Título: Dia de definição no PSDB
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 25/03/2012, Política, p. 6

O PSDB que vai às urnas hoje e que deve escolher José Serra como seu candidato à prefeitura de São Paulo vive um momento diferente de dois meses atrás, quando a militância tucana olhava a disputa municipal de outubro sem perspectivas de vitória. De lá para cá, além da entrada de Serra no páreo — algo inimaginável em 25 de janeiro, dia do aniversário da cidade —, os tucanos comemoram o congelamento da candidatura de Fernando Haddad (PT), que não avança além dos 3% nas pesquisas de opinião, e examinam com cautela a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha. "Sem ele, Haddad deve estar sem dormir direito", disse um aliado de Serra.

Mesmo assim, a caminhada de Serra não deve ser fácil. Embora se espere uma vitória com folga, dentro do próprio partido ele teve que responder às dúvidas se, pelo menos dessa vez, cumprirá o mandato até o fim, caso seja eleito. No início da semana passada, o ex-prefeito reconheceu que "assinou um papelzinho" em 2004 comprometendo-se a concluir os quatro anos na Prefeitura caso fosse eleito. Ficou menos de um ano e meio e foi concorrer ao governo de São Paulo.

Essa postura recebeu duras críticas dos adversários nas prévias de domingo — o deputado Ricardo Tripoli e o secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal — e dos demais oponentes, como o petista Fernando Haddad, o peemedebista Gabriel Chalita e o candidato do PRB, Celso Russomanno.

A postura arrogante do provável pré-candidato também é criticada por seus correligionários. Serra, por exemplo, não participou de nenhum debate com Tripoli ou Aníbal. Quando ainda não estava na disputa, os dois primeiros concordaram em debater suas propostas com os ainda pré-candidatos Andrea Matarazzo (secretário de Cultura de São Paulo) e Bruno Covas (secretário de Meio Ambiente. Serra rejeitou todos os convites. "Eu pedi pessoalmente ao Diretório Municipal que fizéssemos um debate. Ninguém aceitou. Não posso fazer nada", lamentou Tripoli.

Candidato com mais condições de enfrentar Serra, José Aníbal acredita que o grande mérito da realização das prévias é a "revitalização do partido na capital paulista". O próprio Aníbal já havia sido atropelado em 2004, quando inscreveu o próprio nome nas prévias para a Prefeitura de São Paulo, mas o partido, de forma unilateral, cancelou a disputa para indicar que José Serra seria o candidato. "Eu ainda acho que serei vencedor. Mas a certeza que eu tenho é de que, a partir deste domingo, todos estarão unidos em torno do candidato que vencer as prévias", prometeu Aníbal.

Astral

A entrada de Serra na disputa já teve o mérito de levantar o astral da militância tucana não apenas em São Paulo, mas no país. "Os nossos filiados estavam cabisbaixos, vendo os petistas desfilarem seu projeto de poder eterno", disse o deputado Walter Feldmann (PSDB-SP). "Agora, eles estão vendo a cena política mudar. Serra encarna, neste momento, o perfil de oposição ao governo federal", completou Feldmann.

As prévias tucanas também vão acontecer em um momento de incertezas para o PT. O pré-candidato Fernando Haddad não decola, mantendo-se estável nos 3% de intenção de voto. O partido tem dificuldades em buscar alianças e o ex-presidente Lula deve conversar esta semana com o presidente nacional do PSB, governador Eduardo Campos (PE), para tentar atrair a legenda a uma aliança com o PT. Outro aliado preferencial, o PR, tende a engrossar o discurso diante do impasse no plano federal. "As chances do partido se coligar com o PT nos estados é reduzida", admitiu o presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM).