O Estado de São Paulo, n. 45327, 23/11/2017. Política, p. A6.

 

Cristovam critica ‘assédio’ de PPS a Huck

Marcelo Osakabe

23/11/2017

 

 

Senador, que já anunciou disposição para disputar a Presidência, ataca estratégia do partido de buscar candidato com potencial de votos

 

 

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) criticou ontem a forma como o seu partido, o PPS, vem negociando a filiação do apresentador de TV Luciano Huck, que disputaria a Presidência da República pela sigla. O senador, que também tem intenção de se lançar ao Palácio do Planalto, reprovou ainda a sanha do partido em abrigar um candidato apenas pelo seu potencial de votos.

“Partido não pode escolher um nome só porque ele tem mais voto. Se for assim, não deveríamos ter candidato e ir direto apoiar o Lula ou o Bolsonaro”, ironizou o senador.

Cristovam salientou que considera positiva a aproximação de Huck com o PPS. “Fico emocionado quando vejo uma pessoa realizada financeiramente e profissionalmente, no tempo em que todo mundo foge de política, querer vir para um partido fazer política”, disse ao Estadão/Broadcast. “Agora, não me sensibiliza ele vir sob a condição de ser candidato a presidente. Acho muito ruim. Acho que ele devia vir disputar com os outros”, afirmou.

De acordo com o senador, as negociações entre Huck e o PPS estão concentradas, até o momento, em Roberto Freire, presidente da sigla, e no ministro da Defesa, Raul Jungmann, sem maior consulta ao partido. “Quero que eles abram o processo de escolha”, afirmou.

Cristovam também criticou a possibilidade de o PPS passar a se chamar Agora!, nome do movimento de ativistas e acadêmicos que defende a renovação política e do qual Huck faz parte.

“Se for isso, acho um erro escandaloso. Não existe partido Agora!. Partido é para pensar o futuro”, afirmou. “Passaria a ideia de que isso seria uma imposição do Huck. Não fica bem impor até a mudança de nome. O próximo passo seria eles decidirem quem deve ser expulso.”

Para o senador, o processo e a escolha do candidato à Presidência pelo PPS deveria passar por uma consulta ao partido para mostrar “quem tem a melhor proposta, quem tem tradição e, por último, quem tem mais votos”. “Além disso, de onde se tirou que Huck tem voto?”, questionou Cristovam. “Acho que ele tem popularidade, mas popularidade não é sinônimo de voto. Para ser popular, não precisa disputar um debate, mostrar o que pensa. Se fosse por popularidade, poderíamos chamar o Neymar, eleger o Pelé.”

 

Licença. Ontem, Cristovam anunciou que não vai mais se licenciar do cargo de senador. Inicialmente, a intenção era se afastar do Senado por quatro meses e iniciar a campanha como pré-candidato do PPS à Presidência. No entanto, o plano foi adiado porque seu suplente, Wilmar Lacerda (PT), foi acusado de envolvimento com uma adolescente de 17 anos. Segundo Cristovam, o afastamento está adiado até que sejam esclarecidas as denúncias.

 

Adiado. Cristovam anunciou que não vai mais se licenciar do cargo de senador para iniciar campanha de pré-candidato

 

PARA LEMBRAR

Especulações têm aumentado

As especulações em torno da possibilidade de o apresentador de TV Luciano Huck se lançar candidato à Presidência em 2018 começaram em maio deste ano e só tem aumentado, ainda que ele mantenha a postura de negar essa intenção. Huck, no entanto, já conversou com DEM e PPS, hoje o partido mais próximo do apresentador. Lideranças da sigla e integrantes do movimento Agora!, que pretende lançar candidaturas independentes, já se reuniram mais de uma vez nos últimos meses. O presidente da sigla, deputado Roberto Freire (PPS-SP), apesar de ter dívida política com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), outro presidenciável, disse que o PPS pode “fazer a escolha pelo novo”. O próprio Alckmin deu declaração a favor da entrada do apresentador na política. Ao lado de figuras como o publicitário Nizan Guanaes, o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga e o empresário Abílio Diniz, Huck participa da articulação para a criação de um fundo privado para financiar pessoas interessadas em se candidatar ao Legislativo nas eleições de 2018. Antes mesmo de virar realidade, no entanto, o fundo foi questionado na Justiça por um deputado.

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ANÁLISE

 

Apresentador se beneficia de maior exposição política

Vera Magalhães

23/11/2017

 

 

A grande novidade do Barômetro Político Estadão-Ipsos de novembro, ranking mensal da pesquisa Pulso Brasil do Ipsos, é o apresentador de TV Luciano Huck, que, justamente no mês em que fez os movimentos mais explícitos até aqui para se lançar em uma candidatura em 2018, viu seu índice de aprovação subir e a rejeição cair.

Huck passou a ter a pressão medida pelo barômetro do Ipsos em junho, quando surgiram os rumores de uma possível postulação à Presidência. Então, tinha índices de aprovação (44%) e de rejeição (39%) bastante próximos, num indicativo de que o eleitorado não o tinha no radar. No levantamento concluído no dia 14 deste mês, os que o aprovam somaram 60%, contra 32% dos que o rejeitam.

O apresentador de TV se beneficia da maior exposição de seu projeto – passou a se reunir com políticos e líderes partidários, a frequentar reuniões de movimentos como o Agora! e a se cercar de formuladores de várias áreas – e de mais uma onda de insatisfação com os políticos.

No intervalo desde o último Pulso Brasil, a Câmara dos Deputados arquivou a segunda denúncia contra Michel Temer, o Senado revogou decisão do Supremo Tribunal Federal afastando Aécio Neves (PSDB-MG) do mandato e a Assembleia do Rio liberou Jorge Picciani (PMDB) e outros dois deputados que haviam sido presos.

Não por acaso, Temer e Aécio lideram o ranking de rejeição: o presidente é reprovado por 95% dos entrevistados e aprovado por 4%. O mineiro e ex-presidenciável tucano tem 93% de desaprovação e só 5% de aprovação. Superaram em muito Lula e Dilma Rousseff. A presidente cassada tem índices estáveis desde que deixou o cargo. Já Lula experimenta melhora gradual. Depois de picos de rejeição em 2015 e 2016, o petista é rejeitado por 56% e aprovado por 43%. Em relação a agosto, quando tinha 66% de rejeição e 32% de aprovação, é uma melhora significativa, que coincide com a intensificação de sua campanha.

A pesquisa mostra ainda que, até aqui, o sucesso de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) é maior nas redes sociais. No conjunto do eleitorado, o deputado tem 60% de rejeição e 24% de aprovação.