O Estado de São Paulo, n. 45339, 05/12/2017. Política, p.A6

 

 

 

 

Quem é mais anti-Lula

 

 

Eliane Cantanhêde

 

Ao mesmo tempo em que viabiliza sua candidatura à Presidência da República, Geraldo Alckmin patina nas pesquisas e atrai pressões e ataques especulativos de dentro e de fora do PSDB e até mesmo de adversários. Isso significa fraqueza, mas também pode significar força.

Se Alckmin não empolga, está em quarto lugar e não consegue criar a expectativa de vitória, por que ele incomoda tanto, preocupa tanto, mobiliza tanto os adversários? Porque, em uma política polarizada como continua sendo a brasileira, um candidato do PSDB, qualquer que seja, ainda é um fator relevante na eleição. Especialmente se o PT é quem lidera.

Ao dizer que os antilulistas estão migrando para Jair Bolsonaro, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não faz uma mera constatação e sim exercita uma estratégia: insuflar Bolsonaro e minimizar Alckmin. Apesar dos pesares, para Lula é melhor Bolsonaro do que Alckmin no segundo turno.

 

Bolsonaro se consolidou e não faltam relatos de como é recebido em festa pelo País afora e estimula anônimos a lançarem camisetas para ele no Aeroporto de Brasília, outdoors em Criciúma (SC) e adesivos de carro em Natal, para ficar em poucos exemplos. Mas Bolsonaro não tem a estrutura partidária, as alianças, o tempo de TV, os recursos e a experiência de Alckmin. E, ao contrário de quem é governador de São Paulo, também não tem muito o que mostrar em uma campanha.

Logo, o tucano Alckmin é “mais perigoso” para um candidato petista do que um deputado que vive há 25 anos da política, mas se diz antipolítico. Por isso, os petistas vão martelar o oposto: que Bolsonaro é o anti-Lula e Alckmin não está com nada. Para bom entendedor, basta: eles temem Alckmin.

A vida do tucano, porém, não está nada fácil e a cobrança sistemática é de que Alckmin tem prazo: ou encorpa nas pesquisas até fevereiro, ou vai enfrentar competição interna. Ali ao lado, na espreita, estarão João Doria e Luciano Huck. Eles estão praticamente fora do páreo, mas “praticamente” não quer dizer “totalmente”.

Hoje, é surpreendente que Alckmin esteja empatado com Ciro Gomes, apesar das gritantes diferenças de condições entre eles, a começar do óbvio: um tem a exibição de governador do principal Estado, o outro está sem mandato. Mas nem os mais críticos a Alckmin creem que isso se manterá assim.

O foco das articulações é aglutinar forças políticas, mas as forças disponíveis estão com o pé atrás. Bolsonaro não agrega, Lula está vendo o PSOL, a Rede e até o PCdoB lançarem candidatos próprios e Alckmin tenta uma articulação malandra: quer que o governo e o PMDB o apoiem, mas sem ele e o PSDB apoiarem o governo e o PMDB. Ou seja: ele quer usufruir das facilidades do governo, mas sem dividir o desgaste de popularidade. A política não costuma funcionar assim. Aliás, nem as relações comerciais e pessoais.

As mexidas no tabuleiro de 2018, onde já estão colocados Lula (na dependência da Justiça) e Bolsonaro, são o lançamento de Marina Silva em uma cerimônia simplória, o anúncio de que o PCdoB vai de Manuela D’Ávila e a expectativa do PSOL de trocar Luciana Genro por Guilherme Boulos na cabeça de chapa.

Henrique Meirelles? Ex-presidente do BC nos oito anos de Lula, ele não tem um só voto no PT. Ministro da Fazenda de Temer, nunca teve uma só palavra de apoio público à sua candidatura. Filiado ao PSD, vê Gilberto Kassab, presidente do partido, se guardando para quando o carnaval chegar. Meirelles diz que o governo terá candidato, mas não será Alckmin. Pode até não ser, mas depende do cenário em fevereiro. Ou melhor: depende da capacidade de Alckmin empolgar e se afirmar como “o cara” para unir o centro contra “a ameaça” Lula versus Bolsonaro.

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Meirelles ataca PSDB por 2018 e reforma 

Críticas do titular da Fazenda aos tucanos têm respaldo de Temer; Planalto cobra apoio à PEC da Previdência e defesa do legado do presidente
Por: Adriana Fernandes / Vera Rosa

 

Adriana Fernandes

Vera Rosa / BRASÍLIA

 

As críticas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao PSDB e até ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tiveram o aval do presidente Michel Temer. O movimento de Meirelles tem como objetivo não apenas se fortalecer como possível candidato à Presidência, em 2018, mas também jogar no colo do PSDB a responsabilidade por eventual fracasso na votação da reforma da Previdência.

Conforme revelou o Estado no fim do mês passado, Temer começou a desenhar uma estratégia para a eleição. A ideia é reunir os principais partidos da coalizão governista em uma chapa de centro-direita para disputar a corrida ao Palácio do Planalto. Filiado ao PSD, Meirelles quer ser esse concorrente e já tenta repaginar sua imagem, para torná-la mais popular.

O outro nome que, na avaliação de aliados, pode quebrar a polarização das possíveis candidaturas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do deputado Jair Bolsonaro (PSC) é justamente o de Alckmin. O problema é que o governador – prestes a ser eleito presidente do PSDB, em convenção marcada para sábado – já defendeu o desembarque do partido da equipe de Temer e, no diagnóstico do Planalto, dá sinais dúbios sobre a defesa da gestão do PMDB.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Meirelles disse que o governo Temer terá um candidato à Presidência, em 2018. Afirmou, porém, que esse postulante não será Alckmin. “O PSDB está tendendo na direção de não apoiar o governo e isso terá consequências no processo eleitoral”, afirmou o ministro. “Não há um comprometimento do PSDB em defesa dessa série de políticas e do legado de crescimento com compromisso de continuidade.”

O ataque de Meirelles ao PSDB encontra respaldo da cúpula do PMDB, que cobra a defesa do “legado” de Temer e o apoio à reforma da Previdência, em troca de alianças para a eleição. Mesmo se não conseguir renovar a dobradinha com o PSDB, o Planalto tentará manter sob sua órbita o maior número possível de partidos aliados. A chapa dos sonhos de Temer reuniria o DEM e siglas que compõem o Centrão, como o PSD, o PP, o PR e o PTB.

“Quanto mais unida a coalizão, mais chance de vitória teremos em 2018”, disse ao Estado o senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB. “O resultado da ação do governo na economia agregará votos. Duvido que na hora H os partidos da base não queiram usufruir disso.”

 

Exame. Na prática, o governo vai examinar até março quais os candidatos de centro largam na frente para só então bater o martelo sobre quem apoiará. Nesse cenário aparece ainda o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Há também quem defenda a candidatura do próprio Temer à reeleição, apesar de sua baixa popularidade. Até agora, pesquisas de intenção de voto mostram Meirelles com 1% de aprovação, um índice ainda menor do que o de Temer.

Em busca de mais visibilidade e para se aproximar “do povo”, o ministro da Fazenda já esteve pelo menos quatro vezes em eventos ligados à Assembleia de Deus desde o início de outubro e gravou um vídeo dirigido a pastores evangélicos, pedindo “oração de todos” pela economia. Além disso, intensificou contatos com empresários e já participou até mesmo de batizado de criança. Nessas ocasiões, não se nega a posar para selfies.

Foi de Temer a ideia de leválo a Limeira e a Americana (SP), no sábado, para participar da entrega de moradias do programa Minha Casa Minha Vida. “Vai ser bom para você”, afirmou o presidente. Alckmin também estava lá e entendeu o recado.

No dia seguinte, Temer reuniu presidentes de partidos aliados em almoço, no Palácio da Alvorada, no qual o cardápio foram as bases de uma candidatura de centro, em 2018. “A ideia é construirmos um compromisso conjunto tendo como pilares os pressupostos da estabilidade econômica”, disse ao Estado o ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco. “A aliança para o ano que vem vai se dar com metas a serem alcançadas do ponto de vista social, do ambiente de negócios e do esforço de equilíbrio fiscal.”

Para o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), Meirelles foi “ingrato” ao criticar os tucanos (mais informações nesta página). “Não se empurra um parceiro para fora assim, não”, reagiu Tripoli. “Acho que Meirelles deve estar desesperado porque o presidente do partido dele (ministro Gilberto Kassab, que comanda o PSD) já disse que, na opinião dele, quem ganha a eleição é o Alckmin.” Questionado se uma aliança entre o PSDB e o PMDB está descartada para 2018, o deputado respondeu que não. “Mas agora tudo depende deles.”/ COLABOROU IDIANA TOMAZELLI

 

Economia. Meirelles participa de seminário no Rio sobre risco Brasil; ministro é apontado como presidenciável para 2018

 

Votos

“O resultado da ação do governo na economia agregará votos. Duvido que na hora H os partidos da base não queiram usufruir disso.”

Romero Jucá (RR)

PRESIDENTE DO PMDB

 

“Não se empurra um parceiro para fora assim.”

Ricardo Tripoli (SP)

LÍDER DO PSDB

 

 

 

 

‘Nova cara’ no twitter

Repaginada
Por: Adriana Fernandes / Idiana Tomazelli
 

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que tenta se firmar como possível nome na disputa presidencial de 2018, não só intensificou a agenda de viagens pelo País, como promoveu mudanças em seu perfil nas redes sociais. O Twitter passou a ser seu principal canal de comunicação. O discurso renovado, voltado a temas sociais e de combate a desigualdades, substituiu temas áridos da economia.

Para cuidar da conta na rede social e de sua imagem, Meirelles contratou o publicitário Fábio Veiga, sócio do Neovox Comunicação, de Florianópolis, que esteve à frente da campanha que reelegeu o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD). No Twitter, a nova logomarca dá ênfase ao nome de Meirelles, com uma bandeira do Brasil, sem referência ao governo federal. /ADRIANA FERNANDES e I.T.

 

 

 

 

 

 

 

Ministro ‘ falou mais do que devia’, afirma Alberto Goldman

Presidente interino do PSDB rebate declarações de Meirelles; para líder na Câmara, foi uma ‘deslealdade com a sigla
Por: Pedro Venceslau
 
 
 
Pedro Venceslau
 
 
 

Os tucanos reagiram ontem à entrevista do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao jornal Folha de S.Paulo, na qual ele criticou o PSDB e disse que a saída do partido do governo “terá consequências eleitorais” em 2018. Segundo Meirelles, os tucanos não estão comprometidos com a atual política econômica, que será o “legado” de Temer.

Presidente interino do PSDB, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman foi um dos que criticaram a entrevista. “Ele falou mais do que devia”, afirmou o dirigente. Segundo Goldman, Meirelles tem “plena consciência” de que o PSDB é a favor da reforma da Previdência, mas ressaltou que o governo ainda não chegou à versão final do texto que vai para votação no plenário.

“Meirelles não está lendo jornal”, disse Goldman sobre o posicionamento público de líderes tucanos em defesa das reformas. Sobre as “consequências eleitorais” da saída do PSDB do governo levantadas pelo ministro da Fazenda, o presidente interino do partido disse que isso é um problema “para depois”. “Temos tempo até julho do ano que vem. Não tem de discutir aliança agora”, afirmou.

O deputado federal Ricardo Tripoli, líder do PSDB na Câmara, também criticou as declarações de Meirelles. “É uma deslealdade dele com o PSDB”, disse ao Estado. “Em vez de verificar quantos votos o partido dele (PSD) tem na base, Meirelles fica atacando o PSDB. Isso de defender o legado de Temer é besteira. Vamos mostrar à sociedade que vamos continuar com as reformas, estabilizar o País e fazer voltar a crescer”, afirmou.

 

Conta. Ainda segundo Tripoli, é “estranho” o ministro colocar na conta do PSDB algo que não é do partido. Aliados e interlocutores do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que no dia 9 deve assumir a presidência nacional do PSDB, reclamam que o governo Michel Temer tem cobrado do partido um comportamento que outras siglas da base não têm.

Hoje, nem mesmo o PSD e o PMDB têm ampla maioria próreforma em suas bancadas. “Nós tivemos mais votos do que outros partidos da base na votação da reforma trabalhista”, disse Tripoli.

 

Ironia. Já o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), ironizou a possibilidade de Meirelles concorrer à Presidência da República no ano que vem. “O ministro é um grande economista, mas não é muito identificado com as questões eleitorais”, afirmou o tucano.

Ainda de acordo com Bauer, o PSDB será protagonista do processo eleitoral na campanha do próximo ano.