Título: Gravação de Cachoeira acelera criação de CPI
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2012, Política, p. 04

Vídeo no qual bicheiro é flagrado supostamente oferecendo R$ 100 mil a petista motiva parlamentares do próprio partido a assinar o requerimento

O líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP), promete assinar, na próxima semana, o requerimento de criação da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que pretende investigar as relações políticas do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O autor da proposta, deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), disse ter recebido ontem dezenas de ligações de parlamentares do PT, do PMDB, do PDT e do PR interessados em endossar o requerimento.

No Senado, o líder petista, Walter Pinheiro (BA), afirma que uma reunião da bancada na próxima terça-feira decidirá a posição do partido em relação ao senador Demóstenes Torres (DEM-GO), flagrado em 298 conversas com Cachoeira entre fevereiro e agosto de 2011. O apoio dado por petistas a Demóstenes, durante defesa feita pelo senador na tribuna do plenário na última terça, não reflete a posição da bancada, segundo Pinheiro. "Não se ouviu a minha voz em apoio a Demóstenes."

Essas foram as principais reações da base governista à divulgação de um vídeo no qual Cachoeira supostamente oferece R$ 100 mil para o caixa dois de um petista, o deputado federal Rubens Otoni (GO). A gravação foi feita em 2004, ano em que Otoni disputou a Prefeitura de Anápolis (GO), a cidade do bicheiro. No vídeo, Cachoeira oferece os R$ 100 mil e dá a entender que já fez uma contribuição com o mesmo valor ao deputado. Num dos trechos, o bicheiro pede para que não apareça entre os doadores oficiais de campanha. Otoni concorda. O vídeo foi publicado ontem no site da revista Veja.

Antes das evidências sobre o envolvimento de um petista com Cachoeira virem à tona, o partido mantinha a postura de silêncio sobre as acusações contra Demóstenes, um dos principais nomes da oposição no Senado. Após o discurso feito na terça, o parlamentar chegou a ganhar o apoio de petistas que fizeram apartes em plenário. O primeiro deles foi o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Na Câmara, até ontem, era baixa a adesão de petistas à CPI. A divulgação do envolvimento de um deputado federal do PT com Cachoeira fez mudar a postura da legenda.

O senador Walter Pinheiro negou qualquer relação entre a existência de um vídeo envolvendo um petista e as manifestações de apoio do PT ao senador Demóstenes na última terça. "Por que membros do Parlamento se envolvem com pessoas como Cachoeira? É o que a bancada quer saber", diz Pinheiro.

"Recebi ligações de vários partidos, principalmente PT e PMDB. Se toda a bancada petista aderir, vamos ultrapassar 200 assinaturas", afirma o deputado Protógenes. Para a instalação da CPI na Câmara, são necessárias 171 assinaturas. Até a quinta-feira, o parlamentar havia obtido 136. A interpretação no PT é de que o vídeo com Otoni foi divulgado para ofuscar as denúncias que pesam contra Demóstenes e tucanos.

Jogatina A expectativa de Protógenes é que Cachoeira use a CPI para divulgar as informações sobre os políticos envolvidos com a jogatina. O bicheiro, preso na Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na semana passada, continua detido no presídio federal de segurança máxima em Mossoró (RN). No meio político, o comentário é de existência de uma "videoteca" em poder de Cachoeira, como o vídeo em que aparece o deputado petista.

Nas gravações da Operação Monte Carlo, além do senador Demóstenes, pelo menos quatro deputados são flagrados em conversas com o bicheiro. Um dos mais frequentes é Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), que aparece em 70 diálogos com Cachoeira. Eles falam sobre troca de favores, como a colocação de eleitores de Leréia em vagas de emprego.