O Estado de São Paulo, n. 45425, 01/03/2018. Política, p. A4.
PF mantém prioridade da Lava Jato, diz ministro
Fabio Serapião, Tânia Monteiro e Anne Warth
01/03/2018
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou ontem que, mesmo com a transferência da Polícia Federal para a pasta recém-criada, a prioridade da instituição continuará a ser o combate à corrupção e a Operação Lava Jato. Em entrevista para apresentar seu plano no novo cargo, Jungmann disse que pretende destinar mais 20 delegados à área de combate à corrupção.
“A Lava Jato terá todo nosso apoio. E, no âmbito da Polícia Federal, a operação continuará sendo prioridade. E é importante que assim seja pela importância dela em termos de resultado”, afirmou o ministro.
Na PF, havia o temor de que a saída da instituição do Ministério da Justiça poderia também resultar numa mudança de foco, o que foi negado por Jungmann. “A orientação dada ao novo diretor-geral da PF é combater o crime e a corrupção”, afirmou o ministro em relação a Rogério Galloro, anunciado anteontem como substituto de Fernando Segovia no comando da corporação. Ontem, o novo diretor-geral definiu sua equipe (mais informações nesta página).
As declarações de Jungmann também tiveram como objetivo afastar desconfianças sobre influência política na PF surgidas na gestão de Segovia. A atuação do agora ex-diretor criou embaraços ao governo, como no episódio em que adiantou um possível arquivamento do inquérito que investiga o presidente Michel Temer e a edição do chamado Decreto dos Portos.
A avaliação no Planalto era de que, ao desacreditar investigações que envolvem o presidente, Segovia acabou por criar um “efeito bumerangue”, aumentando o desgaste de Temer.
Ao falar sobre a mudança na PF, Jungmann disse que não faria julgamento sobre a gestão do ex-diretor e classificou a escolha de Galloro como resultado de sua relação pessoal com ele. “Conheço Galloro há bastante tempo. Foi companheiro quando fizemos eventos internacionais, na Olimpíada passamos quase 60 dias juntos.”
‘Ajustamento’. Em entrevista à rádio Jovem Pan, Temer também falou ontem sobre a troca na PF e disse que a escolha de Galloro para a direção do órgão foi “meramente profissional”. Segundo ele, não houve qualquer motivação política na troca, que foi “ajustada” pelo ministro da Segurança Pública.
“Não houve exatamente uma dispensa, houve um ajustamento, de modo que o Segovia vai acabar indo para Roma (mais informações nesta página). Foi uma coisa ajustada pelo novo ministro, que deve ter realmente a sua equipe”, disse Temer, confirmando que deu aval para a saída do delegado. “Ele fez um trabalho muito correto e adequado.”
Segundo Jungmann, o governo já autorizou a abertura de concursos para reforçar os quadros da PF e vai destinar mais 20 delegados para a área de corrupção. “Sobre a necessidade e urgência de reforçar recursos humanos, especialmente na Polícia Federal e na Polícia Rodoviária Federal, estamos autorizados a fazer concursos, com 500 novos agentes para a Polícia Federal e 500 novos agentes na Polícia Rodoviária Federal”, disse. “São ações emergenciais e que serão sequenciadas continuamente”, afirmou. Segundo ele, metas nacionais serão definidas nos próximos meses.
Delegados ouvidos pelo Estado disseram acreditar que a defasagem no número de policiais na corporação deve impedir que o combate à corrupção tenha a mesma prioridade que outras áreas, como o policiamento de fronteiras, também anunciado pelo novo ministro da Segurança Pública como um dos focos do trabalho.
“O combate à corrupção e à criminalidade não são excludentes. São prioridades, ambos são essenciais para a garantia e a manutenção da ordem”, afirmou Jungmann. / COLABORARAM DANIEL WETERMAN E MARCELO OSAKABE
“Orientação'
“A Lava Jato terá todo nosso apoio. E, no âmbito da PF, continuará sendo prioridade. E é importante que assim seja pela importância dela em termos de resultado (...) A orientação dada ao novo diretor-geral é combater o crime e a corrupção.”
Raul Jungmann
MINISTRO DA SEGURANÇA PÚBLICA
“Houve um ajustamento, de modo que o Segovia vai acabar indo para Roma. Foi uma coisa ajustada pelo novo ministro, que deve ter realmente a sua equipe.”
Michel Temer
PRESIDENTE DA REPÚBLICA