O Estado de São Paulo, n. 45384, 19/01/2018. Política, p. A7.

 

PT ‘ignora’ julgamento e finaliza carta

Ricardo Galhardo

19/01/2018

 

 

Documento, elaborado por Haddad e agora direcionado à classe média, será apresentado em fevereiro, no aniversário de 37 anos da sigla

 

 

Enquanto todas as atenções estão voltadas para o julgamento do dia 24 no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) que pode tornar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva inelegível, a equipe do petista tenta dar ares de normalidade à sua pré-campanha à Presidência. Segundo fontes do partido, a primeira minuta da nova Carta ao Povo Brasileiro deve ficar pronta hoje e será apresentada em 26 de fevereiro – quando o PT completa 37 anos –, seja qual for o resultado do julgamento em Porto Alegre.

O responsável pela elaboração da minuta é o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, coordenador-geral do programa de governo de Lula. Ainda hoje ele deve entregar a versão inicial da carta aos ex-ministros Paulo Bernardo e Aloizio Mercadante, que compõem o grupo mais próximo do ex-presidente na corrida pelo terceiro mandato no Palácio do Planalto.

Paulo Bernardo e Mercadante devem fazer ajustes no texto, cujo conteúdo é fruto de meses de discussões entre economistas e acadêmicos que se reúnem semanalmente na sede do Instituto Lula, na capital paulista. Antes de ganhar a redação final, no entanto, a carta ainda passará pelo crivo do próprio ex-presidente.

A ideia do PT é apresentar o texto no aniversário do partido. Com isso, a sigla espera também passar uma imagem de normalidade, mesmo que a pena de 9 anos e 6 meses imposta a Lula pelo juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal de Curitiba, seja mantida pelo TRF-4, o que tornaria Lula inelegível. Ele foi condenado na Operação Lava Jato em julho do ano passado, na ação penal relativa ao caso do triplex do Guarujá (SP).

 

Prazos. A estratégia do partido é tentar minimizar os efeitos do julgamento do recurso de Lula em Porto Alegre e argumentar que a disputa judicial pela elegibilidade do petista só começa para valer no dia 15 de agosto, quando se encerra o prazo para o registro de candidaturas, e se dará no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Como mostrou o Estado em dezembro passado, ao contrário da Carta ao Povo Brasileiro de 2002, feita para acalmar o mercado financeiro receoso diante da possibilidade da primeira eleição de Lula, o texto de 2018 será voltado para a classe média, especialmente para o eleitorado que já votou no PT, mas agora culpa a gestão da presidente cassada Dilma Rousseff pela crise econômica e associa o partido aos escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato.

O conteúdo da carta é mantido em sigilo absoluto, mas, segundo petistas graduados, um dos eixos é desassociar Lula do desastre econômico ocorrido durante o governo Dilma.

O petista também quer mostrar que, embora o contexto político e econômico seja muito diferente de 2002, a responsabilidade com a condução econômica é um princípio pessoal. Para isso, Lula vai listar fatos de seus dois governos, como os seguidos superávits fiscais além da meta, trajetória de queda da dívida pública, obtenção do chamado “grau de investimento”, recordes de valorização de ações na Bolsa e aumento das reservas cambiais.

 

Mercado. De acordo com assessores próximos do petista, como o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, depois de oito anos de mandato na Presidência com bons resultados na economia e demonstrações de rigor fiscal, segundo ele, Lula e o PT não precisam mais provar ao mercado financeiro seu compromisso com a responsabilidade econômica.

Em conversas com colaboradores, o ex-presidente tem se referido à ideia do documento como “uma Carta ao Povo Brasileiro, só que para o povo brasileiro mesmo”.

 

Zelotes

A Justiça Federal em Brasília negou pedido da defesa de Lula e manteve para 20 de fevereiro interrogatório do ex-presidente no processo da Operação Zelotes.

 

3 PERGUNTAS PARA...

 

Luiz Gonzaga Belluzzo,
economista

1. A opinião do mercado financeiro é relevante para definir a eleição?

O mercado existe, tem que considerar a existência dele, mas não se pode desenhar as políticas a partir das suas premissas. O candidato não deve ficar se jogando de joelhos diante do mercado financeiro.

2. Seria importante Lula elaborar uma carta para o mercado caso venha a ser candidato?

Acredito que ele fará uma carta para o povo, explicando que deseja o desenvolvimento do Brasil. Não estou ajudando na elaboração da carta. Se me pedirem ajuda, darei palpite. É melhor que os candidatos digam o que pensam.

3. Qual a expectativa do senhor para o julgamento do ex-presidente?

Eu acho que não vai ter nenhuma decisão definitiva. Eles vão, prudentemente, encaminhar isso de outra maneira, para não aumentar a confusão. /COLABORARAM: ALTAMIRO SILVA JUNIOR e MARIA REGINA SILVA

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Julgamento de ex-presidente terá transmissão pelo YouTube

Taís Seibt

19/01/2018 

 

 

TRF-4 havia comunicado que exibição da sessão seria interna; grupos pró e contra petista farão atos em Porto Alegre
 

 

 

O julgamento do recurso da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a condenação na Lava Jato no caso do triplex no Guarujá (SP), no dia 24, será transmitido pelo YouTube, diferentemente do que foi informado, na semana passada, pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). A audiência já mobiliza movimentos pró e contra Lula na capital gaúcha e manifestações estão programadas para a próxima semana. Inicialmente, apenas jornalistas, na sala de imprensa, e envolvidos na sessão – advogados, desembargadores e membros do Ministério Público – assistiriam a uma transmissão interna no TRF-4. Mas, segundo a assessoria de imprensa do Tribunal, “em casos excepcionais, por decisão dos julgadores”, a transmissão pode ser autorizada.

O principal ato público dos movimentos de esquerda será no fim da tarde de terça-feira, quando são esperadas mais de 200 caravanas do interior do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná, para uma marcha. Os organizadores esperam reunir mais de 50 mil pessoas na chamada “esquina democrática”, perto do Mercado Público de Porto Alegre. “Será uma marcha pacífica e organizada em defesa da democracia e contra a condenação sem provas do ex-presidente Lula. Queremos mostrar que aqui se pratica a democracia e denunciar a gravidade do que está acontecendo na Justiça, que insiste em condenar sem provas”, disse Claudir Nespolo, uma das lideranças da Frente Brasil Popular.

Discrição. Já os grupos favoráveis à condenação de Lula têm optado por manifestações mais discretas. O Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua espalharam pela cidade cerca de 30 outdoors pedindo “Lula na cadeia”. Na véspera do julgamento, um ato está sendo convocado para o Parque Moinhos de Vento, o Parcão. “Vai ser um evento pequeno, já que consideramos e avaliamos que um evento grande poderia implicar questões de segurança. Será um ato de apoio ao TRF4 e à Justiça, para que continuem fazendo o seu trabalho e que não se tolere ameaças ou intimidações”, afirmou Iria Cabreira, uma das coordenadoras do Vem Pra Rua gaúcho./ COLABORARAM: LUIZ VASSALLO, JULIA AFFONSO e FAUSTO MACEDO

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Bretas critica senadores petistas por ‘violência’

Alexandra Martins

19/01/2018

 

 

O juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Operação Lava Jato no Rio, questionou na madrugada de ontem pelo Twitter a postura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) em defesa do discurso da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), sobre o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A senadora afirmou ao site Poder360 que, “para prender o Lula, vai ter que prender muita gente, mas, mais do que isso, vai ter que matar gente. Aí, vai ter que matar”. Após críticas, Gleisi disse que se tratava de uma “força de expressão”. Já Lindbergh publicou um vídeo no qual avaliou que a colega de partido “elevou o tom do discurso” de maneira positiva ao dizer que “vai ter que matar gente” para cumprir um eventual pedido de prisão do ex-presidente.

“É só uma impressão ou há senadores da República conclamando grupos de pessoas para atos de violência? Não creio que isso seja um padrão racional de Estado democrático de direito. No entanto, melhor dirá o @MPF_PGR...?”, postou Bretas em sua conta. Sobre a manifestação, Lindbergh afirmou ao Estado que “o que foge ao padrão do Estado democrático de direito é o juiz não falar nos autos e entrar no debate político dessa forma”. “Não defendi que esse julgamento não ocorra de forma pacífica. O nosso chamado para que as pessoas se manifestem não tem nada de mais democrático.” Gleisi reagiu no Twitter. “Um juiz que divulga fotografias empunhando armas pesadas e diz que a Justiça tem de ser temida. Isso é ou não é uma incitação à barbárie? Que faz declarações políticas, contrariamente à lei, e se posiciona contra um determinado partido. Isso é ou não uma violação do Estado de direito?”

‘Impressão’

“É só uma impressão ou há senadores da República conclamando grupos de pessoas para atos de violência?”

Marcelo Bretas

JUIZ FEDERAL