Correio braziliense, n. 20104, 07/06/2018. Política, p. 6

 

"Presídio cheio é problema de quem cometeu crime"

Jair Bolsonaro

07/06/2018

 

 

Pré-candidato à Presidência da República pelo PSL, o deputado federal Jair Bolsonaro (RJ) defendeu medidas “radicais” para combater o problema da segurança pública no Brasil, criticou o “politicamente correto”, e tornou a falar sobre a flexibilização do uso e porte de arma de fogo pelo cidadão comum. O deputado foi questionado por 48 minutos, sobre os mais diversos assuntos.

Bolsonaro buscou se apresentar como um candidato honesto, que não governa na base do “toma lá dá cá”, ao afirmar ser um dos poucos políticos que não tiveram o voto comprado no Congresso na época do mensalão. Atualmente, o deputado é o pré-candidato em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, nos cenários sem Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Apesar de defender a diminuição do tamanho do Estado e flertar com o liberalismo econômico, Bolsonaro se esquivou de responder sobre a possibilidade de privatizar alguma estatal, como a Petrobras. Sobre política econômica, foi evasivo. Alegou que os projetos serão apresentados em um “momento oportuno”, assim como ainda está aberto para o debate.

O pré-candidato também comentou a greve dos caminhoneiros, criticou a fórmula de cobrança de impostos federais e admitiu que fará uma reforma da Previdência, mas com um texto diferente da atual proposta do Executivo. Confira os principais trechos da entrevista:

 

O país viveu, nos últimos dois anos, a pior recessão da história. O que o senhor vai fazer para tentar resgatar o crescimento econômico?

O que o governo tem que fazer é não atrapalhar quem quer empreender, quem quer investir. O que eu mais tenho tido reclamações é: o governo é o sócio majoritário quando dá lucro; quando dá prejuízo, os caras tiram o corpo fora. O que eles mais pedem é o Estado interferir menos na atividade deles. Diminuir o tamanho do Estado é necessário. Não é zerar as estatais, mas diminuir. Poucas estatais dão lucro, e o que puder jogar para a iniciativa privada tem que jogar. Inclusive eu falo, em vez de nós termos aí um programa renovado O Meu Primeiro Emprego, por que não A Minha Primeira Empresa? Para que cada um sinta o que é ser patrão no Brasil. É difícil ser patrão.

 

Quais estatais o senhor privatizaria?

O nosso programa de governo será apresentado quando minha candidatura for efetivada, em meados de agosto.

 

Mas o senhor não tem nenhuma ideia de qual estatal deve ser privatizada?

A opinião pública está dividida sobre privatizar ou não a Petrobras. Eu tenho a Petrobras como empresa estratégica. Falta botar na mesa quanto nós produzimos aqui dentro, quanto vem de fora. O ICMS é um absurdo e um grande estupro. E digo mais: se eu fosse presidente, não teria havido a questão dos caminhoneiros, porque há dois anos eu os acompanhava pelo Brasil. Agora, o governo não tem dinheiro para mudar, vamos ter que tentar iniciativa privada, se for o caso, investir em outro modal de transporte, que não seja o rodoviário.

 

Qual a principal medida para segurança que o senhor vai tomar?

Olha, nós votamos ainda pouco o Susp, Sistema Único de Segurança Pública. Várias medidas precisam ser tomadas. Hoje em dia, não se tem paz nem dentro de casa, porque você não pode mexer no Estatuto do Desarmamento. Também dá uma baita flexibilizada na questão do porte de arma de fogo. E tratar essa questão com radicalismo. E não vem com essa historinha “Ah, os presídios são cheios, não recuperam ninguém”. É problema de quem cometeu o crime.

 

O Brasil tem uma fronteira permeável e, quando se fala nisso, habitualmente se diz que é preciso aumentar a vigilância eletrônica e a presença das Forças Armadas. Por que a questão da vigilância das fronteiras é habitualmente de força bruta e não de inteligência?

Tem que ter os dois lados, ao meu entender. Tem a portaria de 2010, do Ministério da Justiça, que diz que você não pode dar tiro de advertência. Se alguém com carro suspeito furar uma barreira lá na fronteira, você não pode atirar, tem que deixá-lo ir embora. Você não pode abordar essas pessoas apontando arma para eles. Então, fazem com que aconteça o quê? O agente de segurança recue cada vez mais. A inteligência é importantíssima. Nós temos aqui o Sisfron, do Exército brasileiro. Não vai pra frente por falta de recursos. Se fosse para frente, seria inteligente.

 

A sociedade brasileira vive uma situação de ódio, embate muito além das ideias. O que o senhor pretende fazer para reduzir o ódio, preconceito na sociedade?

Nós temos que ter liberdade total no Brasil, não ficar inventando combater ódio em nome do politicamente correto. Nosso problema não é esse. Temos que deixar o politicamente correto de lado. Essa historinha de ódio quem mais fala em defender são os radicais de esquerda. Nosso problema é saúde, segurança. Chamar você de gordinho, quatro olhos, não tinha problema nenhum. O gordinho dava pancada em você. Hoje, o gordinho virou mariquinha. Exatamente por causa desse tipo de política. Vamos acabar com essa frescura. Não é problema do Brasil.

 

O senhor vai fazer uma reforma da Previdência?

Eu estava no Piauí quando foi anunciada a reforma. Eu falei que não ia passar. Não é o que (Michel) Temer, o que (Henrique) Meirelles quer. É o que pode passar nos filtros chamados Câmara e Senado. Como tá, vai quebrar. O grande problema é o serviço público. Se quiser resolver tudo, vai criar um desgaste e não vai resolver. A esquerda foi a que mais torceu pra essa proposta ser votada, porque saberiam que a proposta não seria aprovada. E quem votasse a favor estaria marcado para as eleições futuras. Eu tenho conversado com a equipe econômica, a ideia é uma nova Previdência, mas com algumas mudanças, vamos com calma.

 

O país já está muito atrasado na educação. Os dados indicam que a União é a que menos investe na área. Quais os papéis das entidades federais no financiamento da educação? E como o senhor vê a universidade pública?

O que falta, no meu entender? Tirar de cima e jogar embaixo, começar do zero. Não é deixar de financiar universidade, mas ela consome o maior quinhão da parcela da União aplicada em educação. Temos que aplicar mais na educação básica e no ensino médio. O objetivo da educação é ajudar na economia, formando bons profissionais, e não formando militantes, como as universidades fazem no Brasil.

 

Caso eleito, como vai ser o contato e a negociação com o Congresso? Com 28 anos no Congresso, o senhor aprovou, no máximo, quatro projetos. Isso mostra uma dificuldade clara de negociação?

O último projeto meu foi uma emenda, que é o voto impresso. Mas, tem muitos projetos que nós impedimos que fossem aprovados lá, como a ideologia de gênero. A união nossa contra os péssimos projetos andando pela Câmara. Os péssimos projetos têm que contar pro teu lado. O Centrão acabou de dizer que vai votar comigo se eu for presidente. Eu espero negociar com o Centrão desse jeito, sem o toma lá dá cá. Então, o Centrão aqui deve compor 200 deputados, e já vou contar com o apoio deles lá dentro.

 

Mas, no caso do Centrão, o senhor está contando com um grupo que mais barganhou nos últimos anos, e que fez essa política do toma lá dá cá.

Você tem razão. Inclusive, lá atrás, quando o Joaquim Barbosa leu seu voto no mensalão, ele falou que o único parlamentar que não foi comprado pelo PT foi o Jair Bolsonaro. Eu não participei desse Centrão lá atrás. Se é para fazer a mesma coisa, vai continuar a roubalheira. A corrupção está aí. Temos que botar na mesa o que está acontecendo e tomar as decisões. Nós não temos Fundo Partidário, eu não vou usar R$ 3 milhões, que eu tenho direito de usar, do R$ 1,7 bilhão. Vou continuar fazendo campanha na raça e talvez no crowdfunding, mas, se eu chegar lá, é sinal de que quem votou em mim, votou com o coração e com a razão.

 

Qual é a sua opinião a respeito do Refis?

Vai ter que negociar. Porque o Refis, muita gente tem seu deputado na mão com isso. É uma realidade. Você vai ter que buscar. Quando você faz o Refis, quem pagou fica revoltado. Você está desestimulando o bom pagador. É um problema que é uma cultura que temos no Brasil. Mas, ainda não sei como resolver.

 

Muita gente do mercado fica desconfiada dessa sua aproximação com o liberalismo. Acham, inclusive, que o Paulo Guedes não vai durar muito tempo no seu governo. Como o senhor vê essa desconfiança?

É natural a desconfiança. Eu sou militar, não conto com a simpatia de setores da sociedade. Mas eu sou uma pessoa de palavra, nunca desonrei minha palavra, zelo pela minha honra, falo de ética e nunca desonrei isso aí. A aproximação com o Paulo Guedes foi meio sem querer.

 

E por que o senhor acha que merece ser presidente da República?

Não é porque eu sou bonito não, pode ter certeza disso (risos). Eu quero mostrar que nós, agora do PSL, podemos ser ponto de inflexão na maneira de fazer política, sem o toma lá dá cá, fazer uma política externa sem o viés ideológico, jogar pesado, com radicalismo. Queremos resgatar os valores familiares. Pra mim, a família tradicional é importantíssima. Nada contra a questão LGBT, mas não podemos levar esse tipo de política para dentro da escola. Nós fazemos comércio com o mundo todo, sem viés ideológico.

 

Que tratamento o senhor pretende dar à defasagem da tabela de Imposto de Renda da pessoa física?

O que tenho visto é que não temos Imposto de Renda, temos redutor de renda. Com quem eu converso sobre economia, que me assessora, eles são unânimes: como tal, o Brasil vai quebrar. Eu acho, opinião minha, não tem que ter impostos de grande fortuna, imposto de herança e nem tributar ainda mais essa área. Se depender de mim, ninguém mais vai ser tributado, muito pelo contrário, vamos buscar maneiras de diminuir isso daí, porque do jeito que está, vai quebrar o Brasil.

 

O senhor tem um projeto de reforma tributária?

Tá pronto, mas não vou fornecer, porque isso só na época oportuna.

 

Perfil

Jair Bolsonaro (PSL)

» Jair Messias Bolsonaro

» Formado na Academia Militar das Agulhas Negras.

É militar de reserva do Exército e deputado federal.

» Nascido em 21 de março de 1955, em Campinas (SP).

 

Histórico

» Deputado federal pelo Rio de Janeiro (1991-atualmente)

» Vereador do Rio de Janeiro (1989-1991)