O Estado de São Paulo, n.45440 , 16/03/2018. POLÍTICA, p.A6

Líder do governo é investigado por compra de votos

Luiz Vassallo

Amanda Pupo

 

 

Grampos da polícia flagram conversas suspeitas de auxiliares do deputado André Moura durante a campanha de 2014 em Sergipe

 

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de inquérito e a quebra de sigilo bancário das campanhas eleitorais de 2014 do líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), e do senador Eduardo Amorim (PSDB-SE). Ambos são investigados na Corte por suspeita de compra de votos nas eleições daquele ano.

A quebra de sigilo compreende o período entre os meses de setembro e novembro de 2014. As decisões da ministra do Supremo são do início do mês de março, mas foram tornadas públicas ontem e antecipadas pelo portal estadao.com.br.

Moura, Amorim e o deputado estadual de Sergipe Luciano Pimentel (PSB), cujo caso foi remetido à Justiça Eleitoral do Estado, passaram a ser alvo de inquérito após interceptações telefônicas, feitas pela Polícia Civil com autorização da Justiça Federal de Sergipe, flagrarem supostas tratativas de compra de votos entre correligionários dos políticos e eleitores de cidades do sertão sergipano. Os três negam irregularidades.

As investigações sobre os parlamentares tiveram origem em um inquérito policial que apurava supostos crimes de pedofilia e prostituição infantil em um bar na região de Itabaiana, no interior do Estado. A partir da quebra de sigilo telefônico, a polícia constatou que os investigados também agiam em outras duas cidades, Carira e Nossa Senhora das Dores, supostamente para a compra de votos em favor dos então candidatos a deputado estadual, a deputado federal e a senador.

“Os alvos serviam como ‘intermediários’ dos candidatos, recebiam dinheiro, via entrega pessoal ou via conta bancária, sacavam, amealhavam eleitores na cidade de Nossa Senhora de Dores/SE e nos seus povoados, faziam lista de controle com nomes e valores pagos, quantia entregue juntamente com santinhos contendo a numeração do candidato ao governo, a deputado federal e a deputado estadual, mediante o compromisso de voto nos candidatos ‘sugeridos’”, afirma relatório da Polícia Civil.

Carira, no sertão de Sergipe, tem pouco mais de 21 mil habitantes e está no 47.º lugar no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano do Estado. Sergipe tem 75 municípios. No Brasil, o município está em 4.391.º de um total de 5.565 cidades, conforme o Censo de 2010. Já Nossa Senhora das Dores, de 26 mil habitantes, é o 37.º IDH de Sergipe e 4.196.º do Brasil.

 

‘Tody’. Em uma das conversas gravadas, uma das investigadas, Amanda Mara Souza Chagas, que chegou a ser candidata a vereador por Carira, foi gravada, em meio à campanha eleitoral de 2014, em conversa com outro investigado, José Robson Porto Filho, identificado na interceptação como “Robson”.

Os investigadores afirmam que, no diálogo, Amanda Mara diz aguardar dinheiro, chamado por ela de “Tody”, para a compra de votos. “Robson liga para Amanda e pergunta como estão os votos. Amanda responde não gostar de ‘trabalhar sem o Toddy’ (gíria que designa dinheiro). Robson diz que irá chegar (referindo-se ao dinheiro). Amanda complementa dizendo que ‘só não sabe de quem vem’. Amanda acha que eles (Luciano Pimentel, André Moura e Eduardo Amorim) não vão gastar, por estarem vendo as pesquisas. Robson diz que não, pois quem está ‘no fogo é pra se queimar’”, consta no relatório.

 

Cargos. Em outra suposta tratativa interceptada, a polícia flagrou o que seria uma negociação por cargos comissionados em troca da arrecadação de votos. “A partir do primeiro minuto de áudio Amanda pergunta a Gabriel se o candidato Luciano Pimentel gostou ‘dela’ (Amanda). Gabriel responde positivamente. Amanda diz querer um ‘CC’ (cargo em comissão) de Luciano Pimentel. Gabriel diz a Amanda querer falar em particular com ela, para poderem fazer a ‘Lista’ (de eleitores que receberão dinheiro em troca de votos).”

 

PARA LEMBRAR

Políticos já têm pendências

O deputado André Moura (PSC-SE) é investigado no Supremo Tribunal Federal em outros inquéritos e ações penais, em casos que vão desde supostas irregularidades em sua gestão quando foi prefeito de Pirambu (1997-2004) a irregularidades na campanha eleitoral. O deputado chegou a ser investigado por suposta participação em um homicídio, mas o inquérito foi arquivado pelo Supremo. O senador Eduardo Amorim (PSDB) é investigado por integrar um grupo de políticos que teria recebido repasses de R$ 600 mil não contabilizados da Odebrecht na campanha de 2014. No sistema do Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, seu codinome era “Branquinho”.