O Estado de São Paulo, n. 45370, 05/01/2018. Política, p. A5.

 

Força-tarefa investiga filme sobre vida de Lula

Julia Affonso/ Ricardo Brandt

05/01/2018

 

 

Executivos da Odebrecht relatam em e-mails ‘demanda’ por longa sobre ‘cliente’ petista

 

 

A Operação Lava Jato investiga a captação de recursos para o financiamento do longa Lula, o Filho do Brasil. O empreiteiro Marcelo Odebrecht e o ex-ministro Antonio Palocci já prestaram depoimento. Em e-mails capturados pela Polícia Federal, executivos relatam a “demanda” de R$ 1 milhão para “apoiar o filme de interesse do nosso cliente”, que seria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O filme que narra a história do petista estreou em 1.º de janeiro de 2010 e custou cerca de R$ 12 milhões. A Odebrecht destinou R$ 750 mil para o longa. A defesa de Lula não comentou a investigação da força-tarefa em Curitiba. O produtor do longa, Luiz Carlos Barreto, negou que tenha ocorrido tráfico de influência. A Odebrecht informou que está “colaborando com a Justiça”.

Em depoimento no dia 11 de dezembro, Palocci foi questionado pelo delegado Filipe Hille Pace sobre sua suposta relação com a produção do filme. O exministro afirmou que “deseja colaborar na elucidação de tais fatos”, mas que naquele momento ficaria em silêncio.

No mesmo dia, Marcelo – delator da Lava Jato, já condenado e em prisão domiciliar em São Paulo – também falou ao delegado. Durante o depoimento, a PF apresentou ao empreiteiro emails extraídos de seu computador e ligados ao financiamento do filme. As mensagens recentemente resgatadas foram trocadas entre 7 de julho e 12 de novembro de 2008.

Em um dos e-mails, Marcelo enviou cinco tópicos a funcionários do grupo. Na lista estavam os executivos Alexandrino Alencar e Pedro Novis, que também se tornaram delatores.

“O Italiano (Palocci) me perguntou sobre como anda nosso apoio ao filme de Lula”, escreveu Marcelo. “AA (Alexandrino Alencar) tinha acertado com o seminarista, mas adiantei que, se tivermos nos comprometido com algo, seria sem aparecer nosso nome”, relatou o empreiteiro. Seminarista, segundo os investigadores, é Gilberto Carvalho, ex-assessor de Lula e exministro de Dilma Rousseff.

A força-tarefa apura se o financiamento do filme tem relação com o esquema de desvios e corrupção na Petrobrás. À PF, Marcelo disse acreditar “que a doação para o filme fazia parte da agenda mais geral da Odebrecht com PT e Lula, ou, por exemplo, de uma ‘conta-corrente geral de relacionamento que Emílio (Odebrecht, seu pai), poderia manter com Lula”.

 

‘Apoio’. O primeiro e-mail identificado pelos investigadores indica que Marcelo havia sugerido a criação de um fundo. Na mensagem, o responsável pela comunicação do grupo, Marcos Wilson, informa ao empreiteiro que os realizadores não aceitaram.

“O amigo de seu pai (Lula), por sua vez, não admite usar qualquer lei de incentivo fiscal. Se houver interesse estratégico, encontraremos uma forma de atender à demanda”, escreveu Wilson a Marcelo. Na época, a empresa era presidida por Novis, que, nas mensagens, afirma que Alexandrino falaria “com o seminarista”.

Wilson, em um dos e-mails, fala sobre a inviabilidade do fundo e emite opinião sobre o longa: “Minha posição: embora seja um desejo do cliente e que já anda bem adiantado (o filme tem as características de Dois Filhos de Francisco), acho que este tipo de louvação maléfica poderá vir a ser um tiro no próprio pé do cliente”. Ele informa, então, o valor final do apoio.

Barreto disse também que negou o pedido de omissão feito pela Odebrecht. “Houve uma solicitação para que não incluíssemos o nome da empresa nos créditos do filme e dos materiais publicitários, condição essa que não foi, por nós, aceita”, afirmou Barreto. A empreiteira foi citada no filme. Procurado, Carvalho não foi localizado.

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Temer ainda terá de trocar 13 ministros em até 3 meses

Felipe Frazão

05/01/2018

 

 

Dez ocupantes da Esplanada já disseram que pretendem se candidatar; três afirmam que vão decidir até abril

 

 

Após três trocas em menos de um mês, o presidente Michel Temer terá de mudar pelo menos mais 13 ministros até abril, quando termina o prazo para candidatos se afastarem de cargos públicos. Desse total, dez já disseram que pretendem se candidatar e três afirmam que vão decidir até o prazo final.

“O cargo sempre é do presidente, mas pretendo ficar até o fim do prazo legal”, disse o ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), candidato à reeleição no Senado.

Também estão de saída do governo até abril Ricardo Barros (PP-PR), da Saúde; Osmar Terra (MDB-RS), do Desenvolvimento Social; Sarney Filho (PV-MA), do Meio Ambiente; Leonardo Picciani (MDB-RJ), do Esporte; Marx Beltrão (MDB-AL), do Turismo; Maurício Quintella Lessa (PR-AL), dos Transportes; Fernando Coelho Filho (sem partido PE), de Minas e Energia; Aloysio Nunes (PSDB-SP), do Itamaraty; e Mendonça Filho (DEMPE), da Educação.

Barros reafirmou ontem que será candidato a deputado federal no Paraná. “Fico no cargo o tempo que o presidente determinar. Mas a data limite é dia 7 (de abril), o prazo que a lei impõe.”

O Planalto descarta promover uma reforma de uma só vez, como chegou a ser cogitado no fim do ano. Tanto o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) como Moreira Franco (Secretaria-Geral) afirmam agora que a reforma será paulatina. A Presidência quer deixar os ministérios nas mãos dos mesmos partidos para evitar problemas em votações importantes, como a da Previdência.

Nos últimos dois meses, Temer trocou titulares de quatro pastas. No Trabalho, Ronaldo Nogueira (PTB-RS) cedeu lugar a Cristiane Brasil (PTB-RJ). Nas Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE) foi substituído por Alexandre Baldy (sem partido GO). Na Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy (PSDB-BA) deu lugar a Carlos Marun (MDB-MS). Um dos presidenciáveis que podem ter apoio do Planalto, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), repetiu ontem que avaliará uma candidatura apenas em abril.

 

Cristiane perdeu ação

A nova ministra do Trabalho, Cristiane Brasil, foi condenada a pagar R$ 60 mil por violar a lei trabalhista, em processo movido por um motorista em 2016. A informação foi revelada pela TV Globo.

 

Caminhada com fotógrafos

O presidente Michel Temer caminhou por cerca de 20 minutos na manhã de ontem no Palácio do Jaburu, acompanhado de seguranças. A caminhada matinal de Temer foi informada à imprensa no dia anterior.