Correio braziliense, n. 20114, 17/06/2018. Política, p. 2

 

Meio de campo enrolado atrapalha presidenciáveis

Gabriela Vinhal

17/06/2018

 

 

Pré-candidatos ao Palácio do Planalto não conseguem avançar nas negociações por alianças. Integrantes dos partidos mais cobiçados, PSB e PP, apresentam movimentos erráticos até aqui

Brasília – Durante os próximos 30 dias, torcedores brasileiros estarão concentrados na Copa do Mundo da Rússia. O jogo nos bastidores da política, entretanto, deve chegar a 15 de julho, quando termina o torneio, com estratégias mais claras a partir da definição das alianças estaduais. A formação das chapas dos candidatos a governador influencia diretamente na disputa ao Palácio do Planalto. Hoje, em uma referência futebolística, os jogadores de defesa e de meio de campo dos partidos políticos parecem perdidos, com jogo travado.

Há duas situações que levam à espera na formação dessas alianças. De um lado, a insistência do PT em lançar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde 7 de abril, como pré-candidato paralisa todas as negociações no campo da esquerda. Outra razão para o impasse das coligações é a pulverização de candidaturas do centro político, que não chega a um entendimento para definir um alvo para o apoio.

Entre os partidos mais cobiçados para formar alianças estaduais estão o PP e o PSB – que embora não tenham lançado um nome à frente da disputa, apresentam representantes às eleições locais e bancadas concisas no Congresso Nacional. Além dos palanques, está em jogo também o tempo de campanha de televisão, que nestas eleições está reduzido (estabelece-se o tempo de cada candidato baseado no número de deputados federais eleitos em 2014).

Apesar do cenário ainda turvo, lideranças tentam se apressar. A formação das chapas para o pleito deve estar definida entre 20 de julho, quando começam as convenções partidárias, até 5 de agosto. Se as legendas não escolherem um nome no primeiro turno, diretórios estaduais podem ficar livres para firmar acordos próprios, o que poderia enfraquecer os partidos como unidades. Assim, caciques elaboram estratégias para oficializar essas coligações. A dificuldade está em unificar o desejo de todos os estados em prol de um único presidenciável.

Influência Apesar de o PSB apoiar o PT nas eleições desde a década de 1990, este ano deve ser diferente: nos bastidores da legenda há divergência para qual caminho seguir. Acredita-se que sair na corrida com Lula pode manchar a imagem dos pessebistas. Por outro lado, buscar a neutralidade pode enfraquecer a influência política do partido. Já se apoiar Ciro Gomes (PDT) poderia negociar cargos nos estados, interesse comum entre as lideranças.

Com o objetivo de vencer em ao menos 10 estados, a sigla quer ainda começar 2019 com ao menos 35 parlamentares no Congresso. Entre as unidades federativas mais desejadas estão Pernambuco, com Paulo Câmara; Distrito Federal, com Rodrigo Rollemberg; Minas Gerais, com Marcio Lacerda; e São Paulo, com Márcio França. Se o PDT garantir essas alianças estratégicas, o PSB fará campanha para Ciro.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, que se reuniu recentemente com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse à reportagem que as alianças ainda estão em estágio “embrionário”. Afirmou, no entanto, que as afinidades ideológicas com o PSB são “notórias”. Apesar disso, ainda segue dialogando com outros partidos, porque “apoio não se discute, se aceita”

O PP, por sua vez, mantém a estratégia de eleger o maior número de deputados federais. Para isso, se juntou em um bloco com outros partidos de centro, como o DEM e o PRB. O grupo, contudo, ainda está dividido entre apoiar o tucano Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), ou mesmo Ciro Gomes.

Centro-direita

As negociações, segundo um assessor do PP, chegaram a avançar com o PDT, no entanto, recuaram após Ciro declarar que só faria alianças com o partido se conseguisse negociar antes com o PCdoB e com o PSB. “O PP é ligado ao DEM. Por isso, a preferência é o Maia. Mas apoio ao Alckmin ainda não é descartado”, acrescentou. O PRB, por sua vez, tende cada vez mais a formar alianças com Álvaro Dias (Podemos).

Já o deputado Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas de intenção de voto sem Lula na disputa, ensaia, desde o início do ano, uma aproximação com o PR. O pré-candidato chegou a dizer que queria Magno Malta (PR-ES) como seu vice. Entretanto, a sigla do senador não confirmou. No fim de maio, Malta, por sua vez, declarou que, mesmo se o PR não seguir com Bolsonaro, ele deixaria o partido para continuar o apoio integral ao presidenciável.

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Governo espera algum alívio

Rodolfo Costa

17/06/2018

 

 

A Copa do Mundo chegou em boa hora para o governo federal. Com divisões internas no Planalto, o maior evento esportivo de futebol é um alívio à gestão do presidente Michel Temer. Ao mesmo tempo em que tira o foco do Planalto, assegura mais tempo para que os governistas tentem colocar a casa em dia e discutam questões como a política de reajuste de preços dos combustíveis.

O clima no Planalto após a abertura da Copa, na quinta-feira, era de alívio. As enxurradas de comentários nas redes sociais e em páginas da internet sobre o torneio mostrou ao governo que as atenções estão centradas no evento esportivo. Uma situação comemorada nos corredores do edifício localizado no coração de Brasília. Um interlocutor de Temer nega a percepção de alguns de que o governo acabou, mas admite uma atmosfera negativa. “Estávamos convivendo com uma sensação desagradável de ‘cumprir tabela’. Há um vazio grande”, admite.

A Seleção Brasileira estreia hoje na Copa contra a Suíça, e o governo espera por um ótimo resultado, não apenas neste domingo, mas ao longo do torneio. Não por um ufanismo exacerbado de Temer, que pouco acompanhou o torneio até o momento. Mas por um sentimento de que o sucesso dela amenize a pressão. “Se o resultado for ruim, é capaz até de as críticas à Seleção recaírem sobre o governo”, pondera um interlocutor.

O desejo de um sucesso da Seleção e do clima de alívio que a Copa traz é compreensível, avalia Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). “É uma variável abstrata do humor e das perspectivas da nação”, explica. Ele reconhece que as atenções da população ao torneio dão mais tranquilidade para o governo trabalhar, mas alerta que a situação não melhorou. “Apenas o foco e a tensão estão sendo divididos em outros temas. O Planalto terá a oportunidade de procurar acordos para não perder a agenda encaminhada ao Congresso, mas será difícil aprovar alguma coisa até as eleições.”