O globo, n. 30935, 18/04/2018. País, p. 4

 

Marina: adversários disputavam organização criminosa em 2014

Dimitrius Dantas

18/04/2018

 

 

Ex-senadora, que apoiou Aécio no segundo turno, critica corrupção

-SÃO PAULO- Embora não tenha citado os nomes do tucano Aécio Neves e da petista Dilma Rousseff, a pré-candidata da Rede Sustentabilidade à Presidência, Marina Silva, disse ontem que seus adversários na última eleição não estavam disputando o cargo, mas uma “organização criminosa”. Em discurso no qual destacou de forma genérica o envolvimento de políticos em escândalos de corrupção, Marina subiu o tom normalmente ameno de suas falas e afirmou que, este ano, alguns de seus exadversários estão em busca de um habeas corpus.

— Todos nós aprendemos que boa parte daqueles que estavam disputando a eleição (em 2014) não estavam disputando a Presidência, mas o controle de uma organização criminosa. Fazer uma disputa imaginando que estávamos discutindo ideias e propostas criou um problema. É um aprendizado meu, de saber que tem muita gente disputando uma espécie de salvo conduto, quase um habeas corpus — disse a pré-candidata, que participou de uma conferência com clientes do Banco Santander, em São Paulo, antes de falar com a imprensa.

HERDEIRA DE VOTOS DE LULA

A pesquisa Datafolha do último fim de semana indica que a candidata da Rede é quem mais se beneficia com o expresidente Lula fora da eleição. Ela cresce em alguns segmentos de eleitores clássicos do PT, como mais pobres, menos escolarizados e do Nordeste.

A presidenciável não foi atingida pelas denúncias da Operação Lava-Jato, mas teve seu nome associado politicamente a dois personagens sobre os quais pesaram suspeitas.

Um deles, o próprio Aécio, a quem apoiou no segundo turno das eleições presidenciais de 2014. O outro foi o ex-governador Eduardo Campos, morto naquele ano. Segundo as investigações, Campos teria sido beneficiado por propina da Odebrecht em obras portuárias em Pernambuco.

A ex-ministra defendeu a importância do fim do foro privilegiado, que deverá ser votado no início de maio no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ela, mais de 200 parlamentares são investigados, além daqueles que, de acordo com ela, se escondem às claras no Palácio do Planalto.

Marina foi a terceira colocada nas eleições de 2014, atrás de Dilma Rousseff e Aécio Neves após chegar a disputar a liderança e perder votos na reta final. Apesar disso, a pré-candidata da Rede afirmou que permanecerá com a mesma estratégia de abrir mão de alianças em troca de recursos financeiros e tempos de TV. A ambientalista disse que fará uma campanha “franciscana”, usando voos de carreira na madrugada para economizar.

— Chamei minhas amigas para fazer um brechó para renovar meu guarda-roupa — brincou.

Apesar da falta de estrutura que coloca dúvidas sobre sua competitividade, Marina aparece na segunda colocação nos cenários pesquisados no último levantamento do Datafolha, empatada tecnicamente com o deputado federal Jair Bolsonaro, do PSL.

Auxiliares de Marina permanecem irritados com a estratégia de desconstrução da imagem da pré-candidata feita pelo PT durante as eleições de 2014. Além de apoiar Aécio no segundo turno, Marina, dois anos depois, foi favorável ao impeachment de Dilma Rousseff. Apesar de ganhar parte dos votos de Lula, de acordo com o Datafolha, Marina afirmou que não irá focar sua campanha nos antigos eleitores do ex-presidente.

— Não acredito nessa história de voto do PT, voto do Lula, voto da Marina. Temos que parar com a mania de privatizar o voto — afirmou.

ALIANÇA COM BARBOSA

A pré-candidata também não afastou a especulação de uma possível aliança com o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, do PSB, que surgiu com 10% nas pesquisas.

Segundo ela, apesar de não estar em diálogo diretamente com Barbosa, as conversas não precisam implicar na desistência de um dos dois. Marina diz que o momento é de respeito e diálogo, não apenas com o PSB, partido do ex-ministro, como também com outros partidos para um possível apoio. E usou uma metáfora para falar de sua campanha.

— Nesse momento de trevas políticas, quanto mais estrelas no céu, mais claro pode ficar o caminho — afirmou.

Marina estava acompanhada de três auxiliares, entre eles o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, que deve participar da formulação do seu programa econômico.

Após a palestra para integrantes do mercado financeiro, disse que a reforma da Previdência é necessária, mas se posicionou contra a proposta feita pelo governo Michel Temer.

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‘A lei é para todo mundo’, afirma Alckmin

Maria Lima

18/04/2018

 

 

Pré-candidato do PSDB à Presidência evita defender colega que virou réu

-BRASÍLIA- Com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tornado réu pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e obstrução de Justiça, o pré-candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin, evitou defender o colega de partido e disse que a lei é para todos. O partido definiu como estratégia tratar o caso como um processo “pessoal” do parlamentar mineiro.

— Não existe Justiça amarela, azul, verde ou vermelha. Existe Justiça. E, primeiro, decisão judicial se respeita. E, segundo, a lei é para todo mundo — afirmou Alckmin.

Em um encontro de vereadores realizado ontem em Brasília, Alckmin foi questionado sobre o que faria, se eleito, para combater a corrupção. O pré-candidato respondeu que “quem fica rico na política é ladrão”. Depois, questionado se Aécio se enquadrava nessa sua afirmação, esquivou-se:

— Não vou fazer prejulgamento. Aécio é de família abastada — disse.

TUCANOS TEMEM CONTÁGIO

Com a condição de réu de Aécio, o PSDB tenta evitar que o episódio contamine a campanha presidencial de Alckmin. O temor dos tucanos é que Alckmin perca apoio nas urnas caso seja associado ao aliado. O senador mineiro, além de ter sido o candidato do PSDB à Presidência em 2014, presidiu o partido nos últimos anos e se manteve no comando da sigla até mesmo durante o período mais agudo do escândalo da delação da J&F, que o atingiu em cheio.

Já referendando a estratégia definida de separar a candidatura de Alckmin da situação judicial de Aécio, senadores do PSDB adotaram o discurso de que a situação do colega é de caráter “pessoal”.

— Esse é um assunto privado do senador Aécio Neves e nada tem a ver com o partido. Temos que separar o público do privado. O julgamento nos deixa numa situação de dificuldade dada à relação pessoal que temos com ele. Não é nada relacionado à sua atividade legislativa, como senador. Cabe à Justiça examinar — disse, antes do julgamento, o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), candidato ao governo do Maranhão, que acertou a ida de Alckmin a São Luís no próximo dia 5 de maio para o primeiro evento da précampanha no Nordeste.

— Será um julgamento fora do partido. É um problema pessoal do senador Aécio, que está tendo toda a liberdade para se defender — completou, no mesmo tom, o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), que será o candidato tucano ao governo do Tocantins.

Apesar da estratégia, não há no PSDB qualquer movimentação para uma medida mais drástica, como a suspensão ou afastamento do senador mineiro até a conclusão do processo. Mas, nas entrelinhas, o sentimento é que Aécio deve tomar a decisão de não disputar as eleições, para não atrapalhar as candidaturas de Alckmin e do senador Antonio Anastasia, que vai disputar o governo de Minas Gerais.

— Cabe ao Aécio definir o que vai fazer — disse o tucano Alckmin