O Estado de São Paulo, n. 45292, 19/10/2017. Política, p. A6.

 

Maia se diz vítima de ‘intrigas’ do governo

Vera Rosa

19/10/2017

 

 

Presidente da Câmara afirma a Temer que não pretende indicar nome para o BNDES

 

 

Após a tensão dos últimos dias com o governo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ontem ao presidente Michel Temer que não quer indicar ninguém para o comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nem vai aceitar cargos. Convidado para uma conversa com Temer no Palácio do Planalto, Maia se queixou das “intrigas” contra ele e afirmou não estar sendo respeitado.

A informação de que o Planalto avalia substituir o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, emplacando no comando do banco um afilhado político de Maia, irritou ainda mais o deputado. A notícia foi publicada pelo Estado na edição de ontem. Fora da agenda oficial, a reunião entre Temer e Maia ocorreu horas depois de o presidente almoçar com Rabello de Castro e receber reclamações, de integrantes da equipe econômica, de que interferências políticas poderiam prejudicar o BNDES.

“Querem passar a ideia de que estou atrás de cargos, o que não é verdade”, disse Maia ao Estado. “Se querem mudar, mudem, mas isso não é problema meu. Não estou pedindo a cabeça de ninguém.”

Após o encontro, surgiram rumores de que o deputado havia tratado ali do rito de votação da segunda denúncia contra Temer – por obstrução da Justiça e organização criminosa –, marcada para a próxima quarta-feira, dia 25, no plenário da Câmara. Em nota oficial, Maia não escondeu a contrariedade com o que chamou de “versão” dos fatos e negou que a denúncia tenha sido objeto da conversa no Planalto.

“Essa versão é falsa e quem a divulgou deve vir a público dizer por que o fez e com qual intenção”, escreveu Maia, ao sustentar que “o autor da falsa versão disseminada pelo Palácio do Planalto precisa repor a verdade dos fatos”. Nos bastidores, aliados do deputado contam que ele atribui os vazamentos aos ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Eliseu Padilha (Casa Civil), também alvos de investigação.

Maia afirmou no comunicado que Temer o chamou ao palácio “para esclarecer episódios recentes que deram margem a incompreensões”. Disse, em tom duro, que não havia sentido algum em tratar do rito processual de votação com o presidente de outro Poder, “muito menos quando é um deles que está sendo processado e julgado com seus ministros”.

 

Embates. Na lista dos embates entre Maia e Temer estão as críticas que o presidente da Câmara fez ao governo após uma manobra do Planalto para que não fosse votada uma medida provisória autorizando o Banco Central a firmar acordo de leniência com instituições financeiras. Para acalmar o deputado, às vésperas da votação da segunda denúncia contra Temer, o Executivo autorizou a substituição da MP por um projeto de lei, apresentado pelo deputado Pauderney Avelino (DEM-AM).

Em setembro, Maia já havia provocado mal-estar no Planalto ao dizer que o governo e a cúpula do PMDB tinham dado uma “facada nas costas” do DEM quando assediaram parlamentares que já estavam em negociação com seu partido. Na época, ele também reclamou de “desrespeito” por parte da equipe de Temer. Desde então, já repetiu algumas vezes esse repertório.

Na conversa de ontem, o presidente da Câmara também cobrou de Temer uma nova agenda de desenvolvimento e disse que o governo tem dado passos errados, precisando se “reinventar”. Na avaliação de auxiliares do presidente, porém, Maia faz esse discurso porque é candidato à reeleição, em 2018, e quer se descolar da impopularidade de Temer.

“Querendo ou não, o Rodrigo é uma opção institucional para o País”, afirmou a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que faz oposição a Temer e tem organizado encontros de parlamentares com Maia. “Nessas reuniões, nós discutimos o momento político e as dificuldades. Agora, quem decide o que vai acontecer é o plenário da Câmara.”

 

Comando. Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante votação de projetos de lei no plenário da Casa

 

Conversas

“Querem passar a ideia de que estou atrás de cargos, o que não é verdade.”

Rodrigo Maia (DEM-RJ)

PRESIDENTE DA CÂMARA

 

“Querendo ou não, Maia é uma opção institucional para o País.”

Kátia Abreu (PMDB-TO)

SENADORA

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Temer almoça com presidente do BNDES

Carla Araújo / Felipe Frazão

19/10/2017

 

 

Segundo auxiliares do peemedebista, não foi discutida uma possível substituição de Rabello no comando do banco

 

 

O presidente Michel Temer almoçou ontem com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, no Palácio do Planalto. Segundo auxiliares do presidente, os dois conversaram sobre o andamento dos trabalhos na instituição, mas não falaram em uma possível substituição de Rabello no comando do banco.

Reportagem do Estado publicada ontem mostrou que o governo avalia trocar Rabello como forma de agradar ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Maia nega que esteja tentando influenciar uma troca no comando do BNDES.

Rabello tem a intenção de disputar pelo PSC a sucessão de Temer em 2018. Segundo auxiliares do presidente, porém, eles não discutiram no almoço as pretensões políticas do economista nem possíveis datas de saída do cargo. Em tese, ele teria de se desincompatibilizar em abril. Amigo de Temer, Rabello assumiu o BNDES em junho, após a saída de Maria Silvia Bastos Marques. À época, Maia tentou emplacar Luciano Snel, da Icatu Seguros, e ficou contrariado por não te r s i do consultado sobre a escolha. Na conversa com Temer, de acordo com um auxiliar do presidente, Rabello apresentou alguns projetos de trabalho e se mostrou preocupado com o parecer da área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) que cobra um calendário de devolução de recursos pelo BNDES ao Tesouro Nacional. A área técnica do TCU quer que o Ministério da Fazenda e o BNDES acertem um cronograma detalhado de antecipação do pagamento de novas parcelas, conforme o dinheiro dos empréstimos concedidos a empresas for retornando aos cofres do banco de fomento. O documento fixa um prazo de 30 dias para que o cronograma seja fechado.

No almoço, Temer e Rabello também discutiram a possibilidade de aumento de financiamento a pequenas empresas.

Mais tarde, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, disse que o governo não está demitindo Rabello. Oliveira disse “não saber se é verdade” que Maia pressiona pela demissão. “A única coisa que posso afirmar com certeza é que Rabello não está sendo demitido.”

O ministro disse estar satisfeito com o trabalho do economista à frente do banco de fomento. “Estamos muito satisfeitos, temos tido trabalho colaborativo com o BNDES, as discussões que temos tido resultaram em ações muito positivas, com lançamento de linhas ( de crédito) que fizemos lá atrás, ( a discussão para) auxiliar o Tesouro no cumprimento da regra de ouro”, afirmou. / COLABORARAM IDIANA TOMAZELLI e ADRIANA FERNANDES

 

PSC. Em 2018, Rabello quer disputar a Presidência