Correio braziliense, n. 19919, 05/12/2017. Política, p. 4

 

PSDB discute eleições só após a convenção

Natália Lambert e Paulo de Tarso Lyra 

05/12/2017

 

 

Mesmo depois de pesquisas eleitorais mostrarem que o patamar de intenções de votos do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), continua estacionado entre os 6% e 8%, e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ter escanteado o tucano como candidato do governo, o assunto eleições de 2018 no PSDB está sendo tratado como “um dia de cada vez”. Com a maior crise interna da história, o foco está na solução do problema imediato. Depois que Alckmin assumir a presidência da legenda, na eleição da executiva nacional no sábado, tucanos terão mais liberdade para trabalhar o nome do paulista como presidenciável.

Na visão de parte da bancada no Congresso, os números das pesquisas são irreais, porque consideram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato quando as apostas indicam que ele não deve concorrer por causa do processo que responde no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre. “O cenário eleitoral ainda é muito incerto. Além de estar longe, o nome do Lula nas pesquisas desqualificam qualquer previsão, considerando que ele pode nem ser candidato. Se ele sair, os votos dele irão para alguém. Vão para o (Jair) Bolsonaro? Duvido. Por que não para o Alckmin?”, aposta um tucano que prefere não se identificar.

Tucanos também minimizam os números do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), mas com compromisso de ir para o PEN. “Como o Bolsonaro não tem um partido, faz campanha diretamente com o público e, obviamente, é mais lembrado na hora das pesquisas”, afirma o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC). “O assunto candidatura no PSDB é interno. No momento certo, a militância vai levar a mensagem à sociedade e ela será vitoriosa porque o brasileiro quer paz, honestidade e, acima de tudo, responsabilidade”, acrescenta.

Líderes do PSDB também se irritaram com as declarações do ministro Henrique Meirelles ao jornal Folha de S.Paulo sobre Alckmin não ser o candidato do governo em 2018. Bauer dá um conselho a Meirelles: “Embora tenha reconhecida qualidade e competência técnica e econômica, uma das piores coisas que um candidato pode fazer é diminuir ou depreciar os possíveis concorrentes”.

O senador lembra que, em 2002, Meirelles foi eleito deputado federal pelo PSDB — o mais votado da história de Goiás — e, antes mesmo de tomar posse, renunciou ao cargo para assumir a presidência do Banco Central no primeiro governo Lula. “Diria que no currículo do ministro não existe uma história de apreço ao resultado eleitoral”, comenta. O líder da bancada da Câmara, Ricardo Trípoli (SP), considerou uma “ingratidão” a atitude de Meirelles por tudo que o PSDB vem fazendo pelo governo no Congresso.

A declaração de Meirelles também desagradou ao Palácio do Planalto, mas, responsável pela principal agenda econômica do governo de Michel Temer, ele não será punido. “O ministro apenas verbalizou uma coisa que é fato: se o PSDB quiser se isolar, será isolado. Porque a base estará coesa do lado de cá na construção de uma candidatura única. Os tucanos teriam que se agregar à coalizão governista para voltar a pensar em conjunto com a base para 2018”, comenta um interlocutor palaciano.

Frase

“Embora tenha reconhecida qualidade e competência técnica e econômica, uma das piores coisas que um candidato pode fazer é diminuir ou depreciar os possíveis concorrentes”

Paulo Bauer, líder do PSDB no Senado