O Estado de São Paulo, n. 45245, 02/09/2017. Política, p. A6.

 

2ª denúncia faz Temer antecipar volta ao País

Vera Rosa/ Tânia Monteiro

02/09/2017

 

 

Presidente, que está em viagem à China, quer tentar criar ‘vacina’ contra acusação

 

 

Na expectativa de enfrentar uma segunda denúncia na próxima semana, o presidente Michel Temer decidiu antecipar em um dia a volta da China, chegando ao Brasil na terça-feira. Em conversas reservadas, Temer tem dito que, além de se defender no campo jurídico, precisa articular uma forte reação política à provável denúncia.

Apesar da negativa oficial do Planalto, em Pequim, de que Temer antecipará sua volta ao Brasil, membros da comitiva informaram que essa probabilidade está cada vez mais forte. E para criar uma “vacina” contra as acusações, o presidente resolveu partir para o ataque. Em nota divulgada ontem, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) desqualifica o operador Lúcio Funaro, que firmou acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República (PGR), e chama o empresário Joesley Batista, da JBS, de “grampeador-geral da República”.

Sob a justificativa de que a “suposta segunda delação” de Funaro apresenta “inconsistências e incoerências próprias de sua trajetória de crimes”, o documento diz que Temer se reserva o direito de não tratar de “ficções e invenções” de quem quer que seja. Cita, ainda, que o operador – descrito apenas como “doleiro” – acionou a Justiça, meses atrás, para cobrar valores devidos pelo grupo de Joesley. Foi o dono da JBS quem gravou Temer, em conversa tornada pública em maio.

Embora interlocutores do presidente digam que a última “flecha” do procurador-geral da República, Rodrigo Janot – a 15 dias de deixar o cargo –, não terá potencial para fazer grandes estragos, o receio do Planalto é de que a cobrança da fatura, por parte dos aliados, seja agora mais alta. O Centrão, por exemplo, pressiona Temer a tirar o PSDB da Secretaria de Governo, hoje comandada por Antônio Imbassahy.

O Planalto recebeu informações de que a denúncia de Janot será, desta vez, por obstrução da Justiça. Na nota divulgada ontem, a Secom cita diálogo gravado por Joesley para sustentar que o presidente “jamais” obstruiu a Justiça. O Estado apurou que a delação de Funaro atinge não apenas Temer e o governo como figuras de expressão no PMDB.

O presidente está em visita oficial à China, onde participa de encontro do Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Oficialmente, sua assessoria diz que a antecipação da volta de Temer ainda não está confirmada e, se ocorrer, será por causa das votações no Congresso, como

a mudança da meta fiscal para 2017 e 2018, marcada para a próxima terça-feira.

Cunha. Ontem, em manifestação na qual defende a manutenção da prisão preventiva do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Operação

Patmos, Janot disse que integrantes do PMDB instalaram uma organização criminosa na Câmara e que o ex-presidente da Casa seria “um dos mais importantes atores”. Janot afirmou que Cunha não pode ser solto por extensão da decisão do ministro Edson Fachin, do

Supremo Tribunal Federal, que libertou o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

Janot disse que o ex-deputado era “um intermediário do líder da organização criminosa”. Em outro trecho da peça, afirmou que Loures agia em nome de Temer. /COLABOROU BRENO PIRES