O Estado de São Paulo, n. 45327, 23/11/2017. Política, p. A13.

 

ANJ homenageia Míriam Leitão após ataques

Ricardo Galhardo

23/11/2017
 
 
 
Jornalista, hostilizada em duas ocasiões por militantes apoiadores de Lula e Jair Bolsonaro, recebe o Prêmio Liberdade de Imprensa

 

 

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) entregou ontem o Prêmio ANJ Liberdade de Imprensa à jornalista Míriam Leitão. Colunista da TV Globo, da GloboNews e do jornal O Globo, Míriam foi alvo de hostilidades por parte de militantes do PT em junho e do deputado Jair Bolsonaro (PSCRJ), pré-candidato à Presidência, na semana passada.

A cerimônia de entrega, realizada em um hotel na região da Avenida Paulista, em São Paulo, foi marcada por alertas sobre ameaças à liberdade de imprensa no Brasil diante do cenário de radicalização política tanto por parte de militantes extremistas quanto de setores do Judiciário e autoridades públicas.

Em um discurso de forte teor emocional, Míriam lembrou que diversos jornalistas têm sido obrigados a se posicionar em defesa da liberdade de expressão diante da onda de ataques. “O que me tranquiliza é saber que não é exatamente para mim o prêmio, mas para uma ideia e uma atitude que inúmeros jornalistas, no Brasil inteiro, têm adotado quando se veem diante da agressão à diversidade de pensamento”, disse.

No dia 13 de junho, Míriam foi hostilizada por delegados que participaram do 6.º Congresso Nacional do PT em um voo entre Brasília e Rio. A jornalista é alvo da militância do partido há anos por causa de críticas que fez à condução da política econômica no governo da presidente cassada Dilma Rousseff.

Na semana passada, Míriam voltou a ser alvo de ofensas, desta vez por parte do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que a insultou nas redes sociais em razão de críticas de Míriam à falta de conhecimento do parlamentar na área econômica. “Esses dois ataques vieram de grupos que estão em campos opostos na vida política brasileira e que disputam o poder no Brasil. Sobre esse ponto é preciso refletir.”

Míriam recebeu o prêmio das mãos do vice-presidente da ANJ e responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão da entidade, Francisco Mesquita Neto, presidente do Grupo Estado. “As sucessivas crises políticas e econômicas no País alimentaram a desconfiança da sociedade civil em relação às instituições e fortalecem o instituto liberticida de uma parcela minoritária da população, que não compreende ou finge não compreender o verdadeiro papel da imprensa para a manutenção da democracia”, afirmou.

“É uma minoria ruidosa, composta por diversas cores políticas, que usa as redes sociais como instrumento para intimidar adversários, disseminar ideais autoritários e difundir informações mentirosas ou distorcidas”, disse Mesquita.

Ele ressaltou outros riscos recentes à liberdade de imprensa como a disseminação das chamadas fake news pelas redes sociais com o uso de robôs, a resistência de setores do Executivo em cumprir a Lei de Acesso à Informação e casos de censura prévia pelo Judiciário.

Marcelo Rech, presidente da ANJ, destacou que a entidade foi criada em 1979, quando a liberdade de expressão era restrita pela ditadura militar, e que hoje o País vive um retrocesso. “Além da integridade de jornalistas e veículos de comunicação, seguimos sofrendo agressões amparadas pelo aparato jurídico, como a tentativa de estrangular o jornal Gazeta do Povo, alvo de dezenas de ações judiciais simultâneas”, afirmou.

 

Ideia

“Me tranquiliza saber que não é exatamente para mim o prêmio, mas para uma ideia e uma atitude que inúmeros jornalistas têm.”

Míriam Leitão

JORNALISTA