O primeiro a sinalizar a desistência foi Tasso, ainda pela manhã. Ele passou os últimos dias reunidos com tucanos mais próximos a ele, analisando os mapas de votação nos diversos diretórios estaduais. Embora as perspectivas de vitória fossem concretas, a percepção era de que o partido continuaria rachado, já que as intenções de voto mostravam uma relação de 60/40 nos votos dos filiados.

Tasso aceitou abrir mão da candidatura para apoiar o nome de Alckmin. “Nunca me coloquei como pré-candidato. Se puder ajudar a unir o partido, vamos avaliar”, disse o governador, em rápida entrevista ontem. Pouco depois do gesto de Tasso, foi a vez de o governador de Goiás, Marconi Perillo, abdicar da disputa. Interlocutores próximos lembram que o tucano goiano sempre teve êxito em disputas de votos, embora no atual cenário a dificuldade seria o fato de o colégio eleitoral ser menor, com cerca de 500 filiados.

Dos três nomes que afunilaram na disputa, a situação mais cômoda era de Tasso. O senador cearense foi eleito em 2014, o que lhe dá a tranquilidade de ter mais quatro anos de mandato sem a necessidade de disputar eleições. Perillo já é governador reeleito de Goiás e, em tese, deve concorrer ao Senado, embora aliados afirmem que ele ambicione uma vaga na chapa presidencial como vice, algo praticamente improvável diante das dificuldades de uma chapa puro-sangue. “Vamos ver o que o Perillo ganhou com essa desistência”, adiantou um aliado.

Alckmin também é governador reeleito e tem pela frente uma dura corrida presidencial. “É possível presidir o partido e ser candidato ao Planalto, Aécio (Neves, senador mineiro) fez isso em 2014. O importante é escolher com cuidado os nomes da Executiva e do Diretório Nacional”, amenizou o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Trípoli (SP). Um jantar na noite de ontem com Alckmin, Tasso, Perillo e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso selou o armistício.

O presidente Michel Temer não pretende fazer mudanças na Secretaria de Governo, ocupada pelo deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA) antes de ele conversar com o futuro presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, sobre reforma ministerial. Na semana passada, os dois estiveram reunidos em almoço no Palácio do Alvorada e, segundo fontes próximas aos dois, a conversa foi muito boa e o governador paulista demonstrou ser favorável à reforma da Previdência. O tucano, inclusive, foi mais radical do que a nova proposta apresentada pelo governo e defendeu a unificação dos sistemas de aposentadoria público e privado, sem exceção.

O Planalto terá de estabelecer uma reaproximação com Alckmin, já que a relação entre ambos ficou estremecida após a votação da primeira denúncia contra o presidente Michel Temer. Os governistas acusam o administrador de São Paulo de trabalhar para dividir a bancada e acelerar um desembarque. “O PSDB estava deixando escapar a oportunidade de se apresentar como alternativa em 2018 por conta das brigas internas”, admitiu o presidente do Instituto Teotônio Vilela José Aníbal. “Agora que viramos essa página, será mais fácil buscar um consenso em torno da reforma da Previdência. É impensável o PSDB não apoiar essa reforma”, cobrou o presidente do ITV.

Frase

“O PSDB estava deixando escapar a oportunidade de se apresentar como alternativa em 2018 por conta das brigas internas”,

José Anibal, presidente do Instituto Teotônio Vilela