Título: Gurgel investigará as ligações de Demóstenes
Autor: Abreu, Diego; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 15/03/2012, Política, p. 4

PGR diz que órgão vai apurar série de contatos do senador com Carlinhos Cachoeira. O bicheiro e mais 81 pessoas foram indiciados pela PF por envolvimento com jogos ilegais

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, vai analisar documentos produzidos pela Polícia Federal, durante a Operação Monte Carlo, para verificar se há irregularidades envolvendo o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Escutas revelam trocas de telefonemas entre Demóstenes e outros parlamentares, com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Gurgel disse ter recebido da PF, na última sexta-feira, uma grande quantidade de áudios, que ainda não começaram a ser analisados. Cachoeira, que está preso em Mossoró (RN), mantinha uma série de negócios e planejava agir no exterior no ramo de jogos. Ontem, a Polícia Federal indiciou 82 pessoas por envolvimento no esquema de jogos de azar e jogo do bicho, desvendado pela investigação, desencadeada há mais de um ano.

"A coisa não diz respeito apenas ao senador Demóstenes. Há outros parlamentares de Goiás. São pessoas que estão sujeitas à jurisdição da Procuradoria-Geral da República, mas isso realmente tem que analisar. Eu não vi nada e é muita coisa. Vou examinar", afirmou Gurgel. Entre os parlamentares que fizeram ligações e receberam chamadas telefônicas de Cachoeira, estão o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), e o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO).

Ambos aparecem nos grampos autorizados pela Justiça, assim como Demóstenes, que trocou pelo menos 298 ligações com Cachoeira entre fevereiro e agosto de 2011, conforme noticiou o Correio em reportagem publicada no último dia 4. Gurgel não informou o prazo que levará para analisar os áudios. O material foi recebido na sexta-feira e vai demandar algum tempo para ser examinado. Demóstenes não quis comentar as declarações do PGR. Os dois deputados não retornaram às ligações até o fechamento da edição.

Ontem, a PF encerrou sua participação no caso, indiciando Carlinhos Cachoeira e outras 81 pessoas por envolvimento com os jogos de azar. Todas responderão, dependendo da participação no esquema, por vários tipos de crime. Na apuração, os investigadores verificaram que, além de adquirir terras no Distrito Federal, como o Correio mostrou na semana passada, Cachoeira também seria dono de uma empresa de vigilância, com Cláudio Dias de Abreu, que é gerente da Delta Engenharia. Porém, a firma estava no nome da mulher de um delegado da Polícia Federal e de uma outra pessoa.

Sócios ocultos Cachoeira e Cláudio ficariam por trás "ditando as regras", segundo o relatório da Justiça Federal. O policial foi afastado temporariamente da corporação depois que a investigação detectou seu envolvimento no esquema do empresário de jogos. "Ressalto que não vejo problemas que a autoridade policial, ou sua esposa, detenham qualquer empresa. No entanto, há problema quando a sociedade é formada por criminosos. Há problemas quando existem sócios ocultos", observa o relatório da Justiça.

Além disso, segundo os relatórios da PF, Cachoeira ainda pretendia estender seus negócios para outros países, usando intermediários. "Como toda grande empresa que se preze, a organização criminosa partiu para expandir seus negócios para fora do país", afirma um dos relatórios da investigação. O documento revela, ainda, que o grupo elaborou um "engenhoso esquema de remessa ilegal de recursos para o exterior, mediante empresas offshore", acrescenta.

Cachoeira mantinha site de apostas de jogos ilegais em outros países, que teria sido adquirido pela organização em Curaçao, nas Antilhas Holandesas.

Acusado de racismo

O deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) foi acusado de racismo ontem por um servidor do Senado. O parlamentar teria chamado um policial de "macaco" e mandado o funcionário "procurar um pau para subir", antes de se dirigir ao cafezinho do plenário. A ofensa aconteceu depois que o policial pediu a identificação do deputado. É a segunda vez em que um boletim de ocorrência é aberto com Leréia. Da primeira vez, ele xingou um policial, também no plenário do Senado.

Inquérito de Estevão

A denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o empresário e ex-senador Luiz Estevão já está nas mãos do juiz Ricardo Augusto Soares Leite, que atua na 10ª Vara Federal de Brasília. Caberá a ele analisar as acusações de que o mandatário do Brasiliense Futebol Clube se utiliza das contas do time para lavar dinheiro. Segundo os procuradores autores da denúncia, o cartola usou o clube para ocultar e movimentar recursos supostamente oriundos de atividades criminosas. Não há prazo legal para que o juiz Ricardo Leite decida o destino do inquérito contra Estevão.

Nesta fase, o juiz titular do processo interroga as testemunhas e, por último, o réu, antes de iniciar a fase de produção das provas indispensáveis para uma possível condenação. De acordo com o procurador da República Bruno Calabrich, o MPF detectou 16 operações bancárias realizadas pelo Brasiliense com características típicas de lavagem de dinheiro. Segundo o MPF, o clube recebia quantias de empresas que não têm qualquer relação com o futebol e depois transferia os valores para empresas do Grupo OK. Luiz Estevão classificou a denúncia de "desapropriada e fantasiosa".