O Estado de São Paulo, n. 45313, 09/11/2017. Política, p.A7

 

 

 

 

PF investiga se Cabral montou dossiê contra juiz

Ex-governador teria encomendado material com informações sobre Bretas; peemedebista nega

Por: Roberta Pennafort

 

Roberta Pennafort / RIO

 

A polícia investiga se o ex-governador contratou pessoas para buscar registros de ocorrências no nome do juiz Marcelo Bretas e no da mulher dele em delegacias do Rio. Policiais estariam envolvidos. Sérgio Cabral está preso por decisão do juiz.

A Polícia Federal investiga se o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) financiou dossiês com informações sobre o juiz da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, Marcelo Bretas, e da mulher do magistrado, a também juíza Simone Diniz Bretas. Segundo reportagem da TV Globo, Cabral, que está preso há quase um ano, teria encomendado o material.

Cabral está detido preventivamente por decisão de Bretas, responsável pela maioria dos processos aos quais o peemedebista responde na Justiça Federal. Segundo a reportagem, a PF apura a confecção desses dossiês para saber com que recursos teriam sido financiados e também o objetivo do material.

Cabral teria contratado pessoas que tentaram, em pelo menos três delegacias do Rio, buscar registros de ocorrências no nome do juiz e de sua mulher.

Ontem, a Polícia Civil do Rio determinou a instauração de investigação sobre possível envolvimento de policiais no levantamento de dados sobre Bretas no Sistema de Inteligência da instituição – ao qual só servidores têm acesso – com o intuito de abastecer “suposto dossiê”.

 

‘Desculpas’. Bretas interrogou Cabral mais uma vez ontem. Na audiência, o ex-governador pediu duas vezes desculpas ao magistrado. Com postura diferente da audiência anterior, na qual assumiu tom desafiador e citou negócios da família do juiz, o que Bretas interpretou como ameaça, desta vez Cabral adotou tom respeitoso. “Eu me exaltei, e peço desculpas. O senhor nunca faltou com o respeito comigo.” “Está superado, estamos de bem”, disse Bretas.

O ex-governador também negou ter feito qualquer dossiê. “Não é da minha índole. Isso foi feito contra mim maldosamente”, afirmou. “Não tenho conhecimento, isso não está sob minha condução”, respondeu o juiz.

Após o interrogatório no qual Cabral mencionou que a família do juiz comercializa bijuterias, Bretas determinou sua transferência para presídio federal. O Supremo Tribunal Federal, no entanto, suspendeu a decisão. O ex-governador já foi condenado a 72 anos de prisão.

O advogado de Cabral, Rodrigo Roca, também negou a participação do ex-governador no caso dos dossiês. “É uma mentira criada com o propósito de criar intriga”, afirmou. A PF não se manifestou oficialmente sobre as investigações.

 

 

 

 

 

Raquel defende transferência de ex-governador

Por: Rafael Moraes Moura / Breno Pires

 

Rafael Moraes Moura

Breno Pires / BRASÍLIA

 

Em manifestação ao Supremo Tribunal Federal ontem, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, defendeu a transferência do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) para uma penitenciária federal de segurança máxima. Raquel vê o peemedebista como “líder de organização criminosa”.

O ministro Gilmar Mendes, do STF, decidiu no mês passado atender a um pedido do ex-governador para mantê-lo na unidade prisional de Benfica, no Rio, suspendendo a remoção de Cabral para o presídio federal de Campo Grande (MS), conforme havia sido determinado pelo juiz federal Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal do Rio.

“É por esta razão que, para evitar que o paciente (Cabral) exerça sua condição de líder de organização criminosa, com força política e poder de influência inegáveis no Estado do Rio de Janeiro, para obter e gozar de benefícios indevidos no cárcere e receber informações privilegiadas aptas a causar embaraços, intimidação e ameaçar ostensiva ou veladamente o magistrado competente para processar e julgar diversas ações penais que tramitam contra ele, é necessária sua transferência para um dos presídios federais, onde certamente o aparato institucional da segurança pública impedirá o recebimento pelo paciente de informações inadequadas e privilégios irregulares”, diz o documento.

Divergência. O Ministério Público Federal pediu a transferência de Cabral para penitenciária federal depois que o ex-governador citou em depoimento que Bretas tem familiares que vendem bijuterias. Para o ministro Gilmar Mendes, no entanto, não há nada “relevante” no episódio, já que a informação seria de conhecimento público. A procuradora-geral discordou.

“A conduta do paciente tem indícios de que foi direcionada a ameaçar o juiz que o processa e julga, pois mencionou informações relacionadas a familiares do juiz obtidas durante sua prisão, acrescida de fortes elementos indicativos do recebimento de privilégios indevidos no presídio em que se encontra custodiado”, afirma Raquel.