O globo, n. 30902, 16/03/2018. País, p. 4​

 

Líder do governo no Congresso é investigado por compra de votos

Daniel Gullino

16/03/2018

 

 

Ministra do STF autorizou abertura de inquérito contra André Moura

A decisão de Rosa Weber foi baseada em gravações de conversas de supostos cabos eleitorais e atendeu pedido da PGR

-BRASÍLIA- A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de um inquérito contra o líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), e contra o senador Eduardo Amorim (PSDB-SE). Os dois são suspeitos de comprar votos durante as eleições de 2014.

Rosa Weber também autorizou a quebra do sigilo bancário das contas utilizadas pelas campanhas de André Moura e Eduardo Amorim, pelo período entre setembro e novembro de 2014.

A decisão atendeu a um pedido apresentado pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e foi baseada em gravações de conversas de supostos cabos eleitorais dos dois políticos.

“A petição coleciona diversos diálogos interceptados que aparentam tratar de negociação espúria para compra de votos de eleitores na cidade de Carira/ SE”, escreveu a ministra do STF.

OUTRA INVESTIGAÇÃO

Essas gravações foram feitas em outra investigação, que apura exploração sexual de vulnerável e fornecimento de bebida alcoólica a menor. Rosa Weber fez questão de ressaltar, contudo, que André Moura e Eduardo Amorim não são investigados por esses dois crimes.

“Necessário, de plano, salientar que os parlamentares federais em questão não possuem vinculação com as investigações dos crimes acima referidos (exploração sexual de vulneráveis e fornecimento de bebidas alcoólicas para menores), porém, no decorrer da investigação mencionada, através de diálogos captados em interceptação telefônica autorizada judicialmente, surgiu a suspeita de envolvimento dos parlamentares em possível crime de corrupção eleitoral”, destacou Rosa Weber.

Em nota, a assessoria de André Moura afirmou que não cabe ao deputado “responder por atos isolados ou conversas praticadas por outras pessoas”. O texto diz ainda que ele não cometeu ilícitos e que espera “a mais breve conclusão da investigação”.

Também em nota, a assessoria de imprensa de Eduardo Amorim disse que ele “jamais teve qualquer envolvimento ou condenação relacionada à compra de votos” e que “prestará, tão logo seja notificado, os esclarecimentos para que essa investigação tenha um trâmite rápido”.

SITUAÇÃO EM COMUM

Na última terça-feira, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), virou réu e será investigado em uma ação penal no STF por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Jucá se tornou o primeiro com denúncia recebida em decorrência da delação dos executivos da Odebrecht. Ele foi acusado de ter recebido propina da empreiteira no valor de R$ 150 mil, disfarçada de doação eleitoral para o partido em 2014. Em troca, o parlamentar teria apresentado emendas para favorecer a empreiteira.

A denúncia da ProcuradoriaGeral da República foi baseada principalmente na delação do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho.

Já o líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), foi denunciado por suposto envolvimento na organização criminosa que desviou dinheiro da Petrobras. O então procurador-geral da República Rodrigo Janot pediu que ele e outros 12 políticos do PP sejam condenados a pagar R$ 1,14 bilhão.