O Estado de São Paulo, n. 45340, 06/12/2017. Politica, p. A4.

 

Denúncia pede restrição a mãe e irmão de Geddel

Julia Affonso / Luiz Vassallo / Fausto Macedo

06/12/2018

 

 

Tesouro Perdido. Procuradora—geral da República solicita ao Supremo a prisão domiciliar de Marluce Vieira Lima e o recolhimento noturno do deputado Lúcio Vieira Lima

 

 

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Supremo Tribunal Federal a prisão domiciliar de Marluce Vieira Lima, mãe do ex-ministro Geddel Vieira Lima, e o recolhimento domiciliar noturno do deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão de Geddel. Os pedidos ao ministro Edson Fachin, relator do caso, constam da denúncia oferecida anteontem contra Geddel, o deputado, Marluce e outras três pessoas por crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa. Todos foram investigados após a apreensão de R$ 51 milhões em espécie no interior de um apartamento em Salvador que era usado pelos Vieira Lima.

A acusação formal indica que os recursos teriam origem em repasses do corretor Lúcio Funaro e em “vantagens indevidas” da empreiteira Odebrecht. Funaro e Geddel – ex-ministro da Integração Nacional no governo de Luiz Inácio Lula da Silva e ex-titular da Secretaria de Governo de Michel Temer – estão presos preventivamente.

Segundo a denúncia, de 2010 até 5 de setembro deste ano, a família Vieira Lima cometeu crimes de ocultação da origem, localização, disposição, movimentação e propriedade das cifras milionárias em dinheiro.

Até janeiro do ano passado, a quantia ficou escondida em um closet na casa de Marluce. Após essa data, afirma a PGR, R$ 42 milhões e cerca de US$ 2,5 milhões foram transferidos em malas e caixas para um apartamento no bairro da Graça, na capital baiana. Semanas depois, o montante foi levado para um apartamento vizinho, onde ocorreu a apreensão pela Polícia Federal, na Operação Tesouro Perdido.

Também foram acusados o ex-assessor parlamentar Job Ribeiro Brandão, o aliado da família Gustavo Ferraz e o empresário Luiz Fernando Machado da Costa Filho. Para os investigadores, não há dúvidas de que o dinheiro localizado no imóvel é resultado de práticas criminosas.

Ao pedir a prisão domiciliar de Marluce, Raquel descreveu a mãe de Geddel como uma senhora de idade com papel ativo e relevante na lavagem de dinheiro. Marluce tem 79 anos (mais informações na página A5).

Raquel sustenta que a apreensão das cifras milionárias foi um capítulo complementar a vários fatos investigados nas operações Lava Jato, Sépsis e Cui Bono?, incluindo denúncia baseada no inquérito do “quadrilhão do PMDB”.

A acusação afirma ainda que, entre 2011 e 2016, Costa Filho, administrador da Cosbat Construção e Engenharia, empresa de construção civil baiana especializada em empreendimentos imobiliários de alto luxo, auxiliou a família na lavagem de dinheiro ao vender a empresas de Geddel, Lúcio e de seus pais, imóveis avaliados em mais de R$ 12 milhões. A PGR pede a indisponibilidade de sete imóveis.

A procuradora-geral da República requereu ao Supremo que o ex-ministro, o deputado, Marluce e Costa Filho paguem à União R$ 51 milhões de indenização por danos morais coletivos.

 

Tornozeleira. No caso de Lúcio Vieira Lima e de sua mãe, a PGR solicita também que os denunciados passem a usar tornozeleira eletrônica. Caso o Supremo autorize as medidas cautelares contra o parlamentar, a Câmara terá de dar aval para a execução. Exassessor do deputado peemedebista, Job Brandão negocia um acordo de delação premiada.

A reportagem entrou em contato com o advogado Gamil Foppel, que defende Geddel e Marluce, mas ele não se manifestou. Lúcio Vieira Lima não respondeu aos contatos.

O advogado Bruno Espiñeira, que representa Lúcio Funaro, disse apenas que seu cliente vai continuar colaborando com as autoridades. A reportagem não localizou a defesa de Job Brandão.

A defesa de Gustavo Ferraz, afirmou, em nota, que a “denúncia já era esperada”. “O que se espera é que seja retirada a prisão domiciliar de Gustavo.”

O Estado não localizou ontem a defesa do empresário Luiz Fernando da Costa Filho.

Em nota, a empreiteira Odebrecht afirmou que vem colaborando com a Justiça.

 

Geddel. PGR quer que família pague R$ 51 milhões de indenização

 

ACUSAÇÃO FORMAL

O ex-ministro Geddel Vieira Lima, seu irmão, o deputado federal Lúcio Vieira Lima, sua mãe, ao Marluce, e outras três pessoas são denunciados ao Supremo pelo Ministério Público Federal

 

Os  denunciados

Geddel Vieira Lima ("Está preso desde setembro na Papuda, em Brasília)

EX-MINISTRO (PMDB-BA)

Lúcio Vieira Lima

 

IRMÃO DE GEDDEL DEPUTADO FEDERAL (PMDB- BA)

Marluce Vieira Lima

MÃE DE GEDDEL E  LUCIO

0 que diz a Procuradoria - Acusados de  lavagem de dinheiro e organização criminosa

 

A origem do dinheiro

Segundo a denúncia da Procuradoria. Os R$ 51 milhões são recursos desviados de propinas da Odebrecht, repasses do corretor Lúcio Funaro. operador do PMDB. e desvios relacionados ao 'quadrilhão do PMDB' na Câmara

 

O caminho do dinheiro

1) De 2010 até janeiro de 2016, o dinheiro ficou escondido em um closet na casa de Marluce Vieira Lima, mãe de Geddel

2) Em janeiro de 2016, o montante de R$ 42 milhões e cerca de U$ 2,5 milhões foi transferido em malas e caixas para um apartamento no bairro da Graça, em Salvador

3) Semanas depois,  o dinheiro foi levado para um apartamento vizinho,  onde ocorreu a apreensão , pela Polícia Federal, na Operação Tesouro Perdido. 0 dinheiro estava em malas e caixas depositadas no chão do apartamento

 

Job Ribeiro

EX-ASSESSOR

Gustavo Ferraz

EX—DIRETOR DA DEFESA CIVIL DE SALVADOR

Luiz Fernando Costa Filho

O SÓCIO DA EMPRESA COSRAT

Apontados como operadores na lavagem de dinheiro

A denúncia tem como base os R$ 51 milhões aprendidos em espécie em um apartamento em Salvador

 

O que pede a Procuradoria

A PGR pede a prisão domiciliar cie Marluce Vieira Lima e o recolhimento noturno e nos dias

de folga de Lúcio; Em relação aos demais denunciados, além da condenação penal, a Procuradoria pede que eles percam, em favor da União, o dinheiro apreendido no apartamento

 

O que dizem as defesas

As defesas de Geddel,  Lúcio e Marluce Vieira Lima não responderam aos contatos da reportagem; a defesa de Gustavo Ferraz diz que a denúncia já era esperada, mas que seu cliente está "tranquilo" e vai provar sua inocência: Job Ribeiro e Luiz Fernando Costa Filho não se manifestaram