Título: Os calos dos candidatos
Autor: De tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 11/03/2012, Politica, p. 6

Candidatar-se a cargos eletivos significa não apenas a oportunidade de expor as propostas que colocará em prática caso seja realmente eleito. Faz parte do jogo ter paciência e disposição para aguentar as pancadas dos adversários, que buscam enaltecer as próprias virtudes e expor as falhas e idiossincracias dos concorrentes diretos. Na maior eleição municipal do país — São Paulo —, cada um dos seis pré-candidatos têm sua cruz para arrastar pelas ruas da metrópole.

Líder nas intenções de votos segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, o tucano José Serra precisa convencer de que está realmente disposto a concluir os quatro anos de mandato. O passado condena o pré-candidato. Em 2004, elegeu-se prefeito de São Paulo, mas ficou apenas 15 meses no cargo. Abandonou a prefeitura para concorrer ao governo estadual. Novo mandato incompleto. Ficou três anos e três meses no Palácio dos Bandeirantes e tornou-se candidato do PSDB à Presidência da República. "Não há como ele não cumprir os quatro anos. São Paulo precisa disso", afirmou o deputado Luís Machado (PSDB-SP).

O tucano também enfrentará dificuldades com seu parceiro principal, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD). A rejeição de Kassab também é considerável e os paulistanos ficaram irritados com a recente crise de abastecimento de combustíveis, que elevou o preço da gasolina para R$ 5. Tucanos e kassabistas, no entanto, discordam que o prefeito paulistano será um estorvo para Serra. "Ele tem muita coisa para mostrar e no horário eleitoral gratuito ficará mais fácil mostrar isso", aposta o deputado Walter Feldmann (PSDB-SP). "Kassab tem R$ 7 bilhões prontos nos caixas da prefeitura exclusivamente para investimentos", lembrou o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz.

Principal adversário de Serra na disputa municipal, o petista Fernando Haddad não consegue livrar-se de dois fantasmas originados dos tempos em que ainda era ministro da Educação. A primeira bomba é crônica: as falhas consecutivas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Tanto que uma das primeiras ações da pré-campanha foi associar o ex-ministro ao ProUni, programa do governo federal que concede bolsas de estudo para que alunos carentes possam cursar universidades particulares.

Um dos coordenadores da pré-campanha de Fernando Haddad, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) disse que, além do ProUni, Haddad tem outras coisas para mostrar, como a multiplicação das escolas técnicas federais. Mas ele também terá de se explicar perante a comunidade evangélica, irritada com o kit contra a homofobia que começou a ser elaborado no ministério. Para tentar minimizar os estragos, a presidente Dilma Rousseff nomeou Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca. "Isso não vai diminuir a irritação dos evangélicos com o kit", assegurou Crivella ao Correio.

Audiência baixa

O peemedebista Gabriel Chalita é muito conhecido no meio religioso e entre os professores paulistas pelo tempo em que exerceu o cargo de secretário de Educação de Geraldo Alckmin. Mas o grande veículo de comunicação que administra, a TV Canção Nova, é forte no interior mas tem traços de audiência na capital paulista. Além disso, ao contrário de Haddad e Serra, que têm máquinas administrativas pesadas para apoiá-los, Chalita não tem sequer um vereador paulistano para apresentá-lo ao eleitorado.

Os candidatos coadjuvantes também não terão vida fácil. O vereador Netinho de Paula

(PCdoB) já naufragou em duas campanhas — uma para o Senado e outra para a prefeitura — acusado de violência contra as mulheres. Soninha Francine (PPS) admitiu em um passado recente que fumou maconha. Garante voto entre os progressistas, mas a maioria do eleitorado paulistano é conversador. E Celso Russomano (PRB) aparecerá mais no vídeo apresentando reportagens de defesa dos direitos do consumidor do que no horário eleitoral gratuito, já que sua legenda tem um tempo de televisão exíguo por contar apenas com 10 deputados e um senador.

Os obstáculos de cada um

Confira quais são as principais polêmicas enfrentadas pelos pré-candidatos a prefeito de São Paulo

Fernando Haddad (PT)

» Ex-ministro da Educação, terá que lutar para se tornar conhecido do eleitorado, e explicar as sucessivas falhas no Enem e o kit contra a homofobia que seria elaborado pela pasta, durante a sua gestão.

José Serra (PSDB)

» O político mais experiente da disputa tem contra si um índice de rejeição acima dos 30%, as dúvidas sobre se permanecerá no cargo até o final e a rejeição do prefeito Gilberto Kassab, amplificada pela recente crise na distribuição dos combustíveis.

Celso Russomano (PRB)

» Parlamentar conhecido pela defesa dos direitos do consumidor, tem mais tempo para se apresentar nas reportagens que faz do que no horário eleitoral gratuito, já que o tempo de televisão de seu partido é um dos menores e as chances de conseguir coligações são ínfimas.

Gabriel Chalita (PMDB)

» Professor, famoso pela venda de livros e CDs de autoajuda, conta com a estrutura da TV Canção Nova, que é forte no interior, mas insignificante na capital. O PMDB paulistano também não ajuda a torná-lo conhecido pelo eleitorado.

Soninha Francine (PPS)

» Ex-VJ e comentarista de futebol em canais de televisão pagos, Soninha é ligada a Serra e muitos duvidam que manterá a candidatura. Se mantiver, tende a não conseguir votos entre os conservadores, pois, no passado, admitiu já ter fumado maconha.

Netinho de Paula (PCdoB)

» Ex-pagodeiro e vereador paulistano, já perdeu pontos em disputas eleitorais anteriores por conta de acusações de violências contra mulheres, um assunto que sempre pesa na opinião pública.