O Estado de São Paulo, n. 45305, 01/11/2017. Internacional, p. A8.

 

‘PSDB desses caras não é o meu PSDB’

Igor Gadelha / Julia Lindner / Renan Truffi

01/11/2017

 

 

Presidente interino da sigla, Tasso critica reação de deputados pró-Aécio e pró-Temer em reunião na qual debateram contratação de agência

 

 

Em mais um episódio da crise interna no PSDB, deputados da ala que defende o apoio do partido ao governo Michel Temer bateram boca com o presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), que é favorável ao rompimento. A briga ocorreu durante encontro da bancada tucana na Câmara. Segundo dois deputados que não quiseram se identificar, houve ameaças de agressão. “Esse PSDB desses caras não é o meu PSDB”, disse Tasso.

A reunião foi convocada pelo líder do PSDB na Casa, deputado Ricardo Tripoli (SP), para que a empresa Ideia Big Data fizesse uma exposição sobre o plano de reestruturação de comunicação do partido nas redes sociais. A empresa foi contratada por Tasso recentemente.

A discussão começou quando os deputados Domingos Sávio (MG), Paulo Abi-Ackel (MG) e Giuseppe Vecci (GO) criticaram a contratação da empresa. Os três parlamentares são aliados do senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado da sigla.

A contratação gerou reações negativas porque o proprietário da empresa, Moriael Paiva, foi responsável pela campanha do governador Fernando Pimentel (PT) em 2014, que derrotou a candidatura do tucano Pimenta da Veiga, apoiado por Aécio, ao governo de Minas.

“Coloquei que era um absurdo contratar uma empresa que fez uma campanha com ataques que considero criminosos ao PSDB de Minas. Mostrei que era inaceitável contratar uma empresa dessas”, disse Sávio.

O parlamentar afirmou que a empresa tem ligações com a agência de propaganda Pepper. Contratada pela campanha eleitoral da presidente cassada Dilma Rousseff em 2014, a Ideia Big Data atualmente é investigada pela Operação Acrônimo por suspeita de lavagem de dinheiro.

O deputado mineiro acusou ainda o dono da empresa de fazer postagem nas redes sociais atacando tucanos. “O dono dessa empresa vem fazendo, por exemplo, postagens com ataque ao governador Geraldo Alckmin (de São Paulo)”, afirmou.

Os ânimos se exaltaram quando Vecci questionou Tasso se ele será candidato a presidente do PSDB na eleição interna mar- cada para dezembro. “O Tasso parece que ficou nervoso com essa pergunta, mas não quis responder. Nesse momento, nosso tom de voz e do Tasso aumentou”, contou Sávio.

Integrante da ala oposicionista, o deputado Daniel Coelho (PE) confirmou que o clima da reunião ficou ruim e alguns deputados se levantaram para tentar pedir que Sávio, Vecci e AbiAckel parassem de “tumultuar”. Após a confusão, os três deixaram a reunião.

 

‘Delirante’. “Foi uma reação delirante de Minas e Goiás. Não entendi, uma coisa atabalhoada”, disse Tasso sobre o episódio, após a reunião. O senador afirmou que, enquanto for presidente interino, continuará “até o fim com o projeto de reestruturar o PSDB”. Segundo Tasso, será mantida a contratação do publicitário, que ele diz ter conhecido como assistente do ex-ministro falecido Sérgio Motta e que atuou em campanhas do PSDB, como a do senador José Serra ao governo de São Paulo e a do atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, ao Senado.

 

Tucanos. Senadores Tasso Jereissati (CE) e Aécio Neves (MG) durante sessão no plenário da Casa

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Moraes alerta para risco de fake news em 2018

Rafael Moraes Moura / Breno Pires

01/11/2017

 

 

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), alertou ontem para o risco do impacto de fake news – notícias falsas propagadas na internet – na disputa eleitoral do próximo ano. Moraes defen- deu a regulamentação da propaganda eleitoral na internet pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para ele, regular essas publicações não implicaria censura.

As declarações de Moraes ocorrem após o Estado mostrar que o TSE prepara uma ofensiva para combater a proli- feração de boatos na disputa de 2018. O Ministério da Defesa, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e representantes do Google e do Facebook estão envolvidos nas discussões.

“A boataria pode ser pela rede ou não pela rede, e aí a importância dos meios tradicionais de comunicação de passarem a notícia verdadeira. Eu entendo, e o TSE entende, que é necessária a regulamentação mais forte, até porque é novidade. A rede é difícil controlar”, disse Moraes antes da sessão da Primeira Turma do Supremo.

O ministro é, atualmente, um dos integrantes substitutos do TSE. Na avaliação de Moraes, as fake news não teriam “esse efeito todo” em uma eleição majoritária, como para presidente e governador, mas poderiam prejudicar eleições proporcionais – para deputados federais ou estaduais, por exemplo.

 

Responsabilização. De acordo como o ministro, a Constituição prevê a liberdade de expressão, mas com “responsabilidade”. “A Constituição proíbe censura, é vedada, mas a Constituição prevê a responsabilização. Ou seja, proíbe censura prévia”, afirmou Moraes.

“Se (alguém) descobre que algo é mentiroso, não só o Judiciário pode tirar, como pode mandar indenizar se descobrir quem postou. Isso não fere a Constituição”, disse