O globo, n.30832 , 05/01/2018. ECONOMIA, p.17

Ação da Petrobras demora a se recuperar

Bruno Rosa

 

 

Mesmo após acordo, analistas avaliam que estatal levará 2 anos para voltar ao valor de mercado pré-Lava-Jato

 

Apesar de ter feito acordo para p agar US$ 2,95 bilhões (ou R$ 9,5 bilhões) a investidores estrangeiros, o que pode encerrar uma de suas maiores disputas judiciais, a Petrobras deve levar dois anos para recuperar todo o seu valor de mercado desde que foi abalada pelos casos de conupção revelados pela Operação Lava-Jato, em 2014. Entre altos e baixos, a estatal viu seu tamanho na Bolsa de Valores de São Paulo encolher de R$ 310,920 bilhões, em dois d e setembro de 2014, p ara R$ 226,9 bilhões ontem. A queda de cerca de 27% nesses últimos anos representa uma redução de aproximadamente R$ 84 bill1ões.

Ontem, no dia seguinte ao acordo proposto pela Petrobras à Justiça dos Estados Unidos, as ações preferencias (PN, sem direito a voto) da companhia, as mais líqrridas, fecharam em alta de apenas 0,17%, para R$ 16,73. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) subiram 0,85%, para R$ 17,70. Apesar da alta, a cotação ainda está distante dos R$ 24,56, registrados em setembro de 201 4, pouco antes de a companhia entrar em crise.

-A Petrobras vem apresentando melhora desde que Pedro Parente assumiu a companhia, em junho de 2016. No ano passado, a companhia avan çou menos que o mercado em geral, o que indica potencial de valorização. Estamos prevendo a ação da companhia a R$19 na média de 2018. Hoje, a ação está pouco menos de R$ 17. Em 24 meses é possível a companhia recuperar o patamar de antes da Lava- Jato. Mas isso vai depender de outras variáveis, como o risco político da eleição neste ano, e quem assumir a Petrobras no lugar de Parente - disse Rafael Passos, analista da Guide Investimentos.

Embora ainda esteja longe do nível pré-crise, a estatal já se recuperou de um dos piores momentos de sua história.

Em janeiro de 201 6, na esteira da queda no preço do petróleo e do aumento das denúncias de corrupção, o mercado previa que seria necessário fazer uma capitalização na empresa .

Com o receio dos investidores, os papéis da empresa chegaram a R$ 4,20 e um valor de mercado de R$ 67,8 bilhões, o menor patamar desde 2003.

- O movimento das ações da Petrobras é positivo, com as iniciativas na gestão da companhia, venda de ativos não estratégicos e renegociação de dívidas tributárias, mas é difícil prever o quanto os papéis podem subir; pois isso depende de fatores como a eleição e o risco de rebaixamento do país - afirma Carlo s Soares, analista da Magliano Investimentos.

A agência de classificação de risco Fitch avalia que o acordo feito pela Petrobras não terá efeito para o caixa da companhia. A Fitch, no entanto, observa que a empresa continua sendo investigada pela SEC, o órgão regulador do mercado americano, e pelo Departamento de Justiça dos EUA, o que poderia resultar em multas.

 

Perguntas e respostas

–Quais são as ações contra a Petrobras no Brasil?

Há duas frentes de processos no país. A Associação de Invest idores Minoritários do Brasil (Aidmin) entrou com ação civil pública no Tribunal de Justiça de São Paulo. Um grupo de acionistas protocolou em setembro pedido contra a estatal na Câmara de Arbit ragem do Mercado.

 

-O acordo nos EUA beneficia quem tem ação no Brasil?

- Não há impacto direto. Especialistas acreditam que a medida pode abrir portas para decisões favoráveis na Justiça em território nacional. Tecnicamente, porém, o acordo não traz nenhuma obrigatoriedade para que a petroleira tome medidas similares no Brasil, e a empresa não fez comunicados neste sentido até agora. O efeito vai depender da interpretação do juiz que analisar os casos no Brasil, que pode levar em conta o acordo em sua decisão.

 

-Qual é o custo do acordo para o acionista brasileiro?

- O montante de US$ 2,95 bilhões será pago pela empresa. Ou seja, são recursos que deixam de ser usados para investimentos, por exemplo, e passam a ser considerados gastos. Assim, afetam os resultados e reduzem os ganhos para os acionistas. Por outro lado, o acordo acaba com a incerteza sobre qual seria o custo dessa ação coletiva movida por investidores nos Estados Unidos