O Estado de São Paulo, n. 45479, 24/04/2018. Política, p. A6.

 

PT pode ficar 'à vontade', afirma Lula

Julia Lindner e Ricardo Galhardo

24/04/2018

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, escreveu uma carta ao PT na qual afirma que o partido pode ficar “à vontade para tomar qualquer decisão” sobre a eleição deste ano. No texto enviado à presidente nacional da sigla, senadora Gleisi Hoffmann (PR), Lula também afirmou que quer a sua liberdade e que ficou feliz com o resultado da mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada, na qual aparece com até 31% das intenções de voto em um dos três cenários em que seu nome foi testado.

A mensagem foi lida ontem por Gleisi no Diretório Nacional da legenda, que foi transferido para Curitiba após o encarceramento do ex-presidente na Superintendência da Polícia Federal – Lula está preso desde o dia 7. “(Queria que vocês) ficassem totalmente à vontade para tomar qualquer decisão. O ano de 2018 é muito importante para o PT, para a esquerda, para a democracia e, para mim, eu quero a minha liberdade”, leu a senadora e presidente da sigla.

No mesmo diretório, no entanto, a resolução aprovada pelo PT formalizou a candidatura de Lula à Presidência e decidiu dar início à pré-campanha eleitoral mesmo com o petista preso. Entre as providências aprovadas pela cúpula do partido estão “convocar para 28 de julho o Encontro Nacional do PT que indicará formalmente Lula candidato a presidente; registrar a candidatura na Justiça Eleitoral em 15 de agosto, conforme determina a legislação; apresentar ao País, nas próximas semanas, as diretrizes do programa de governo Lula”.

Na carta, Lula escreveu que existem insinuações de que, se ele não for candidato à Presidência e ficar “longe dos holofotes”, seria mais fácil assegurar uma decisão favorável a ele no Supremo Tribunal Federal (mais informações nesta página). “Querida Gleisi, a Suprema Corte não tem que me absolver porque sou candidato, porque vou ficar bonzinho, ela tem que votar porque sou inocente e também para recuperar o papel constitucional que é ser garantia do comportamento da Constituição”, seguiu Lula.

 

Pesquisa. O petista, porém, terminou o texto lembrando seu desempenho na pesquisa de intenção de voto realizada após sua prisão. “Fiquei feliz com a pesquisa (Datafolha) e preciso discutir com os nossos para ver como fortalecer a ideia da prova. Vou conversar com advogados para falarem com você. A luta continua. Até a vitória final. Beijos do seu amigo e companheiro Lula”, despediu-se o ex-presidente no texto endereçado a Gleisi.

A carta não foi divulgada na íntegra, mas um vídeo com parte da leitura do documento foi divulgado na página do ex-ministro Alexandre Padilha (PT) no Facebook.

Os petistas querem iniciar a pré-campanha de Lula com ações de comunicação nas ruas, nas redes sociais e na imprensa. A ideia é articular a pré-campanha com o lançamento das chapas estaduais para governador, senadores e deputados.

Por outro lado, o PT também decidiu reforçar os laços com os demais partidos de esquerda por meio da Frente Nacional em Defesa da Democracia, dos Direitos e da Soberania, que inclui PSOL, PDT, PSB e PCdoB, além de movimentos sociais e figuras do meio artístico e intelectual, com o objetivo de se contrapor ao avanço da extrema direita e da violência política exemplificada, segundo o PT, pelo assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) e o ataque a tiros à caravana de Lula no Paraná.

Embora a Lei da Ficha Limpa impeça a candidatura de políticos condenados em segunda instância, caso de Lula, caberá à Justiça Eleitoral dar a palavra final sobre a participação ou não do petista na eleição. O PT pretende pedir o registro da candidatura do ex-presidente e levar a disputa judicial até o último recurso possível.

 

Sem acesso

A presidente cassada Dilma Rousseff na sede da PF, em Curitiba; pedido de visita foi negado pela Justiça

 

‘Esquerda’

“O ano de 2018 é muito importante para o PT, para a esquerda, para a democracia e, para mim, eu quero a minha liberdade.”

Luiz Inácio Lula da Silva

EX-PRESIDENTE, EM CARTA AO PT